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Estudo da UFES revela: ingestão de plástico descartado no meio ambiente atinge mais de 1.500 espécies

O descaso do ser humano leva mais de 1.500 espécies de animais ao sofrimento | Foto: Robson Santos/UFES

Texto: Sueli de Freitas/UFES

Mais de 1.500 espécies de animais sofrem com a ingestão de plásticos no meio ambiente, seja na água doce, no mar ou na terra. O ambiente marinho acumula a maior quantidade de registros de ingestão de plástico, envolvendo mais de 1.200 espécies, incluindo todas as famílias de aves marinhas e mamíferos marinhos. Os dados estão no artigo Plastic ingestion as an evolutionary trap: Toward a holistic understanding (A ingestão de plástico como uma armadilha evolutiva: em direção a uma compreensão holística), publicado no início de julho na revista Science.

Dois dos autores do artigo são ex-alunos do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas – Biologia Animal (PPGBAN) da Ufes: Ryan Andrades, atualmente fazendo pós-doutorado no Laboratório de Ictiologia da Ufes, e Robson Santos, hoje professor na Universidade Federal de Alagoas. O terceiro autor é Gabriel Machovsky-Capuska, pesquisador das universidades Massey, na Nova Zelândia, e de Sidney, na Austrália. Eles buscaram entender o que leva à ingestão de plástico por animais.

“Além de registrar um elevado número de espécies impactadas pelo plástico, o que por si só já é de extrema preocupação, esse estudo fornece subsídios para uma nova abordagem da questão. Quebrar a ideia de que o animal come plástico porque confunde sacola com água-viva é fundamental para se admitir que o problema é muito maior. A explicação e a resolução são questões mais complexas do que parecem ser. O plástico está presente em todas as teias tróficas na Terra, de ambientes oceânicos até o interior da Floresta Amazônica, no polo sul e no polo norte”, afirma Ryan Andrades.

Fatores de risco

Os pesquisadores levantaram alguns fatores de risco que podem levar à ingestão do plástico. O primeiro é o estado nutricional do animal, pois quanto mais fome ele tem, mais sujeito a ingerir itens diversos ele está. O segundo é a semelhança entre os sinais da presença do alimento e os sinais do plástico, como cor, formato, tamanho e até o cheiro decorrente da composição química do produto. Outro fator está associado ao hábito alimentar do animal. Uma espécie mais generalista na alimentação é mais propensa à ingestão de plásticos do que os chamados animais especialistas. Por fim, a grande disponibilidade de plástico no ambiente também é um fator determinante.

O estudo foi realizado a partir da revisão de literatura sobre o tema. Foram encontrados registros de ingestão de plástico em toda a árvore da vida, desde pequenos invertebrados terrestres a elefantes, e de zooplâncton a baleias e tubarões. Com base na teoria da armadilha evolutiva, os pesquisadores explicam que a ação poluidora do homem provoca uma rápida alteração no ambiente, que passa a ter o plástico em abundância, gerando sinais equivocados para animais que, no processo de evolução, aprenderam a reconhecer alimentos pelo tamanho, pelo formato, pela cor e pelo cheiro.

“Os animais evoluíram milhões de anos num ambiente no qual não havia plástico. O ser humano começa a produzir e descartar o plástico, e rapidamente esse material chega ao meio ambiente emitindo sinais similares aos do alimento. Essa entrada abrupta muda completamente o cenário”, afirma Robson Santos, explicando que a ingestão do plástico é uma resposta comportamental que pode levar à morte do animal.

“Sete vezes mais registros”

Segundo os pesquisadores, a velocidade com que se encontram animais ingerindo plástico tem aumentado rapidamente. “Hoje temos sete vezes mais registros, em ambientes marinhos, do que no primeiro trabalho de revisão publicado em 1997”, afirmam. Na avaliação de Andrades, iniciativas locais para diminuir a poluição por plástico ajudam, mas a resolução do problema somente se dará com alianças e compromissos globais. “O mundo já está atrasado nessa corrida”, afirma ele, defendendo soluções no pré e no pós-consumo do plástico.