Um novo relatório da ONU conclui que o mundo não está no caminho certo para atingir as metas florestais para acabar e reverter o desmatamento até 2030. O objetivo é fundamental para a meta de 1,5°C do Acordo de Paris
Na Conferência do Clima da ONU, COP27, em Sharm El-Sheikh, no Egito, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu nesta última segunda-feira (7) um pacto entre países ricos e em desenvolvimento para evitar a catástrofe climática; nomes importantes para pauta também discursaram; Al Gore e Mia Mottley destacaram vontade política e investimento em perdas e danos.
Guterres, pediu um pacto histórico entre países ricos e em desenvolvimento para combinar capacidades e orientar o mundo para reduzir as emissões de carbono, transformar sistemas energéticos e evitar a catástrofe climática. Ele esteve na abertura da Cúpula de Implementação Climática, encontro de dois dias que reúne mais de 100 líderes mundiais para a primeira plenária oficial da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP27.
Em sua mensagem, o chefe da ONU afirmou que “a humanidade tem uma escolha: cooperar ou perecer”. Para ele, é necessário estabelecer um “Pacto de Solidariedade Climática ou um Pacto de Suicídio Coletivo”. O pacto proposto teria todos os países somando esforços adicionais para reduzir as emissões, nações mais ricas e instituições financeiras internacionais prestando assistência às economias emergentes, acabando com a dependência de combustíveis fósseis e a construção de usinas de carvão, fornecendo energia sustentável para todos e trabalhando em união para combinar estratégia e capacidades em benefício da humanidade.
Guterres afirmou que as duas maiores economias, Estados Unidos e China, “têm uma responsabilidade particular de unir esforços para tornar este Pacto uma realidade. “Esta é a nossa única esperança de cumprir nossas metas climáticas”, adicionou. O secretário-geral da ONU destacou que em breve o mundo atingirá a marca de oito bilhão de habitantes e esse marco coloca em perspectiva o que é a COP27. Guterres perguntou aos líderes como responderiam a essa geração quando forem perguntados “o que você fez pelo mundo e pelo planeta quando teve a chance?”.
Tributar empresas petrolíferas
O líder das Nações Unidas pediu aos governos que tributem lucros inesperados causados pela pandemia de empresas de combustíveis fósseis e redirecionem o dinheiro para pessoas que lutam com o aumento dos preços de alimentos e energia, assim como para países que sofrem perdas e danos causados pela crise climática.
O dirigente da ONU adicionou que “impactos mortais das mudanças climáticas estão aqui e agora”. Para ele, “perdas e danos não podem mais ser varridos para debaixo do tapete”. Também fez um apelo ao progresso na adaptação e na construção de resiliência às futuras perturbações climáticas, observando que três bilhões e meio de pessoas vivem em países altamente vulneráveis aos impactos climáticos.
O secretário-geral da ONU pediu que os países se unam para a implementação das ações e afirmou que “é hora de solidariedade internacional”. “Solidariedade que respeita todos os direitos humanos e garante um espaço seguro para os defensores do meio ambiente e todos os atores da sociedade contribuírem para nossa resposta climática. Não esqueçamos que a guerra contra a natureza é em si uma violação maciça dos direitos humanos”, ressaltou.
Guterres ressaltou que a luta climática global será vencida ou perdida nesta década crucial e sob a vigilância dos atuais líderes mundiais. “Uma coisa é certa: quem desiste com certeza vai perder. Então, vamos lutar juntos, e vamos vencer. Para os 8 bilhões de membros de nossa família humana, e para as próximas gerações”, concluiu.
Transição para energia renovável
O dirigente disse que o tempo está passando, enquanto o mundo luta para salvar vidas e está perdendo. Ele ressaltou que as emissões de gases de efeito estufa continuam crescendo, as temperaturas globais subindo e o planeta se aproximando rapidamente de pontos de inflexão que tornarão o caos climático irreversível. Guterres sugeriu que seja criado um acordo histórico entre economias desenvolvidas e emergentes. Em sua análise, o que se chamaria Pacto de Solidariedade Climática envolveria um esforço extra para reduzir as emissões ainda nesta década alinhado com a meta de 1,5º C.
A proposta teria países mais ricos e instituições financeiras internacionais fornecendo fundos e auxílio técnico para ajudar as economias emergentes a acelerar a própria transição para energia renovável. Outras medidas seriam acabar com a dependência de combustíveis fósseis e a construção de novas usinas de carvão, além de fornecer energia universal, acessível e sustentável para todos e criar uma estratégia comum combinando economias desenvolvidas e emergentes, suas capacidades e recursos em benefício da humanidade.
Compromissos longe da meta
Um novo relatório da ONU conclui que o mundo não está no caminho certo para atingir as metas florestais para acabar e reverter o desmatamento até 2030. O objetivo é fundamental para a meta de 1,5°C do Acordo de Paris. Para que as metas de 2030 permaneçam dentro do alcance, um marco de uma gigatonelada de reduções de emissões das florestas deve ser alcançado até 2025, e anualmente depois disso. O estudo envolveu o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma e parceiros.
O relatório “Fazendo o bem no Pacto Climático de Glasgow” conclui que os atuais compromissos públicos e privados de investir nas reduções de emissões são apenas 24% da meta do marco. Apenas cerca de metade desses compromissos foram concretizados por meio de acordos de redução de emissões assinados e nenhum dos financiamentos para esses compromissos ainda foi desembolsado.
O documento destaca que um preço de carbono de US$ 30-50 por tonelada de CO2 e para a redução de emissões florestais é necessário para fornecer os incentivos, meios e previsibilidade necessários para que os países invistam na proteção de suas florestas. Tal preço combinaria um preço mínimo financiado por doadores com a demanda do setor privado por reduções de emissões de alta integridade acima desse preço.
A diretora da Divisão de Ecossistemas do Pnuma disse que “não há Acordo de Paris e ODS sem florestas”. Susan Gardner lembra que, como o Relatório de Lacunas de Emissões do Pnuma nos lembrou mais uma vez, a janela está se fechando e é preciso urgentemente aumentar a ação e o financiamento para a mitigação baseada em florestas para atingir o marco e evitar mudanças climáticas catastróficas.