fbpx
Início > Desaparecimento da cuíca-d’água traz alerta sobre a qualidade e preservação dos rios no ES

Desaparecimento da cuíca-d’água traz alerta sobre a qualidade e preservação dos rios no ES


O Instituto Últimos Refúgios diz que animal semiaquático da espécie “Chironectes minimus” é considerado um bioindicador da qualidade dos rios. A sua presença garante que a água é de boa qualidade. No entanto, a cuica-d’água está desaparecida do ES


Desaparecimento da cuíca-d’água traz alerta sobre a qualidade e preservação dos rios no ES | Foto: Daniel Gois/Instituto Últimos Refúgios

O processo de destruição ambiental que vem ocorrendo ao longo dos últimos anos no Espírito Santo, através de desmatamento agressivo e da poluição dos rios, fez com que a espécie Chironectes minimus, conhecida como cuíca-d’água, chichica-d’água ou até mesmo gambá-d’água, esteja classificada como “criticamente em perigo” e em risco de extinção. Representante da Organização da Sociedade Civil (OSC) Instituto Últimos Refúgios fez recentemente uma palestra na Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales) para ressaltar que a cuida-d’agua “é importante porque é considerado um biomarcador acerca da qualidade e preservação dos rios.”

Em tese, o bichinho tem sua distribuição por todo o território capixaba. “No entanto, atualmente, dificilmente é encontrada. Existem no Estado apenas dois registros depositados em Museu, sendo os dois indivíduos de Santa Teresa da década de 1940. Outros registros foram feitos por Augusto Ruschi em 1978 para a região do Caparaó e Tonini em 2010 para a Reserva Biológica de Duas Bocas, em Cariacica. Porém, são apenas dados visuais”, relata o Instituto em sua página oficial na Internet.

Ambiente aquático

De acordo com os Últimos Refúgios, a cuíca-d’água é totalmente dependente de um ambiente aquático preservado e rico em fauna. Por esse motivo, é comum se dizer: onde tem cuíca-d’água, tem um rio em bom estado de conservação. Pesquisadores apontam que a degradação desses ambientes é um grande fator para o risco de extinção da espécie, e a perda de uma de suas subpopulações seria irreversível.

Em trabalhos já realizados, diversos pesquisadores ressaltam a dificuldade em visualizar e capturar a espécie. Por esse motivo o Instituto Últimos Refúgios pede ajuda da população do Espírito Santo e comunidades próximos a locais preservados para que seja localizado e registrado os indivíduos presentes no Estado.

Habitat e abrigo

O Instituto Últimos Refúgios informa que o ambiente onde a cuíca-d’água tem preferência é o leito do rio que apresenta corrente moderada, com predominante vegetação arbórea e em alguns casos com vegetação arbustiva.”Os abrigos são cavidades nas margens de rios, em pedras ou em meio às raízes e ao solo. Apenas com uma abertura, direcionada diretamente para a água.Esses animais raramente se distanciam dos cursos d’água, pois ali se encontram seus abrigos e alimentos”, informa o Instituto.

A equipe da instituição tem feito buscas com o objetivo de localizar a espécie no Espírito Santo. Essa busca ativa consiste em realizar caminhadas em locais de possível presença dos animais e, por vezes, se manter estacionados à espera. Essas caminhadas acontecem em horários de atividades da espécie, ou seja, durante o período noturno. Para isso são utilizadas lanternas para a localização dessa espécie.

Além da busca ativa, foram  instaladas também câmeras “traps”, que são armadilhas fotográficas amarradas em troncos de árvores, próximas aos rios, onde são capturados os movimentos e registrados os comportamentos natural dos animais. No entanto, até o momento não foi obtido sucesso em encontrar o animal, mas mesmo assim são coletados dados importantes, como condições climáticas e ambientais, além de dados sobre o local. Até mesmo a fase da lua é considerada.

De acordo com os Últimos Refúgios, a cuíca-d’água é totalmente dependente de um ambiente aquático preservado e rico em fauna | Foto: Daniel Gois/Instituto Últimos Refúgios

Presença do animal e a qualidade de recursos hídricos

Na palestra feita na Ales, a bióloga e diretora do Instituto Últimos Refúgios, Caroline Reis, falou sobre a relação entre a presença da cuíca d’água e a qualidade dos recursos hídricos. “A cuíca d’água é o único marsupial semiaquático do mundo inteiro, ele é considerado um bioindicador da qualidade de rios por ele depender completamente (…) desses rios”, explica a bióloga. “Onde tem um rio com boas qualidades, um rio preservado, nós temos cuícas d’água”.

De acordo com ela, o mamífero de pequeno porte – mede até 35 cm, sem contar a cauda – mora, se alimenta e se reproduz no ambiente aquático. O problema é que poucos exemplares foram formalmente registrados desde 1940, quadro que o coloca em ameaça crítica de extinção.

Mas a ausência de um animal com essas características, portanto, levanta dúvidas acerca da preservação e qualidades dos cursos d’água do Espírito Santo. “Será que nossos rios estão em boa qualidade ou não”, indagou a bióloga a uma plateia atenta. O Instituto Últimos Refúgios é uma Organização da Sociedade Civil (OSC) sem fins lucrativos voltada para a preservação da natureza.