Para cumprir a meta climática definida no Acordo de Paris, país precisa reduzir emissões de gases de efeito estufa em 43%
Um estudo realizado pelo Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da Universidade Federal de São Paulo (ICAQF/Unifesp) – Campus Diadema ajudou a compreender o tamanho da interferência da atividade pecuária para o alcance das metas climáticas estipuladas pelo Acordo de Paris. Intitulado Produção de carne bovina e emissão de GEE no Brasil – valoração monetária das emissões e perspectivas para as metas climáticas da NDC, o estudo deve ser veiculado em breve no periódico científico Journal of Cleaner Production, especializado em pesquisas transdisciplinares sobre produção mais limpa.
Firmado em 2015, o Acordo de Paris marca o compromisso de 196 países com o planeta: barrar a elevação de temperatura média global. O objetivo é manter o aquecimento abaixo dos 2ºC, preferencialmente no limite máximo de 1,5ºC. Um dos participantes do pacto mundial é o Brasil, que em sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) se comprometeu a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 43% até 2030. O desafio é enorme, visto que a produção de carne bovina no país tem significativo impacto ambiental.
“Dentre todos os setores da economia brasileira, a pecuária se destaca pela grande produção e alto volume de exportação de carne bovina, atividade sabidamente conhecida também pelos altos impactos ambientais associados, como desmatamento e emissão de GEE. A motivação de nosso estudo foi, justamente, compreender o nível de interferência de toda essa produção no cumprimento das metas climáticas estipuladas pelo nosso país”, explica Mariana Vieira da Costa, autora da pesquisa.
Cálculos e estimativas traçadas
O estudo considerou algumas etapas. A primeira envolveu uma previsão das emissões do gado de corte para 2030 a partir da projeção Business As Usual (BAU) de produção. Na sequência, o foco foi identificar a emissão máxima necessária do gado de corte para que a emissão total brasileira se limite a 1,6 bilhão de toneladas de gás carbônico equivalente (GtCO2e). Por fim, o estudo estimou a produção máxima de carne bovina para que a NDC seja cumprida, bem como o impacto no mercado interno. Para complementar as análises com uma visão econômica, foi utilizado o custo social do carbono (CSC) para valorar as emissões do gado de corte.
“Ao valorarmos as emissões de GEE por meio do CSC, sendo que a emissão máxima estimada em 2030 para atender a NDC deve ser de 0,257 GtCO2e, conseguimos observar a oportunidade de reduzir entre US$ 18,8 e 42,6 bilhões no custo das emissões BAU da produção de carne bovina em 2030 se a NDC for atendida”, descreve Mariana, que foi orientada no estudo por Simone Miraglia, professora do ICAQF/Unifesp.
Para Miraglia, “a pesquisa também indicou que, avaliando um cenário onde as metas climáticas e as exportações de carne bovina são priorizadas, entre 2-10 kg de carne bovina per capita estariam disponíveis no mercado doméstico em 2030. Os resultados apontam que a emissão de GEE pelo gado de corte será entre 1,6 e 2,5 vezes maior do que a máxima necessária para cumprir as metas climáticas estipuladas nesse prazo”.
De acordo com as estimativas traçadas no estudo, para se manter dentro do limite estabelecido pela NDC, a emissão máxima do gado de corte deve ser de 0,257 GtCO2e. A produção de carne bovina, por sua vez, deve-se manter entre 3,9 e 5,8 toneladas. O custo social do carbono apontou a possibilidade de reduzir entre US$ 18,8 e 42,6 bilhões no custo das emissões BAU da carne bovina, em 2030, se a emissão máxima for cumprida.
“Esses números revelam a necessidade e urgência de mudanças na produção pecuária para emitir menos GEE por kg de carne produzida e o custo monetário evitado de reduzir as emissões. É preciso, assim, discutir formas de cumprir as metas climáticas com menor impacto social possível. Igualmente importante e urgente é investir na produção agropecuária intensiva, que pode ser uma alternativa potencialmente eficaz de produzir quantidades suficientes de carne bovina com baixo impacto ambiental”, conclui a docente da Unifesp.
Texto: Denis Dana/Unifesp