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Debate na Ales sobre aquíferos conclui que falta dados para saber o potencial de água subterrânea no ES

Especialistas concluem que o Espírito Santo desconhece o seu potencial aquífero | Foto: Ales/Canva

O Espírito Santo desconhece o potencial de seus aquíferos. A conclusão nesse sentido ocorreu na Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales) nesta segunda-feira (21), quando ocorreu um debate em celebração ao Dia Mundial da Água 2022. O tema foi “Águas subterrâneas: tornando o invisível visível”. Foi citado que a Agência Estadual de Recursos Hídricos do Espírito Santo (Agerh) garante que o Espírito Santo sofre com a deficiência de informações sobre disponibilidade hídrica dos aquíferos.

Em um estudo científico elaborado em 2012 para a Companhia de Pesquisa em Recursos Minerais (CPRM) do Serviço Geológico do Brasil, uma empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia, os pesquisadores Amilton de Castro Cardoso e Lúcio Anderson Martins, afirmaram que o Espírito Santo é pobre em água subterrânea. Acrescentaram que há má distribuição de aquíferos potenciais. O estudo tinha como objetivo caracterizar o aquífero de alta potencialidade de ocorrência no Estado.

Presente no encontro promovido pela Ales, a Doutora em Geologia e professora da Ufes, Luiza Bricalli destacou que “o principal impacto das águas subterrâneas no ecossistema ocorre na dinâmica do ciclo hidrológico, que é o movimento da água na superfície terrestre e abaixo dela, que circula entre os diversos reservatórios: oceanos, atmosfera e continentes”.

“O movimento cíclico da água – do oceano para a atmosfera pela evaporação – volta para a superfície por meio da chuva e, então, retorna aos oceanos. Parte da água que se precipita nos continentes encharca o subsolo pela infiltração, onde a água penetra nas rochas ou nos solos”, prosseguiu a geóloga.

Ela ainda destacou que o caminho da água entre as rochas gera um processo natural de filtragem e purificação. Naturalmente limpo, esse recurso abastece tanto o campo quanto as cidades, além de alimentar sistemas aquáticos como rios, lagos, mangues e pântanos, tornando-se, assim, fundamental à segurança hídrica. A especialista ainda citouo que dados do livro As águas subterrâneas e sua importância ambiental e socioeconomica para o Brasil       (         https://igc.usp.br/igc_downloads/Hirata%20et%20al%202019%20Agua%20subterranea%20e%20sua%20importancia.pdf      )     apontam que, em 2019, mais de 30 milhões de brasileiros (17,7%) faziam uso das águas subterrâneas.

No debate da Assembleia foi apresentado os três tipos de poços | Imagem Ales/Pase Hidrometria

Falta de informações

Mesmo diante da inegável relevância do recurso, a Agerh garante o Estado sofre com a deficiência de informações sobre disponibilidade hídrica dos aquíferos. Somente quando um poço é perfurado e regularizado perante a agência, é que se obtém informações classificadas como sendo valiosas. Para isso são obtidas amostras e realizados testes de bombeamento. A Agerh explica que, como os aquíferos estão “escondidos”, essa é a análise mais complexa no processo de gestão de recursos hídricos, sendo necessário um robusto estudo para quantificar a água disponível no subsolo.

Além disso, não existe hoje no estado uma rede de monitoramento da qualidade da água subterrânea. No processo de requerimento de outorga de direito de uso de recursos hídricos subterrâneos, é exigido o estudo hidrogeológico do poço – que avalia o potencial para ocorrência e captação de água – acompanhado, para efeito de cadastro, de um laudo laboratorial contemplando os principais parâmetros associados à poluição das águas.

Foi lembrado que usuários de recursos hídricos que realizam captação de água subterrânea no Espírito Santo com vazão de retirada instantânea inferior a 13 litros por segundo (46,8 m³/h) precisam realizar o Cadastro Estadual de Usuários de Águas Subterrâneas para conseguir a Declaração de Uso de Água Subterrânea. O procedimento de cadastro é totalmente digital e gratuito. A Agerh informou que está com uma consulta pública aberta sobre a instrução normativa que institui os procedimentos e critérios para a regulação do uso dos recursos hídricos subterrâneos de domínio do Espírito Santo. Leia a seguir a íntegra do estudo sobre aquíferos no Espírito Santo elaborado pela CPRM do SGB, em arquivo PDF:

AQUIFERO-DE-ALTA-POTENCIALIDADE-NO-ESTADO-DO-ES

Estudo do Serviço Geológico do Brasil

No estudo realizado pelos dois pesquisadores da CPRM do Serviço Geológico do Brasil (SGB) foi apontado que o Espírito Santo tem uma extensão de 45.841,05 quilômetros quadrados e um potencial hidro geológico relativamente baixo. Pelas características Geológicas de seu território, apresenta litotipos que caracterizam basicamente dois tipos de aquíferos. Em 31.492,0 quilômetros quadrados (68,70 %), deste território está representado por Aquífero Fissural, reconhecidamente de baixo potencial, associado com a baixa qualidade destas águas.

“São depósitos restritos com condicionantes locais associadas. Os 14.348,25 quilômetros quadrados (31,30%), restante de sua área está representada por Aquíferos Porosos. Estes apresentam produtividades desde muito baixas a médias. Associados a estes e em sub superfície (não aflorante), ocorre aquífero poroso de elevada potencialidade, na porção Leste – Nordeste do Estado. A sua projeção em superfície representa 3.922,32 quilômetros quadrados (8,56%), da área total do Estado e 27,34 % dos aquíferos porosos.

Estes sedimentos são representantes da Bacia do Espírito Santo sua delimitação e reconhecimento foi através da Aerogeofísica e perfis de poços de petróleo na parte emersa da bacia do Espírito Santo, associados com dados de poços para captação d’água, existentes no Sistema de Informações de Águas Subterrâneas (SIAGAS),

Um estudo rápido feito pela CRPM appontou que o Estado é pobre em aquíferos | Imagem: SGB

Conclusão da CRPM

Na porção Leste – Nordeste do Espírito Santo onde ocorre o Dominio poroso, foi possível caracterizar em sub superfície o Aquífero Rio Doce, Formação do topo do Grupo Espírito Santo, com espessura em torno de 850,00 metros, sendo 650,00 metros saturado com águas de boa qualidade. Este Aquífero ocorre sotoposto aos sedimentos Tercio – Quaternários (O período Quaternário é uma subdivisão do tempo geológico – o Período Quaternário – que abrange os últimos 2,6 milhões de anos até os dias atuais), que apresentam espessuras variáveis, devendo entretanto, ser melhor caracterizada e estudada esta interface.

A sua espacialização foi definida utilizando dados aero geofísicos, que permitiram sua delimitação e contorno, corroborada pelos poços e outros estudos de pesquisa em petróleo existentes na área. A geomorfologia costeira local associada ao capeamento sedimentar e altas pluviosidades na franja litorânea, lhe confere excepcionais condições de armazenamentos. Por estas características, tornam o Aquífero Rio Doce com alto potencial para abastecimentos humano e agroindustrial, e com um manejo adequado, reserva estratégica para um futuro com sustentabilidade, conclui o estudo do Serviço Geológico do Brasil.