“Se as emissões dos gases não forem rapidamente reduzidas, chegaremos a 2050 com um risco de aumento de temperatura de 2,5º, um grande risco para o mundo”, diz Carlos Nobre
“Estamos vivendo uma emergência climática”. A afirmação é de Carlos Nobre, um dos cientistas brasileiros mais reconhecidos mundialmente, Ph.D em Meteorologia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). O climatologista veio recentemente ao Espírito Santo para participar do maior evento de sustentabilidade e ESG do país, o Sustentabilidade Brasil, no Pavilhão de Carapina.
Ele ministrou a palestra “O estado atual das mudanças climáticas globais” e foi enfático: “Se as emissões dos gases do efeito estufam não forem rapidamente reduzidas, chegaremos a 2050 com um risco de aumento de temperatura de 2,5º, um grande risco para o mundo”.
Emergência climática
Carlos Nobre traçou um panorama mundial sobre a emergência climática e mostrou evidências dela: indicadores do aumento da temperatura global, do derretimento de geleiras, do aumento da emissão de gases do efeito estufa e do aumento dos níveis dos oceanos.
O cientista citou o relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) que apontou que 2023 foi o ano mais quente já registrado. O climatologista, primeiro brasileiro “guardião planetário”, destacou, ainda, o dado de que 8.266.566 brasileiros vivem em áreas de risco, de acordo com um relatório de 2019 do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
Ondas de calor
Ele também explicou o fenômeno das ondas de calor ao redor do mundo, como a que vem ocorrendo na Arábia Saudita e que já matou mais de mil pessoas. Ele citou como exemplo, ainda, a morte de quase 62 mil pessoas no verão europeu de 2022, além da alta temperatura registrada em Vitória no dia 5 de fevereiro deste ano, 35,6º, com sensação térmica de mais de 40º, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). O cientista também abordou as recentes tragédias climáticas ocorridas no Brasil, as chuvas em Mimoso do Sul, em março deste ano, e no Rio Grande do Sul.
Nobre esteve no Espírito Santo para participar do evento Sustentabilidade Brasil, que foi organizado pelo Consórcio Brasil Verde, tendo como corealizadores o Convention e do sindicato de Empresas de Promoção, Organização e Montagem de Feiras, Congressos e Eventos em Geral do Estado do Espírito Santo.(Sindprom-ES).
Os patrocinadores foram as mineradoras poluidoras Vale, ArcelorMittal, além da Suzano (antiga Aracruz Celulose). Também financiaram o evento o Governo Federal, Caixa, Banestes e Marca Ambiental. Por fim, o cientista conclamou a todos a fazerem a sua parte. “O nosso desafio é deixar um mundo melhor para as futuras gerações. Não dá pra resolver os problemas amanhã. É pra ontem!”, conclui.
Quem é o cientista
Carlos Afonso Nobre é um paulista de 73 anos e um dos fundadores do Instituto de Estudos Climáticos da Ufes (IEC-ES). Ele se formou em Engenharia Eletrônica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) em 1974, antes de seguir para os Estados Unidos para obter seu PhD em Meteorologia pelo MIT. Ao retornar ao Brasil, em 1981, após a conclusão de seu doutorado, começou a trabalhar no Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
Em 1991, Nobre foi nomeado coordenador do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos, onde liderou a criação do modelo de previsão climática sazonal, o qual permite prever com até três meses de antecedência o que pode acontecer com o clima em diferentes regiões do Brasil. Essas ferramentas de modelagem são usadas até hoje para entender e prever os padrões climáticos no país, bem como para tomar decisões importantes em áreas como agricultura, planejamento de infraestrutura e gestão de recursos hídricos.
Possui mais de 186 artigos científicos, 52 capítulos de livros, oito livros publicados como autor ou organizador, 42 textos publicados em jornais ou revistas e 30 orientações de dissertações de mestrado ou de teses de doutorado.
O pesquisador formulou, há 28 anos, a hipótese da “savanização” da Amazônia em resposta a desmatamentos, e vem estudando como o aquecimento global pode influenciar a floresta tropical. Participou de vários relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, sendo um dos autores do Quarto Relatório de Avaliação do Painel, agraciado com o Prêmio Nobel da Paz em 2007.
Recebeu ainda vários outros prêmios e títulos no Brasil, na União Europeia, na Argentina e na Suécia. É membro titular da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Mundial de Ciências e membro estrangeiro da National Academy of Science dos Estados Unidos. Em 2022, foi eleito membro estrangeiro da Royal Society, a Academia Nacional de Ciências do Reino Unido, que é a academia científica mais antiga do mundo em existência contínua.
Antes dele, o único brasileiro a figurar na lista era Dom Pedro II, imperador do Brasil, eleito em 1871 como membro da realeza, e não como cientista. Além de sua destacada atuação científica, o professor Carlos Nobre exerceu funções de gestão e coordenação científicas e de política científica, como presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes); diretor do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais; e secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação.