A recusa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), entidade controlada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e que tem como diretor-presidente o contra-almirante da Marinha, Antonio Barra Torres, em avalizar a importação da vacina russa Sputnik V foi vista pelo Fundo Russo de Investimento Direto como uma decisão política e influenciada por pressão do governo americano. A vacina desenvolvida pelo Instituto Gamaleya foi aprovada por 60 países, incluindo as vizinhas Argentina, Bolívia, Venezuela e o Paraguai.
Com a decisão política, como afirmou o fundo russo, a Anvisa corre o risco de perder a sua credibilidade, “A decisão da Anvisa de adiar a aprovação da Sputnik V é, infelizmente, de natureza política e nada tem a ver com o acesso do órgão regulador à informação ou à ciência. Em nossa opinião, essa decisão é consequência direta da pressão dos Estados Unidos”, disse em nota o fundo russo, que financia o desenvolvimento do imunizante.
Anvisa mentiu
O fundo russo ainda diz ser mentira a informação divulgada pela Anvisa de que não teve acesso à unidade de produção da Sputnik V na Rússia. A nota diz que a equipe da Anvisa “teve pleno acesso a todos os documentos relevantes, bem como aos locais de pesquisa e produção”. A nota afirma ainda que as questões técnicas levantadas pela Anvisa na reunião desta segunda-feira “não têm embasamento científico e não podem ser tratadas com seriedade na comunidade científica e entre os reguladores internacionais”.
A alegação da Anvisa, de que a Sputnik V tinha a presença de adenovírus replicante também foi desmentido. Sobre isso, o Instituto Gamaleya, que desenvolve a vacina, falou que tem um controle de qualidade rigoroso e que “nenhum adenovírus competente para replicação (RCA) foi encontrado em qualquer um dos lotes da vacina Sputnik V que foram produzidos”.
Injusta e antiprofissional
A recusa da Anvisa também foi vista por políticos da oposição como sendo uma decisão política do órgão, que atendeu a interferência direta do presidente Bolsonaro. Em uma coletiva de imprensa em Moscou na manhã desta terça-feira (27) o CEO do Fundo Russo de Investimento Direto, Kirill Dmitriev, disse que os servidores da Anvisa teriam pedido para o Gamaleya apresentar os documentos de controle de qualidade. “Nós mostramos (os documentos) e eles ficaram felizes com isso”, afirmou. Em seguida, o CEO acusou a Anvisa de ser “injusta” e “antiprofissional”.
No último dia 15 de março foi divulgado um relatório do governo dos Estados Unidos produzido ainda sob a gestão do ex-presidente Donald Trump onde mandava Bolsonaro a “combater influencias malignas nas Américas e evitar comprar vacinas russas”. O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) publicou nas suas redes sociais uma crítica: “A mesma Anvisa que autoriza o uso de agrotóxicos banidos em diversos (países) do mundo acaba de negar pedidos de importação da Sputnik V. Essa é mais uma medida que resume a postura do governo diante da pandemia”.