Uma pesquisa realizada no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGG/Ufes) e finalizada em julho propõe novas classes de clima para o Espírito Santo por meio da associação entre variáveis climatológicas, como a temperatura média do mês mais frio (TMMMF), o número de meses secos e precipitação, e a influência dos sistemas atmosféricos sobre o clima.
O diferencial da tese de doutorado intitulada Classificação climática para o estado do Espírito Santo: da zona climática ao topoclima está no detalhamento dos aspectos climáticos. Autor da pesquisa, o agora doutor em Geografia Wemerson Diascanio Oliveira explica que as antigas classificações climáticas feitas para o estado do Espírito Santo eram mais generalistas, abarcando vários lugares com o mesmo tipo de clima.
Um exemplo é a Serra do Caparaó (na divisa entre os estados de Minas Gerais e Espírito Santo), na qual, antes, era identificado um único clima (o mesmo de Domingos Martins, na região serrana do estado). O trabalho de Oliveira identificou quatro climas diferentes na localidade.
De modo geral, o estudo encontrou dez tipos climáticos e 46 subtipos climáticos diferentes no território capixaba. As classes climáticas tiveram no relevo seu principal fator de diferenciação.
Refinamento
As delimitações das unidades climáticas do estado foram feitas a partir de uma adaptação da metodologia do Sistema de Classificação Climática proposta pelo pesquisador Giuliano Tostes Novais, da Universidade Estadual de Goiás (UEG), que abarca modelos clássicos, mesclando as abordagens empíricas e genéticas. Entretanto, de acordo com Edson Fialho, professor do PPGG e orientador do estudo, diferentemente de Novais, o trabalho de Oliveira avançou até a escala mesoclimática (aquela que abrange pequenas áreas, como bairros).
Segundo Oliveira, quando se compara a proposta do estudo desenvolvido durante seu doutoramento com outras classificações já realizadas para o estado, percebe-se “maior refinamento das características climáticas para cada região do estado capixaba, sendo possível a sua utilização para subsidiar diversas demandas científicas, econômicas e agrícolas”.
Em relação à agricultura, o estudo demonstrou as áreas mais secas e úmidas do estado em escala municipal, observando a diferença entre a precipitação e a evapotranspiração. “Ou seja, alguns lugares até possuem um grande volume de chuvas, mas, devido à grande insolação, necessitam de maiores gastos com irrigação. É o caso dos municípios da Serra, Fundão, Aracruz e Linhares, por exemplo”, explica o pesquisador.
Avanços
De acordo com Edson Fialho, o tema abordado por Wemerson Oliveira não é inédito nos estudos geográficos do clima, tendo sido bastante desenvolvido nas primeiras décadas do século XX. Porém, o professor ressalta que, ao longo do tempo, a classificação climática foi sendo invisibilizada no campo da Geografia: “Com o advento das novas preocupações com mudanças ambientais, potencializadas pelas questões climáticas que são induzidas pelas ações humanas, estes estudos voltaram a ser ressignificados”.
Além disso, o estudo foi viabilizado devido aos avanços tecnológicos ocorridos nos últimos anos, como desenvolvimento de satélites meteorológicos, acesso mais facilitado a bancos de dados e uso de softwares de geoprocessamento, que possibilitaram a compreensão mais detalhada das características climáticas, em especial nos locais em que há pouca cobertura de estações meteorológicas.
A partir da associação dessas informações, o pesquisador delimitou unidades climáticas para o estado em escalas geográficas grandes e aplicou a metodologia no município da Serra para uma pequena área, abrangendo a climatologia do detalhe até a escala topoclimática. “As unidades climáticas delimitadas no estudo demonstram a importância do relevo e da rugosidade da superfície na caracterização climática do estado, sendo até o nível hierárquico do tipo climático o principal fator condicionante do clima”, sintetiza Oliveira.
Texto: Adriana Damasceno