Entidade diz em seu relatório que o governo de Bolsonaro foi negacionista, optou em politizar a pandemia e não adotou as medidas baseada na ciência
Depois de contabilizar mais de um quarto das mortes globais Covid-19, na semana passada, o Brasil ainda não tem um plano eficaz para lidar com a pandemia. Muitas de mais de 400 mil mortes por Covid-19 poderiam ter sido evitadas, se o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não tivesse sido negacionista com a pandemia no país. O governo optou em politizar a doença e não adotou medidas baseadas na ciência para tentar controlá-la. As afirmações são de um relatório da ONG internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF).
A entidade insta as autoridades brasileiras a convocarem imediatamente uma resposta centralizada e coordenada à Covid-19. Mais de 12 meses após a emergência Covid-19 do Brasil, ainda não há uma resposta eficaz, centralizada e coordenada da saúde pública ao surto. A falta de vontade política para responder adequadamente à pandemia está matando milhares de brasileiros. Os MSF estão instando urgentemente as autoridades brasileiras a reconhecerem a gravidade da crise e a criarem um sistema central de resposta e coordenação Covid-19 para evitar mais mortes evitáveis, cobra a ONG.
11% das infecções do mundo
Na semana passada, os brasileiros representaram 11% das infecções Covid-19 do mundo e 26,2% das mortes globais Covid-19. Em 8 de abril, foram registadas 4. 249 mortes por Covid-19 num único período de 24 horas, juntamente com 86.652 novas infecções por Covid-19. Estes números surpreendentes são uma evidência clara da incapacidade das autoridades de gerirem as crises sanitárias e humanitárias no país e protegerem os brasileiros, especialmente os mais vulneráveis, do vírus.
Segundo o médico grego, dr. Christos Christou, presidente internaciona da ONG Médicos sem Fronteiras lnternacional (MSF), “as autoridades brasileiras têm supervisionado a difusão absoluta da Covid-19 sua recusa em adaptar medidas de saúde pública baseadas em evidências tem enviado muitos para uma sepultura precoce. A resposta no Brasil precisa de uma redefinição urgente e baseada na ciência.”
“As medidas de saúde pública tornaram-se um campo de batalha político no Brasil”, prosseguiu Christou, presidente. “Como resultado, as políticas baseadas na ciência estão associadas a opiniões políticas, ao invés da necessidade de proteger os indivíduos e suas comunidades da Covid-19”, complementou.
Luto permanente
“O governo federal quase se recusou a adotar diretrizes abrangentes de saúde pública baseadas em evidências, deixando a equipe médica dedicada ao Brasil para administrar os mais doentes em unidades de cuidados intensivos e improvisar soluções quando as camas não estão disponíveis”, continua o Dr. Christou. “Isso colocou o Brasil em um estado de luto permanente e levou ao quase colapso do sistema de saúde brasileiro.”
“A resposta Covid-19 no Brasil precisa começar na comunidade, não na UCI”, diz Meinie Nicolai, diretora geral da MSF. “Não só os medicamentos como o oxigênio, os sedativos e os EPI devem chegar onde são necessários, mas também o uso de máscaras, distanciamento físico, medidas de higiene rigorosas e a restrição de movimentos e atividades não essenciais devem ser promovidos e implementados na comunidade de acordo com a situação epidemiológica local.”
“As Diretrizes de tratamento Covid-19 devem ser atualizadas para refletir a mais recente pesquisa médica e testes rápidos de antígenos devem ser amplamente disponibilizados para facilitar tanto o atendimento ao paciente quanto o controle de surtos”, diz Nicolai.
UTIs cheias
Na semana passada, unidades de cuidados intensivos (UCI) estavam cheias em 21 das 27 capitais brasileiras. Nos hospitais de todo o país há escassez contínua de oxigênio, necessário para tratar pacientes que estão gravemente e gravemente doentes, bem como sedativos, necessários para intubar pacientes em estado crítico. Como resultado, nossas equipes têm visto pacientes, que podem ter tido uma chance de sobrevivência, sendo deixados sem cuidados médicos apropriados.
“A devastação que as equipes de MSF testemunharam pela primeira vez na região do Amazonas tornou-se realidade em toda a maioria do Brasil”, diz Pierre Van Heddegem, Coordenador de emergência para a resposta COVID-19 da MSF no Brasil. “A falta de planejamento e coordenação entre as autoridades federais de saúde e seus homólogos estaduais e municipais está tendo consequências de vida ou morte.”
“Não só os pacientes estão morrendo sem acesso a cuidados de saúde, mas o pessoal médico está exausto e sofre de trauma psicológico e emocional severo devido às suas condições de trabalho”, diz Van Heddegem.
Outra limitação é a escassez de profissionais de saúde locais. No entanto, pessoal de saúde estrangeiro, e até mesmo brasileiros com qualificações estrangeiras, não são autorizados a trabalhar no Brasil.
Medicamentos sem efeito
Alimentar a doença e a morte no Brasil é a enorme quantidade de desinformação que circula nas comunidades em todo o país. As máscaras, o distanciamento físico e a restrição da circulação e das actividades não essenciais são evitados e politizados. Além disso, a hidroxicloroquina (um medicamento anti-malária) e a ivermectina (um medicamento anti-parasitário) são consideradas pelos políticos como a panaceia para a pandemia Covid-19 e prescritas pelos médicos como profilaxia e tratamento Covid-19.
Para somar à situação preocupante no Brasil, um país que vacinou 92 milhões de pessoas contra o H1N1 (gripe suína) em apenas três meses em 2009, a campanha de vacinação Covid-19 está correndo a meia velocidade. Até agora, cerca de 11% das pessoas receberam pelo menos uma dose. Isso significa que milhões de vidas dentro do Brasil, e mesmo fora de suas fronteiras, estão em risco de mais de 90 variantes do vírus que atualmente circulam no país, bem como quaisquer novas variantes que possam surgir.
“As autoridades brasileiras têm supervisionado a difusão da Covid-19 no último ano”, diz o Dr. Christou. “A sua recusa em adaptar medidas de saúde pública baseadas em provas enviou demasiados para uma sepultura precoce. A resposta no Brasil precisa de um reset urgente, baseado em Ciência e bem coordenado para evitar mais mortes evitáveis e a destruição do já prestigiado sistema de saúde brasileiro.”