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Desvio de dinheiro público da saúde e educação para cachês de cantores sertanejos é investigado em 29 cidades


Após a revelação do esquema pela cantora Anitta, já são 29 cidades brasileiras que estão tendo shows de sertanejos bolsonaristas sob investigação. As investigações foram abertas pelos Ministérios Públicos de Minas Gerais, Bahia, Roraima e do Mato Grosso


Após provocação feita pelo sertanejo bolsonarista Zé Neto à cantora Anita, o esquema de desvio de dinheiro público da saúde e da educação, para pagamento de cachês milionários, veio ao conhecimento público | Vídeo: YouTube

Uma briga entre os sertanejos bolsonaristas e a cantora Anitta, que é contrária ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), proporcionou aos Ministérios Públicos estaduais descobrir como funciona o esquema de desvio de dinheiro público municipal destinado à saúde e educação, para os bolsos dos cantores que apoiam Bolsonaro. Neste último domingo (5), o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Humberto Martins, suspendeu, a decisão de um juiz plantonista do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA), que havia liberado a realização dos shows previstos na Festa da Banana, no município de Teolândia e onde haveria um show do cantor bolsonarista Gusttavo Lima.

Em um recente show, o sertanejo bolsonarista Zé Neto contribuiu para as investigações promovidas pelos Ministérios Públicos de vários Estados, ao provocar a cantora Anitta. “Não somos artistas que dependemos da Lei Rouanet. Nosso cachê quem paga é o povo. A gente não precisa fazer tatuagem no tóba para mostrar se a gente está bem ou mal”, disse Zé Neto. A citação à tatuagem no ânus foi interpretada pela cantora Anitta, que não concorda com o governo Bolsonaro, como uma indireta para ela. A partir daí, veio a público como funciona o esquema. Leia a seguir a íntegra da decisão do STJ, emitida neste último domingo (5), em arquivo PDF:

DECISAo-stj

Brecha na lei de licitação pública

Com a decisão do STJ, voltou a valer a suspensão dos shows da Festa da Banana, que haviam sido determinados pelo juiz da Vara Cível de Teolândia (BA), Wenceslau Guimarães, que atendeu a um pedido do Ministério Público da Bahia (MPBA). O MP baiano acionou a justiça após suspeitas de irregularidades nos gastos com a organização do evento, sobretudo com relação ao cachê pago ao cantor de R4 704 mil. O que vem permitindo esses desvios, segundos os MPs é uma brecha na lei em vigor, que permite a contratação por ser uma “inexigibilidade de licitação”.

Segundo o ministro Humberto Martins, o gasto de altos valores para um município de apenas vinte mil habitantes e em situação de emergência declarada justifica a providência tomada inicialmente de suspender a realização do evento. Teolândia sofreu intensamente com as fortes chuvas que assolam o Nordeste. “Cuida-se de gasto deveras alto para um município pequeno, com baixa receita, no qual, como apontado pelo Ministério Público da Bahia, o valor despendido com a organização do evento chega a equivaler a meses de serviços públicos essenciais”, afirmou.

O esquema veio ao conhecimento dos Ministérios Públicos estaduais após revelação feita pela cantora Anitta | Foto: Twitter

Já são 29 cidades investigadas pelos altos cachês a bolsonaristas

O sertanejo bolsonarista Zé Neto, que faz parte de uma dupla com o também bolsonarista Cristiano, não poderia imaginar que ao fazer uma crítica à tatuagem que Anitta fez no ânus há menos de um mês iria explodir o esquema de desvio de verbas municipais da saúde e da educação para os bolsos dos cantores que apoiam Bolsonaro. Já são 29 Prefeituras sendo investigadas pelos Ministérios Públicos Estaduais, por desviarem recursos públicos para os bolsos dos sertanejos bolsonaristas.

Ficou escancarado que quem está pagando os cachês milionários, principalmente de Gusttavo Lima, é o próprio contribuinte, cujo dinheiro está sendo retirado dos serviços essenciais de sua própria cidade. Além de Teolândia (BA), foi detectado desvios no show de Gusttavo Lima de R$ 800 mil no município de São Luiz, no interior de Roraima. De outro show desse mesmo sertanejo em Magé (RJ), por R$ 1 milhão. Um outro cachê para Gusttavo Lima de R$ 1,2 milhão em Conceição do Mato Dentro (MG), além de Bruno & Marrone, Simone & Simaria, Israel & Rodolffo, entre outros artistas do mesmo porte, na 32ª Cavalgada do Jubileu do Senhor Bom Jesus do Matozinhos. Ao todo, essa cidade mineira desviou R$ 2,3 milhões para os bolsonaristas.

Ainda há a investigação do Ministério Público do Rio Grande do Norte, que pediu ao Poder Judiciário para que cancele shows de Wesley Safadão e Xand Avião em Mossoró, que está agendado para ocorrer nas próximas semanas durante uma celebração junina. O dinheiro será pago pela Prefeitura de Mossoró. No Espírito Santo ainda não foi aberta nenhuma apuração no pagamento de shows de cantores bolsonaristas.

O Ministério Público do Mato Grosso abriu investigação em 24 municípios, por desviar recursos para o pagamento de cachês que superam R4 1 milhão pela apresentação de cada sertanejo. São as cidades mato-grossenses de Gaúcha do Norte, Porto Alegre do Norte, Figueirópolis D’Oeste, Sorriso, Nortelândia, Salto do Céu, Alto Taquari, Novo São Joaquim, Nova Mutum, Sapezal, Canarana, Acorizal, Brasnorte, Água Boa, São José do Xingu, Vera, Barra do Garças, Juína, Querência, Bom Jesus do Araguaia, Santa Carmem, Matupá, Nova Canaã do Norte e Novo Horizonte do Norte. Gusttavo Lima é um dos principais investigados.