O estudo é divulgado pouco antes do dia 26 de março, quando é comemorado o Dia Nacional do Cacau e do Chocolate
O cacaueiro (Theobroma cacau), cujos grãos (cacau) são utilizados na fabricação de produtos como chocolate, licor e manteiga de cacau, pode ter-se espalhado da bacia amazónica para outras regiões da América do Sul e Central há pelo menos 5.000 anos através de rotas comerciais, sugere um artigo publicado em Relatórios Científicos, na revista científica Nature. Estas descobertas, baseadas em resíduos em vasos antigos, revelar como foram criadas diferentes variedades de cacaueiros e sugerir que os produtos de cacau eram mais amplamente utilizados entre as antigas culturas da América do Sul e Central do que se pensava anteriormente.
O cacaueiro moderno — cujo nome científico significa ‘o alimento dos deuses’ — é uma das culturas mais importantes do mundo. Existem onze grupos genéticos conhecidos, incluindo as cepas Criollo e Nacional amplamente utilizadas. Embora esteja bem estabelecido que o cacaueiro foi originalmente domesticado na bacia alta da Amazônia, não está claro como seu uso por outras culturas se espalhou pela América do Sul e Central.
Claire Lanaud e colegas analisaram resíduos de 352 itens cerâmicos de 19 culturas pré-colombianas, abrangendo aproximadamente 5.900 a 400 anos atrás, no Equador, Colômbia, Peru, México, Belize e Panamá. Os autores testaram a presença de DNA de cacau antigo e de três componentes de metilxantina (estimulante leve) que estão presentes na modernidade T. cacau cepas — teobromina, teofilina e cafeína — para identificar antigas T. cacau resíduos.
Os autores também usaram informações genéticas de 76 amostras modernas de T. cacau estabelecer a ancestralidade do cacau antigo presente nas peças cerâmicas, o que poderia revelar como as variedades antigas se diversificaram e se espalharam. As descobertas demonstram que o cacau foi amplamente cultivado ao longo da costa do Pacífico logo após a sua domesticação na Amazônia, há pelo menos 5.000 anos, com altos níveis de diversidade entre as cepas antigas, indicando que populações geneticamente distintas foram criadas juntas.
A presença de genótipos de cacau originários da Amazônia peruana na região costeira equatoriana de Valdivia sugere que essas culturas tiveram contato de longa data, segundo os autores. Cepas peruanas também foram detectadas em artefatos da costa caribenha colombiana. Juntas, isto indica que as estirpes de cacau sofreram uma ampla difusão entre países e foram cruzadas para se adaptarem a novos ambientes à medida que diferentes culturas adotavam a sua utilização, sugerem os autores.
Concluem que uma maior compreensão da história genética e da diversidade do cacau pode ajudar a combater ameaças, como doenças e alterações climáticas, enfrentadas pelas estirpes modernas de cacau.
Há três espécies
Segundo estudo do Serviço de Aprendizagem Rural (Senar), publicado no informativo Cacau: produção, manejo e colheita, coordenado pelo pesquisador Bruno Henrique B. Araújo, existem três três grupos varietais do cacaueiro: o Criollo, o Forasteiro e o Trinitário. No grupo Criollo: os frutos são grandes e geralmente apresentam a casca fina e rugosa e a coloração verde-escura quando imaturos, passando para amarela ou alaranjada quando amadurecem. Possuem sementes grandes, de cor branca a violeta-pálida, com muita polpa, dando um produto de superior qualidade, conhecido comercialmente como “cacau-fi no”.
O segundo grupo é formado pelas variedades do grupo Forasteiro, que apresentam frutos que variam de mais arredondados a mais alongados e possuem sementes achatadas de cor violeta-intensa, produzindo um cacau conhecido como “tipo básico”. É a variedade mais difundida, dominando 80% da produção mundial, e predomina nas plantações da Bahia, da Amazônia e dos países produtores
da África. Da variedade “comum” (Pará, Parazinho, Maranhão e outros), amplamente cultivada na zona cacaueira da Bahia, houve uma mutação, dando origem ao cacau Catongo, que se caracteriza por possuir sementes brancas.
