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Desmatamento global cai no mundo, mas florestas tropicais continuam ameaçadas, diz ONU


Estudo da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, aponta que taxa de desmatamento caiu 30% nas últimas duas décadas; América do Sul teve principal perda, com 68 milhões de hectares a menos; expansão agrícola e pecuária são as principais causas


Segundo a ONU o desmatamento reduziu no planeta, mas nas florestas tropicais, impulsionado pelo Brasil, a ameaça continua | Foto: Christian Braga/Greenpeace

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, publicou um relatório que mostra que a taxa em que as florestas estão desaparecendo diminuiu quase 30% desde a primeira década do século até o período de 2010-2018. Mas, segundo o estudo, as florestas tropicais ainda estão sob a maior ameaça, seja pela criação de gado na América do Sul ou pela expansão de terras agrícolas, como plantações de dendezeiros na Ásia.

O levantamento da FAO aponta que o desmatamento anual caiu cerca de 29%, passando de 11 milhões de hectares por ano entre 2000 e 2010 para 7,8 milhões de hectares por ano nos oito anos seguintes. Os dados são da Pesquisa Global de Sensoriamento Remoto de Avaliação de Recursos Florestais. As perdas líquidas de área florestal caíram mais da metade durante o período avaliado pela agência da ONU, diminuindo de 6,8 milhões de hectares para 3,1 milhões de hectares anuais em quase duas décadas.

Analisando por região, o maior desmatamento ocorreu na América do Sul, que reduziu suas reservas florestais em 68 milhões de hectares, seguido pela África, com 49 milhões de hectares. Apesar de ser o continente com a maior taxa, o desmatamento de fato diminuiu na América do Sul, como aconteceu no sul e sudeste da Ásia.

Florestas tropicais

Segundo a FAO, a perda de florestas tropicais foi responsável por mais de 90% do desmatamento global de 2000 a 2018, em 157 milhões de hectares. A área é equivalente ao tamanho da Europa Ocidental. No entanto, o desmatamento anual de áreas tropical diminuiu de 10,1 milhões de hectares por ano na primeira década do século para 7 milhões de hectares por ano no período seguinte.

Para a vice-diretora da FAO, Maria Helena Semedo, a pesquisa é importante pelos novos números apurados e por apontar as tendências da área florestal, o que está impulsionando o desmatamento e para monitorar a evolução. Ela adicionou que o desenvolvimento agrícola insustentável e outros usos da terra continuam a exercer forte pressão sobre as florestas, especialmente em países mais pobres. Segundo Semedo, existem soluções que podem ser ampliadas para “alimentar o mundo sem destruir nossas florestas”.

Principal causa

A expansão das terras agrícolas é o principal motor do desmatamento, causando quase 50% do desmatamento global, seguido pela pecuária, responsável por 38,5%. Apenas a exploração de dendê foi responsável por 7% do desmatamento global em dezoito anos. A pesquisa aponta que as regiões tropicais da América Central são as mais ameaçadas pela conversão do uso da terra: 30,3% da floresta na região úmida tropical da América Central e 25,2% da floresta tropical da América Central foram perdidas no período estudado.

De acordo com o estudo da FAO, o ganho de área florestal anual global apresentou um ligeiro aumento, passando de 4,2 milhões de hectares por ano na década de 2000 a 2010 para 4,7 milhões de hectares por ano no período entre 2010 e 2018. A área de floresta plantada aumentou 46 milhões de hectares nas duas décadas estudadas.

Quase um quarto das florestas plantadas neste milênio substituiu as florestas em regeneração natural, com metade dessa área no sul e sudeste da Ásia. O estudo liderado pela FAO é baseado na análise consistente de 400 mil amostras por mais de 800 especialistas locais de 126 países e territórios.

De acordo com o Inpe, o desmatamento disparou no governo Bolsonaro | Gráfico: Inpe

Desmatamento no Brasil aumenta com Bolsonaro

Segundo dados do sistema Deter, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados na última sexta-feira (6), confirmam que o desmatamento na Amazônia segue desenfreado no governo Bolsonaro. Entre os dias 1º e 29 de abril, os alertas apontam para um total de 1.013 quilômetros quadrados de desmatamento, área equivalente a 138.957 campos de futebol padrão Fifa.

O número representa um aumento de 74,6%, na comparação com o mesmo mês de 2021. Até o momento, todos os meses deste ano apresentaram aumentos expressivos. Em abril, os alertas se concentraram nos estados do Amazonas (34,2%), Pará (28,3%) e Mato Grosso (23,8%).

