Os trabalhos realizados por mulheres são os que estão sob ameaça de extinção, o que segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) ” teria impactos negativos para as já altamente desiguais e informais economias na região”
Um estudo recente divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que entre 26% e 38% dos empregos na América Latina, incluindo o Brasil, e Caribe poderão vir a ser influenciados pela inteligência artificial generativa (IAGen). O levantamento foi feito em parceria com o Banco Mundial. Para a proteção dos empregos sob risco, a OIT recomenda aos Governos estabeleçam políticas públicas que visem proteger os trabalhadores.
Para isso é dada a sugestão aos parlamentares e aos governos que promovam programas permanentes de aprendizagem para mitigar as perdas de empregos e aumentar a produtividade. Fortaleçam as competências fundamentais dos trabalhadores, para que usem as novas ferramentas de IAGen no trabalho visando aumentar sua produtividade e criatividade.
Mulheres podem ser as mais prejudicadas
Também é dada a orientação para que seja elevada a proteção social para estabilizar transições e lidar com lacunas de gênero, uma vez que os trabalhos predominantemente realizados por mulheres estão expostos à automação de maneira desproporcional.
“Mulheres que trabalham em áreas urbanas, são mais jovens, não são pobres, atuam em setores formais (principalmente nos setores bancário, de finanças ou administração pública), ou que tenham maior grau de instrução, estão mais expostas à automação pela IAGen.”, diz trecho do documento divulgado pela OIT.
Outra sugestão é que os governantes promovam melhoria da infraestrutura digital e incentive aos trabalhadores e empregadores para que adotem tecnologias digitais que garantam benefícios equitativos proporcionados pela IAGen, especialmente em países em desenvolvimento e para aqueles que mais necessitam de suas vantagens. Ajuda aos trabalhadores do setor informal para melhorarem suas chances de transição para o setor formal., é outra orientação.
“A região da América Latina e do Caribe há tempos enfrenta uma persistente lacuna de produtividade, que em parte tem sido o resultado de barreiras à inovação e à adoção de tecnologias, especialmente quando comparada com outras regiões que diminuíram suas lacunas com economias de renda alta nas últimas décadas. A região é também uma das mais desiguais do mundo, com milhões de trabalhadores em empregos mal remunerados na economia informal”, diz o estudo da OIT.
Desigualdade e prosperidade
“Historicamente, as novas tecnologias têm moldado a evolução da produtividade do trabalho, da desigualdade e da prosperidade em todo o mundo. Entender como a IAGen pode ajudar a remover algumas barreiras ao desenvolvimento econômico é fundamental para a elaboração de políticas públicas”, assinala o documento da OIT em outro trecho. Apesar do cenário futuro traçado pela OIT com o advento da inteligência artificial, a entidade faz o prognóstico de que “é mais provável a IAGen ampliar e transformar os empregos da região do que automatizar por completo. Cerca de 8 a 14% dos empregos podem se tornar mais produtivos ao adotarem a IAGen. Ainda assim, cerca de 2 a 5% dos empregos enfrentam a possibilidade de automação total.”
De acordo com o estudo, mulheres que trabalham em áreas urbanas, são mais jovens, e não são pobres, atuando em setores formais (principalmente nos setores bancário, de finanças ou administração pública), ou que tenham maior grau de instrução, são as mais expostas à automação pela IAGen. “A maioria dos trabalhadores expostos à automação devido à IAGen já usa tecnologias digitais em seus trabalhos, logo, os possíveis efeitos negativos para esse grupo não demorariam a se materializar”, complementa o documento.
Outro lado, empregos que podem se beneficiar
Para a Organização, os possíveis benefícios transformadores da IAGen sobre os empregos são distribuídos mais equitativamente entre os trabalhadores em termos de gênero e idade, mas ainda têm mais possibilidade de afetar os empregos formais em áreas urbanas, onde atuam trabalhadores com mais instrução e maior renda.
Trabalhadores assalariados e autônomos – como cabeleireiros, vendedores, arquitetos e corretores de imóveis – e os que trabalham nas áreas de educação, saúde, ou serviços pessoais têm maior probabilidade de se beneficiar com os efeitos transformadores da IAGen, assegura o estudo.
Muitos trabalhadores que podem se beneficiar da maior produtividade proporcionada pela IAGen geralmente trabalham em setores que não usam tecnologia digital, principalmente nas regiões mais pobres de seus países. A falta de acesso às tecnologias e infraestrutura digitais pode prejudicar cerca de metade dos empregos que poderiam se beneficiar da maior produtividade proporcionada pela IAGen, impedindo que esses trabalhadores usem todo seu potencial. Isso equivale a cerca de 7 milhões de empregos onde atuam mulheres e 10 milhões de empregos onde atuam homens.
Serviço: O estudo da OIT “IA Generativa e os empregos na América Latina e no Caribe”, (em inglês “Buffer or Bottleneck? Employment Exposure to Generative AI and the Digital Divide in Latin America”) pode ser acessado em arquivo PDF, em inglês, neste link.