E o terceiro grupo é formado pelas variedades do grupo Trinitário, que são obtidas do cruzamento entre o Criollo e o Forasteiro e reproduzidas por propagação vegetativa com enraizamento de estacas, constituindo-se em clones ou por enxertia. Produzem sementes de coloração que varia desde o amarelo-pálido até o roxo-escuro e apresentam um produto de qualidade intermediária.
Juntos, Bahia, Pará, Rondônia e Espírito Santo representam aproximadamente 98% da produção nacional de amêndoas de cacau, gerando uma receita anual que supera os R$ 23 bilhões e movimenta vários nichos de mercado. O Espírito Santo é o 3º maior produtor brasileiro de cacau, com expressiva produção em 45 municípios capixabas. Dentro do Estado, Linhares é o maior produtor e concentra 69,78% da produção estadual. Em exportação, o Estado capixaba é o quinto maior exportador de cacau e derivados do Brasil. De janeiro a agosto de 2023 foram exportadas 2.073 toneladas (+3,9) e US$ 11 milhões (+3,8%) em relação ao mesmo período de 2022.
ES foi o pioneiro em insitituir a data comemorativa
Segundo relato feito em julho de 2022 pelo deputado federal baiano Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) na justificativa do seu projeto de lei, que foi aprovado e que instituiu o Dia Nacional do Cacau e do Chocolate, a ser celebrado em todo o Brasil anualmente no dia 26 março, a data foi originalmente criada no Espírito Santo. “Na verdade, há uma lei estadual do Espírito Santo, de número 9.332, de 12 de novembro de 2009, de autoria do deputado Atayde Armani, que instituiu o dia do cacau no calendário oficial do Estado capixaba”, diz o parlamentar em sua justificativa. Essa lei citada pelo deputado baiano foi sancionada pelo ex-governador Paulo Hartung no dia 12 de novembro de 2009.
No entanto, em 29 de outubro de 2020 o atual governador Renato Casagrande (PSB) a revogou por optar em consolidar todas as legislações individuais, que estabeleciam datas comemorativas, em uma única lei. Assim, a data 26 de março continuou sendo atribuida ao Dia do Cacau, compartilhando essa mesm data com o Dia Estadual do Vetreador, através da nova Lei do Espírito Santo que recebeu o número 11.212, em 29 de outubro de 2020.
O Dia do Cacau sempre está próximo ao Domingo de Páscoa, que neste ano vai ocorrer em 31 de março e é quando o chocolate, através dos Ovos de Páscoa, é consumido amplamente em todo o Brasil.
“Acreditamos que essa é a origem da data, já adotada por algumas instituições e associações, como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que a respalda em seu sítio na internet. Do mesmo modo, órgãos da imprensa e grandes empresas também já referendam a data. Nesse sentido, optamos por utilizar o dia 26 de março, tendo em vista que o dia já se consolida naturalmente como de celebração do cacau”, prosseguiu o autor do projeto que estendeu a data comemorativa para todo o o território nacional.
O deputado baiano continua em sua justificativa: “O chocolate é o produto do cacau mais conhecido e consumido no mundo. Tanto que os dois são indissociáveis. Derivado da amêndoa fermentada e torrada, o chocolate provavelmente foi desenvolvido por volta de 1500 a.C. pela civilização Olmeca, que floresceu entre os atuais territórios do México e da Guatemala. Originalmente consumido como uma bebida amarga, o chocolate, ganhou a forma como o conhecemos hoje em meados do século XIX, quando suíços misturaram o cacau moído com a manteiga do próprio cacau, leite e açúcar. Nessa forma, é um dos alimentos mais populares do mundo.”
“É possível que Cristóvão Colombo tenha sido um dos primeiros ocidentais a experimentar o chocolate, mas foi outro navegador a serviço da Espanha o responsável por levar o produto à Europa. Pelo que consta, foi o conquistador do México, Hernán Cortez, que levou o tchocoatl, ou xocoatl, como os astecas chamavam o chocolate, para a Espanha. O rei Carlos V teria apreciado bastante a bebida e encomendado a certos mosteiros que a reproduzissem em território europeu. Os povos originários consumiam chocolate na forma de uma bebida feita a partir da fermentação das amêndoas do cacau, misturadas e pimenta, outras especiarias e fermentados de milho. Também consumiam as amêndoas torradas com especiarias e mel. Os espanhóis acrescentaram vinho, açúcar e amêndoas à mistura”, completou.