O espetáculo teatral mostra uma ação violenta da Polícia Militar do Espírito Santo (PMES) em 18 de maio de 2011, no primeiro governo de Renato Casagrande (PSB), quando os militares invadiram a comunidade de Nova Esperança, em Aracruz (ES) em uma operação de guerra e foram responsáveis pela morte da cozinheira dona Santa da Silva Peçanha
Segundo o Sesc-ES, “no espetáculo, somos transportados para Nova Esperança, uma cidadezinha à sombra de uma grande fábrica de celulose. Mas poderia ser qualquer distrito do Espírito Santo, vizinho dos portos ou siderúrgicas do Estado”. A peça teatral foi inspirada na vida e morte de Dona Santa, mãe da autora Thalia Peçanha.
“Carambolas tece personagens e fatos reais à ficção, convidando todos a refletirem sobre questões urgentes de justiça social e dignidade humana. Revelando a luta silenciosa das comunidades marginalizadas contra as poderosas forças da ordem e do progresso”, diz o Sesc-ES sobre a divulgação da peça. O espetáculo teatral, está com temporada curta, tendo se iniciado nesta última quarta-feira (4), sendo exibido hoje (5) e nesta sexta-feira (6), quando se encerra. O horário é 20h e o ingresso custa de R$ 10 a R$ 20,00
Como foi a morte de dona Santa
No dia 18 de maio de 2011, as tropas do Batalhão de Choque da PM-ES invadiram a comunidade de Nova Esperança, em Barra do Riacho, Aracruz (ES), numa operação de guerra. No local haviam cerca de 320 residências. Fortemente armados, avançaram contra uma população de 1.600 trabalhadores desarmados, de crianças e idosos. Atiraram bombas de gás lacrimogêneo, tiros de balas de borracha e, avançando com seus tratores, expulsaram a comunidade, não permitindo nem que estes retirassem seus pertences de suas casas antes que os tratores passassem por cima delas.
Uma moradora, dona Santa da Silva Peçanha, cozinheira, com problemas de pressão alta, foi impedida pela polícia de pegar seus remédios, acabou sofrendo um AVC e vindo ao óbito, como resultado da ação truculenta da polícia. A ação foi feita a pedido do então prefeito de Aracruz, Ademar Devens, ao governador daquela época, Renato Casagrande (PSB). A ação violenta contou com a “colaboração” da Prefeitura de Aracruz, para destruir as casas e tudo que havia em seu interior.
Objetivo era usar área para construir imóveis do Minha Casa, Minha Vida
A ação violenta contou com um verdadeiro aparato de guerra através do Batalhão de Missões Especiais (BME), do Grupo de Apoio Operacional (GAO) e de Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (ROTAM), 400 policiais militares, atiradores de elite, helicóptero, cavalaria, bombas de gás, tiros de borracha, gritos de guerra, tratores, ofensas, humilhações e ameaças. Toda essa brutalidade foi utilizada contra a população desarmada, crianças, mulheres, idosos, deficientes, revelando a indiferença e incapacidade política do Governo Estadual, Municipal e do comando da Polícia Militar do Espírito Santo.
A comunidade de Nova Esperança apenas queria um lugar para morar dignamente. Mas, o interesse de retirar com violência as famílias de Nova Esperança era para a construção de moradias para pessoas de baixa renda do programa governamental “Minha Casa, Minha Vida”. A ação truculenta da PMES foi questionada naquela ocasião por causa desse enfoque. Se o objetivo fosse dar moradia para a população carente, nada mais óbvio do regularizar a situação das famílias que já estavam ali.
Na área de 52 000 m², as famílias haviam erguido casas e realizaram, por conta própria, o levantamento topográfico do local. Dentre as mais de 300 famílias cadastradas pela ONG Amigos da Barra do Riacho, algumas foram despejadas de outras casas por não conseguirem arcar com os alugueis, e outras entregaram os imóveis pelo mesmo motivo. Além da ONG, os assentados também contaram com o apoio do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), do Sindicato Unificado da Orla Portuária (Suport-ES), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), dos comerciantes e moradores da Barra do Riacho.
Governo do ES defendeu a brutalidade
Naquela ocasião, o Governo estadual defendeu a ação violenta da Polícia Militar, alegando que a “culpa” era das pessoas que sofreram a truculência, como se tivessem outro lugar para viver e morar. A tragédia levantou a questão do papel da PMES e, em particular, das tropas de choque. Para que existem tropas de choque senão para reprimir os movimentos populares, estudantis e dos trabalhadores?, foram questionamentos feitos naquela ocasião.
Em maio de 2011 o então governantes estaduais chegaram a declarar na imprensa que não se poderiam ter nenhuma ilusão em uma investigação sobre os “possíveis excessos” da polícia. A apuração feita pela própria PM e pelo Governo estadual apenas serviu para legitimar o abuso e deixando o caso morrer no esquecimento.
Serviço:
Cena Local: Espetáculo Carambolas – Algumas verdades em Memória de Dona Santa
Hora: 20h
Local: Virginia Tamanini, Centro Cultural Sesc Glória – 5º ANDAR.
Classifiação: 16 anos
Ingressos:
Usuário: R$20,00
Meia entrada: R$10,00
Conveniado: R$13,00
Comerciante: R$15,00
Comerciário: R$10,00