No Espírito Santo surgiu uma novidade para quem pratica o ciclismo, desde aquele mais pobre, que usa uma velha bicicleta para ir trabalhar, ou aquele ciclista rico, que usa bicicletas mais caras do que um automóvel, para praticar esporte. Ciclistas acusam o Governo do Espírito Santo de ter feito discriminação entre as ciclovias da Ponte Florentino Avidos, conhecida como Cinco Pontes, e da Terceira Ponte. Mas, o que é discriminação de ponte?
Tudo começou com o anúncio do Governo do Espírito Santo, que publicou na página 51 do Diário Oficial do Estado, em 29 de janeiro último, o Extrato de Contrato Nº 2024.000005.35101.01, assinado pelo secretário de Estado de Mobilidade e Infraestrutura (Semobi), Fábio Ney Damasceno , onde informa que vai pagar R$ 1.567.599,00 à uma empresa de segurança armada. O objetivo é dar proteção aos ciclistas que usam a ciclovia da Terceira Ponte.
O contrato foi feito com a empresa de pequeno porte Pronort Seguranca Privada Ltda, com o CNPJ : 31.065.164/0001-20, com sede em Guaranta do Norte (MT), escolhida através do Pregão Eletrônico Nº 005/2023, no Processo 2023-R4F3J. Segundo o Ministério da Fazenda, essa empresa foi constituída em 30 de julho de 2018, possui capital social de R$ 250 mil e tem como sócio-administrador Rena Luiz BatisteL.
Perfil distinto de ciclistas nas pontes
A ciclovia da Terceira Ponte custou R$ 127 milhões e o nome adotado pelo Governo estadual de “Ciclovia da Vida” não é a toa. A ciclovia, na verdade, foi construída com a finalidade de ser uma barreira para a prática de suicidios, que era muito comum, mas não divulgado pela imprensa. Como a ciclovia foi um “arranjo”, a engenharia não conseguiu superar a inclinação de 4,5% da ciclovia, o que aumenta a velocidade da bicicleta, que pode chegar a 70 quilômetros por hora na descida no sentido Vitória.Para isso, não é qualquer bicileta velha e sem manutenção que pode usar essa ciclovia.
Com isso, boa parte dos usuários da ciclovia da Terceira Ponte, que inteerliga os bairros da elite capixaba, Praia da Costa (Vila Velha) e Enseada do Suá (Vitória), são proprietários de bicicletas caras, com valor que supera um automóvel. A prática do ciclismo ali, para boa parte dos usuários, é para lazer, bem ao contrário das Cinco Pontes, onde os ciclistas são trabalhadores sem condições de pagar a passagem dos ônibus do sistema Transcol.
A ciclovia da Terceira Ponte já conta com um monitoramento através de cãmeras de seguança, ao contrário da ciclovia das Cinco Pontes, que não tem câmeras. As únicas que existem na entrada e na saíde das Cinco Pontes são câmeras do Cerco Inteligente de Segurança, voltado exclusivamednte para ca\pturar placas de carros. Quem passa na passarela de pedrestres e de ciclistas da velha ponte, fica entregue à ação da marginalidade. As Cinco Pontes ainda tem uma iluminação precária, que aumenta a insegurança.
Assaltos nas Cinco Pontes é uma “rotina normal”, dizem usuários
O roubo de bicicletas nas Cinco Pontes, entre os bairrosda Ilha do Príncipe (Vitória) e São Torquato (Vila Velha) é histórico e comum. São muitos assaltos, tanto a noite quanto durante o dia. Além de biciletas, os marginais roubam a mão armada celulares, relógios, dinheiro, entre outros objetos, de quem ali passa, inclusive dos pedestres.
O frentista Carlos Hudson dos Santos narrou que, para evitar assaltos optou em arriscar a vida e pedalar sua velha bicicleta na pista apertada, onde transita os veículos, mas mesmo assim foi vitima de um assalto. Ele disse que no meio das Cinco Pontes, um ladrão pulou da passarela de pedestres e apontou uma arma. Levou a bicleta, celular e os demais pertences que trazia.
A camelô Rita de Cássia Firmino disse que vem a pé de Argolas, em Vila Velha, para economizar na passagem do Transcol e que já presenciou inúmeros assaltos e roubos de bicicletas nas Cinco Pontes. Ela destacou que não teme mais ser assaltada porque deixou de usar celular e que o dinheiro obtivo com a venda em sua barraquinha é depositado, para evitar andar com valores.
O desempregado José Matos da Silva, disse que não tem dinheiro para pagar o ônibus e que por isso passa frequentemente pelas Cinco Pontes “com muito medo.” Ele contou que já presenciou diversos assaltos a ciclistas. “Os ciclistas são abordados na saída da passarela, que é bloqueada pelos criminosos”, explicou.
Semobi foi procurada, mas evitou dar um posicionamento
Os assaltos e até mortes com ciclistas e pedestres das Cinco Pontes são comuns, devido a falta de segurança. A Secretaria de Estado de Mobilidade e Infraestrutura (Semobi), foi procurada insistemente, por três dias seguidos, desde a última quinta-feira (31), para informar se pretende colocar segurança armada para proteger os ciclistas das Cinco Pontes.
O contato foi feito através da jornalista Karla Secatto, que foi designada pelo Governo do Estado para atender á imprensa e programar as entrevistas. Ela foi procurada através do celular, pelo WhatsApp e pelo telefone fixo da Semobi. Não atendeu às ligações e nem aos recados na secretária eletrônica e no WhatsApp. Também foi deixado recado com a chefe de Gabinete da Semobi, que foram ignorados.
Karla Secatto tomou conhecimento de três perguntas básicas enviadas por e-mail e que não foram respondidas. Foi perguntado:
- 1) Os ciclistas que utilizam as Cinco Pontes também vão ter uma empresa de segurança privada para proteger durante 24 horas?
- 2) Por quê a segurança particular, ao custo anual de R$ 1.567.599,00 para uma ponte e a falta de anúncio semelhante para a outra, onde o risco de o ciclista ser vítima de um crime é muito maior?
- 3) Os ciclistas que utilizam a Terceira Ponte são contemplados com vigilância por câmeras de monitoramento, enquanto nas Cinco Pontes as únicas câmeras existentes na entrada e na saída são voltadas para capturar placas de veículos. A Semobi tem preocupação com a vida dos ciclistas que utilizam as Cinco Pontes?
Caso a Semobi decida se pronunciar, após a repercussão dessa matéria junto à sociedade, está reservado um espaço para uma atualização.