“A fragilização dos órgãos de fiscalização ambiental, não é por acaso, é um projeto perverso que tem como um dos principais resultados, a prescrição de crimes ambientais sem que os criminosos sejam punidos. Com a certeza da impunidade, o que já está ruim tende a piorar caso projetos de leis que visam legalizar a grilagem de terras, flexibilizar o licenciamento ambiental e abrir Terras Indígenas para mineração sejam aprovados na Câmara e no Senado”, afirma o coordenador de Amazônia do Greenpeace Brasil, André Freitas.

Navio com soja brasileira foi alvo de protesto nesta última noite de terça-feira (10) em Amsterdã | Foto: Marten van Dijl/Greenpeace

Navio com soja brasileira é alvo de protesto na Holanda

Na noite desta última terça-feira (10), o Greenpeace Holanda, com apoio de ativistas de toda a Europa e voluntários, bloqueou um mega-navio que chegou ao país carregado de soja do Brasil. O protesto pacífico, que durou pelo menos 12 horas, tem como objetivo alertar os ministros da União Europeia (UE) sobre a urgência de uma nova legislação “anti-desmatamento” mais forte, que proteja diferentes ecossistemas naturais e os direitos humanos, dentre outras demandas.

Lideranças indígenas brasileiras participaram da atividade, levando seu testemunho e protesto pelos impactos socioambientais provocados pela expansão agropecuária sobre seus territórios.

Os ativistas bloquearam os portões, impedindo a passagem do navio Crimson Ace, de 225 metros, que atracaria no porto de Amsterdã, um dos maiores do mundo. A Holanda é a porta de entrada da Europa para commodities agrícolas – como óleo de palma, carne e soja para ração animal – que causam desmatamento em países exportadores da América do Sul, Ásia e África, agravando as mudanças climáticas e a crise da biodiversidade.

“Há um projeto de lei na mesa que pode acabar com a cumplicidade da Europa na destruição da natureza, mas está longe de ser forte o suficiente”, disse Andy Palmen, diretor do Greenpeace Holanda.

Segundo levantamento de diversos pesquisadores, a conversão de regiões de vegetação nativa em áreas para pecuária e plantio de soja e outros grãos são os principais vetores do desmatamento em todo o mundo. E devido ao seu alto consumo, os países da UE são responsáveis por 16% do desmatamento de biomas tropicais ligado a commodities. “Centenas de navios transportando soja para ração animal, carne e óleo de palma chegam aos nossos portos todos os anos. Por meio desse comércio, a Europa compartilha a responsabilidade pelo desmatamento em Bornéu e pelos incêndios no Brasil”, alerta Palmen.

As lideranças indígenas Alberto Terena, membro da coordenação executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e líder do conselho do povo Terena (MS), e Waduwabati Suyá, presidente da Associação Indígena do Povo Kisêdjê, que luta contra a pressão de fazendeiros que cercam a Terra Indígena Wawi (MT), participaram do protesto.

“Fomos expulsos de nossas terras e nossos rios foram poluídos com veneno, para dar espaço à expansão agropecuária. A Europa partilha a responsabilidade pela destruição das nossas casas. Mas a legislação pode ajudar a impedir a destruição futura. Apelamos aos ministros para que aproveitem esta oportunidade não só de estarem olhando para os povos indígenas, mas também para o futuro do planeta. A produção de ração para seus animais industriais, e a carne que chega na Europa não deve mais significar nosso sofrimento”, defende Alberto Terena.

Propostas europeia contra o desmatamento no Brasil

Os ministros dos países membros da UE apresentaram suas primeiras considerações sobre a lei anti-desmatamento durante encontro do Conselho Ambiental do bloco, em 17 de março deste ano. A proposta até então deixava de fora biomas não florestais, como Cerrado e Pantanal, além de conter regras insuficientes para combater violações aos direitos humanos – se limitando a cumprir a lei dos países, que muitas vezes são frágeis e insuficientes. Segundo o Greenpeace, “alguns ministros do bloco vêm tentando enfraquecer a proposta e, assim como o lobby do agronegócio está desmantelando as proteções ambientais no Brasil, lobistas estão invadindo Bruxelas para que possam continuar lucrando com a ameaça à vida humana e à biodiversidade”. Um dos pontos que vêm sendo atacados pelo agronegócio é a exigência de rastreabilidade total dos produtos (ou seja, a obrigação de conhecer sua origem do início ao fim da cadeia e garantir que se cumpra com os critérios da lei).