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Defensoria ingressa com ação civil pública para implantação de mecanismo estadual de prevenção à tortura no ES

Casos de tortura em presídios no Espírito Santo já ganharam as manchetes da imprensa internacional, como foi essa denuncia feita pelo TJES em 2012, que ocorreu no Centro de Detenção Provisória de Aracruz | Vídeo: YouTube

A Defensoria Pública Estadual, por meio das Coordenações de Direitos Humanos, da Infância e Juventude e Criminal, ingressou com uma ação civil pública, com pedido de liminar, para que o Estado do Espírito Santo instale o Mecanismo Estadual de Prevenção e Erradicação da Tortura (MEPET/ES), com peritos remunerados. Em 2022, a Instituição já havia instaurado um procedimento administrativo sobre o tema, mas não houve retorno, levando à judicialização.

Na ação, a Defensoria argumenta que o Espírito Santo possui um sistema prisional com diversas deficiências estruturais, o que torna fundamental a atuação de um Mecanismo Estadual de Prevenção e Erradicação da Tortura. O órgão trataria não só de atividades pontuais, mas também de demandas permanentes.

O Mecanismo de Prevenção e Combate à Tortura foi criado em 2013, pela Lei 12.847, em âmbito nacional. No mesmo ano, o Espírito Santo publicou a Lei 10.006, normatizando o órgão no Estado. No entanto, até o momento, o MEPET/ES não foi devidamente implantado, pela falta de cargos remunerados para os seus integrantes. Para a Instituição, a ausência do Mecanismo implica dano potencial e efetivo para um número indeterminado de pessoas.

Tortura em presídios no ES causou repercussão internacional

A prática de torturas em presos no Espírito Santo é denunciada periodicamente. O caso de maior repercussão e que ganhou as manchetes da imprensa internacional ocorreu em 17 de fevereiro de 2012, quando a Comissão de Prevenção e Enfrentamento à Tortura do Espírito Santo, vinculada ao Tribunal de Justiça do Estado divulgou um vídeo com cenas de torturas impostas a presos no Centro de Detenção Provisória da cidade de Aracruz.

Naquela ocasião o governador era Renato Casagrande (PSB), o mesmo que foi reeleito nas últimas eleições e ele afastou os três diretores do presídio e quatro agentes penitenciários. Os presos eram obrigados a se despir e levados a uma sala escura. Sob ordens de agentes penitenciários e iluminados por uma lanterna, são forçados a realizar exercícios físicos e forçados a fazer declarações de submissão aos funcionários da Secretaria de Estado da Justiça que atuam na administração penitenciária.  Os algozes xingam e ameaçam os torturados. Um deles soa assim: “Vocês vão ficar aí até atingirem a perfeição desse procedimento.”

Inconstitucionalidade de decreto de Bolsonaro

A Defensoria Pública Estadual lembrou que o Supremo Tribunal Federal, em março de 2022, julgou inconstitucional trechos do Decreto 9.831/19, da Presidência da República, que causou o desaparelhamento do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT). A decisão na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 607, da Procuradoria-Geral da República, determinou o restabelecimento da destinação dos cargos aos peritos, com a respectiva remuneração. De acordo com o Decreto, impugnado pelo Supremo, a atuação no órgão não seria remunerada, tal como previsto na Lei Estadual 10.006.