Dirigente de ONG acusa o Estado e as prefeituras da Grande Vitória de não coibirem o arremesso de esgoto in natura na Baía de Vitória, região onde são colhidos ingredientes da Torta Capixaba, como o sururu, ostra e siri, que estão contaminados. Ao comer as fezes, através do que foi ingerido pelos mariscos da Torta, é altamente prejudicial à saúde
A elevada poluição de esgoto na Baía de Vitória (ES), está comprometendo o principal prato da culinária do Espírito Santo: A autêntica Torta Capixaba, que tem entre seus ingredientes o sururu, que é uma espécie de mexilhão, a ostra, um molusco, e o crustáceo siri, pescados principalmente na Baía de Vitória e que estão altamente contaminados pelo esgoto. O alerta é do engenheiro químico Eraylton Moreschi Júnior, presidente da ONG Juntos SOS ES Ambiental.
O esgoto in natura jorrado na Baía de Vitória é ignorado e até permitido pelo Governo do Estado, Cesan, pelas prefeituras de Cariacica, Serra, Vila Velha e Vitória e suas concessionárias, segundo denúncia nesse sentido que já foi formulada pelo Ministério Público Federal e transformada em processo na Justiça Federal. Segundo o procurador da República no Espírito, Carlos Cabeleira, em depoimento recente à TV Justiça, o Judiciário já determinou às entidades públicas citadas que apresentem o plano de ação para os próximos dois anos.
Em Cariacica, a Prefeitura mantém em local de destaque um tubo enorme despejando esgoto na frente da recém-inaugurada Orla, fazendo com que os visitantes sejam obrigados a “contemplar” a imundice sendo jorrada na Baía de Vitória. Bem em frente é comum ver pescadores artesanais. Do outro lado, também em frente, fica os pescadores de sururu e ostras da Região de São Pedro.
Os mexilhões, moluscos e os crustáceos ali coletados, após se “alimentarem” do esgoto, são recolhidos, comercializados e servidos nos mais caros restaurantes da Torta Capixaba. Para saborear a Torta regada a esgoto, restaurante de Guarapari chegam a cobrar exorbitantes R$ 600,00. No entanto, no interesse de defesa do consumidor, até agora, somente a ONG Juntos SOS ES Ambiental e o MPF.
Falta de interesse em zelar pela saúde do consumidor
Uma das ações movidas pela ONG foi em relação ao descaso com o meio ambiente em uma obra pré-eleitoral em Vila Velha, a obra de macrodrenagem, “que foi só preocupada no social, em ano eleitoreiro para a reeleição do Arnaldinho (Arnaldo Borgo Filho, prefeito reeleito de Vila Velha), e nem um pouco pensado no meio ambiente. Fizeram o absurdo de pegar o esgoto do Rio Aribiri e dos canais de Vila Velha e por bombeamento lançar no Rio Jucu”, contou Moreschi.
“Nós entramos com uma Ação Civil Pública (ACP) na Justiça. Os promotores de Vila Velha se disseram impedidos de analisar a nossa denúncia e aí entrou um terceiro (promotor), que mandou arquivar. E como o que se lança na Baía de Vitória é na área Federal, está tramitando no Ministério Público Federal uma denúncia sobre esse lançamento embaixo da Segunda Ponte”, completou. Ele disse que a denúncia sobre o Rio Jucu foi neste ano. E ainda há a ACP sobre os esgotos em geral na Baía de Vitória desde 2017 e saiu parecer na Justiça no final de 2021.
“Prefeitos reeleitos não se preocuparam”
“Ninguém deu bola. Ninguém fez nada. Os três prefeitos reeleitos nenhum se preocupou com isso. Há uns dois meses, o MPF entrou com um recurso na Justiça, em cima desse processo, requerendo que em 30 dias os municípios, o Estado e a Cesan, que deveriam apresentar esse plano e os prazos de cumprimento”, acrescentou Moreschi.
São inúmeros canais arremessando esgoto na Baía de Vitória. De acordo com o presidente da ONG Juntos SOS ES Ambiental “tem vários e vários lugares… os canais de Cariacica, Vila Velha, todos lançam esgoto no canal da Baía de Vitória, no Rio Jucu”. “Na Serra é uma coisa de louco e o Estado está perdido nas mãos do fake ambientalista Renato Casagrande”, finalizou.
Receita da Torta Capixaba, que usa ingredientes contaminados por esgoto da Baía de Vitória (ES):
Ingredientes
- Cebola, alho, azeite doce, azeitona, limão, coentro, cebolinha verde, tomate a gosto;
- ½kg de palmito natural previamente cozido;
- 200gr de siri desfiado e cozido;
- 200gr de caranguejo desfiado e cozido;
- 200gr de camarão cozido;
- 200gr de ostra cozida;
- 200gr de sururu cozido;
- 200gr de badejo desfiado e cozido;
- 500gr de bacalhau desfiado e cozido.
Observação: Para cozinhar esses ingredientes, fazem-se as moquecas de cada um e retira-se todo o caldo, deixando-os o mais seco possível.
- Modo de Preparo:
- Prepare um refogado com cebolas, alho, pimenta, azeite doce, azeitonas e limão.
- Leve-o ao fogo com o palmito natural e espere até desaparecer a água e ganhar consistência.
- Junte, depois de limpos, desfiados, cozidos e espremidos, os ingredientes acima, mexendo até evaporar a água. Retire para esfriar um pouco. Misture uma parte da espuma de 6 claras em neve com as gemas.
- Quando se adicionarem os temperos aos mariscos, deve-se colocar o bacalhau para enxugar e dar liga à massa.
- Cozinhe à parte 6 ovos, que servirão apenas para enfeite juntamente com azeitonas e rodelas de cebola.
Coloque a massa em uma panela de barro e a leve ao forno, retirando-a quando a espuma estiver bem coradinha.
(Receita divulgada pela Prefeitura de Vitória-ES)