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Dos três senadores capixabas apenas Contarato foi contra a privatização da Eletrobras

Os senadores bolsonaristas Marcos do Val e Rose de Freitas votaram a favor da privatização e do tarifaço | Foto: Divulgação

Foram 42 votos da privatização e do conseqüente tarifaço no valor da energia, incluindo os votos dos senadores capixabas Marcos do Val e Rose de Freitas e 37 contrários, incluindo o voto do senador Fabiano Contarato (Rede-ES)

Com o voto dos dois senadores bolsonaristas do Espírito Santo, Rose de Freitas (MDB) e Marcos do Val (Podemos), a Medida Provisória (MP) 1031/2021 que privatiza a Eletrobras e que será responsável por um aumento na tarifa acima de 100% para o consumidor foi aprovada no Senado nesta última quinta-feira (17). Dos três senadores do Espírito Santo, apenas Fabiano Contarato (Rede) votou contra a privatização e a favor dos interesses dos consumidores de energia.

“Sou radicalmente contra privatizar a Eletrobras. Esse patrimônio do povo brasileiro é assunto de segurança nacional. A sanha do mercado em capturar e controlar a produção de energia no Brasil vai precarizar esse serviço público essencial. A Medida Provisória é inconstitucional”, disse o senador Fabiano Contarato em suas redes sociais. Os dois senadores bolsonaristas capixabas,Agora o texto retorna à Câmara dos Deputados, já que a MP precisa da aprovação final do Congresso até o dia 22, quando perde a validade.

Dos senadores capixabas apenas Contarato votou contra e ficou do lado dos consumidores de energia | Reprodução: Twitter

Foi 42 a 37

Segundo a Agência Senado os senadores retomaram na manhã desta quinta-feira a discussão sobre a proposta, que havia sido iniciada na quarta-feira (16). Foram cerca de nove horas de debates, no total, com a apresentação de três pareceres diferentes pelo relator, o bolsonarista senador Marcos Rogério (DEM-RO). A disputa se refletiu no resultado final da votação: a MP recebeu 42 votos favoráveis, um a mais do que o mínimo necessário para a aprovação, e 37 contrários.

O modelo de desestatização prevê a emissão de novas ações da Eletrobras, que serão vendidas no mercado sem a participação da União, resultando na perda do controle acionário de voto mantido atualmente por ela. Cada acionista, individualmente, não poderá deter mais de 10% do capital votante da empresa. A União terá uma ação de classe especial (golden share) que lhe garante poder de veto em decisões da assembleia de acionistas.

A MP foi aprovada com dispositivos introduzidos pela Câmara dos Deputados que preveem que o governo federal patrocine, pelos próximos 15 anos, a contratação de usinas termelétricas a gás natural em regiões do interior do país onde hoje não existe esse fornecimento. O senador Marcos Rogério, porém, removeu a regra que tornava esse processo uma condição para o processo de desestatização.

Para o relator bolsonarista, a aprovação dessa medida provisória fortalecerá a Eletrobras e ao mesmo tempo manterá a União como um ator importante na gestão do setor elétrico. Ele afirmou que o modelo atual de controle estatal deixou estagnada a geração de energia, o que poderá ser revertido com a MP.

“A capitalização da Eletrobras devolve a ela o protagonismo no setor elétrico e a capacidade real de investimento para modernização do parque de geração e de transmissão, com foco, sobretudo, na redução do preço da energia”, completou o relator.

O senador Eduardo Braga (MDB-AM), que foi ministro de Minas e Energia, também defendeu a proposta do uso das termelétricas, argumentando que o país é excessivamente dependente de hidrelétricas que vivem dificuldades para manter seus reservatórios, o que levaria a um cenário de desabastecimento ou de tarifas altas. Ele disse que a diferença entre a garantia física das hidrelétricas e a energia que efetivamente geram — o chamado risco hidrológico — hoje é custeada pelo consumidor.

“A carteira de investimento da Eletrobras hoje só tem um projeto: a usina nuclear de Angra dos Reis. Enquanto isso, nós estamos comprando e despachando energia. Os nossos reservatórios estão em crise não é de hoje. A Eletrobras voltou a dar lucro porque o povo brasileiro a indenizou para manter o pagamento do risco hidrológico”, afirmou Braga.

Termelétricas

As termelétricas deverão atender a estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. No relatório final, Marcos Rogério acrescentou também as áreas da região Sudeste hoje atendidas pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e os estados sudestinos que são produtores de gás natural. Em suas últimas mudanças no texto, na manhã desta quinta, o relator também fez várias alterações nas cotas mínimas de energia das termelétricas destinadas a cada região, procurando acomodar os pedidos dos colegas.

Jean Paul Prates (PT-RN), líder da minoria no Senado, criticou essas negociações para construção do texto, que ele chamou de “barganhas” sem embasamento técnico.

Sem estudo

“Nós estamos tratando disso como se fosse uma xepa energética. São megawatts subsidiados, que vão para a conta de luz do cidadão. Não é possível fazer isso sem estudo de impacto tarifário, sem estudo de viabilidade técnica e ambiental. Estamos falando de distorcer o planejamento energético, que é feito de forma decenal; as fontes competem pela tarifa mais baixa. Não podemos fazer a irresponsabilidade de fazer essa quermesse”, disse o senador do PT do Rio Grande do Norte.

Durante o dia, os senadores contrários à MP reiteraram que ela compromete a soberania nacional, ao tirar do controle do Estado a empresa que é a maior produtora e distribuidora de energia do país. Eles também argumentam que os termos do projeto criam “oligopólios setoriais” que vão reduzir a concorrência e encarecer as tarifas de luz. Para os parlamentares que se posicionaram a favor da desestatização, a proposta deve abrir caminho para mais investimentos em infraestrutura energética e para melhor atendimento a regiões remotas do país.