A Gol foi desmentida pelos próprios passageiros, que arranjaram um espaço para acondicionar a mochila com o notebook e entenderam que o caso foi de racismo mesmo. No vídeo que viralizou na internet, é possível ver que a mochila de Samantha Vitena já estava acondicionada no espaço interno reservado à bagagens
A empresa aérea Gol Linhas Aéreas se envolveu em denúncias de racismo, por ter exigido que uma passageira negra saísse de sua aeronave, no Aeroporto de Salvador (BA), por ter se recusado a despachar seu notebook junto com as malas. A vítima foi a estudante de mestrado da Fundação Fiocruz, Samantha Vitena, foi retirada por força policial de um voo da Gol que fazia a rota Salvador-São Paulo, a mando do comandante da aeronave.
O transporte de equipamentos eletrônicos, como notebooks, é normalmente aconselhado pelas próprias empresas aéreas que não seja despachado, devido ao manuseio truculento das malas que seus funcionários fazem., quando levam as malas de carregadeiras até a área de cargas do avião.
PF abre inquérito
Em nota divulgada à imprensa neste último domingo (30), a Polícia Federal (PF) informou que instaurou inquérito para apurar a denúncia. “A Polícia Federal instaurou neste domingo (30/4) inquérito policial para apurar a eventual existência dos crimes de preconceito de raça ou cor durante os procedimentos a retirada compulsória de passageira do Voo Gol 1575 no dia 28/4 no Aeroporto Internacional de Salvador/BA”, diz a PF.
“A investigação foi instaurada na Superintendência Regional da Polícia Federal na Bahia e permanecerá em sigilo até a completa elucidação dos fatos”, completa a nota da PF. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flavio Dino, usou as suas redes sociais para reforçar o inquérito policial: “Sobre ocorrência em avião da GOL, (a) PF instaura inquérito policial para apurar os crimes de racismo em Salvador/BA”, disse o ministro.
A Gol usou a sua página na internet para publicar uma curta nota sobre o assunto: “Lamentamos imensamente a experiência da Cliente em nosso voo G3 1575. Seguimos cuidadosamente apurando os detalhes do ocorrido e reforçamos que não toleramos nenhuma atitude discriminatória.”
Atraso de 3h04
O imbróglio entre a mestranda da Fiocruz e os funcionários da Gol provocou um atraso de 3h04 na partida do avião. Enquanto exigiam que Samantha Vitena desembarcasse da aeronave, a mando do comandante, os funcionários da Gol decidiram intimidá-la e anunciaram que todos os passageiros desembarcassem e que ficasse somente a mestranda. Os demais passageiros se posicionaram a favor dela e se recusaram a sair do avião.
Foi diante disso que o comandante mandou chamar três policiais federais para retirar Samantha, o que causou indignação aos demais passageiros e deu motivos que o caso era de racismo, por ser negra.
Foi racismo sim, afirmam passageiros
“Meu coração está sangrando neste momento. Presenciei agora à noite um caso extremamente violento de racismo, sofrido por uma mulher negra no voo 1575 da Gol, chamada Samantha. Depois de uma hora de atraso, embarcamos e Samantha não conseguia um lugar pra guardar sua mochila, o voo estava “cheio” para ela (quando não está, né?). A tripulação ignorava completamente o desespero desta mulher. que era obrigada a despachar a mochila com seu computador – sendo, inclusive, acusada por parte da tripulação de ser “a razão do atraso””, iniciou a passageira Elaine Hazinj na sua conta do Instagram (@elainehazin.
“Conseguimos um lugar para a mochila de Samantha e nem mesmo assim o voo decolaria. Mais uma hora de atraso, nenhuma satisfação da cia área, gente passando mal no Avião e eis que 3 homens da Polícia Federal entram de forma extremamente truculenta no Avião para levar a “ameaça” do voo embora – a Samantha. Ela se defende mas não reage, alguns pedem pra ela não ir (na maioria mulheres), eu me desespero, todas com muito medo, apreensão e os policiais ameaçam algema-la”, prosseguiu em seu depoimento através do Instagram.
“Não dizem a razão de levá-la presa, só que foi uma ordem do comandante. Samantha era uma ameaça por ser uma mulher, ser preta, ter voz. Ela foi levada pela Polícia, eu quase fui levada junto por defendê-la, me agrediram, me ameaçaram. A mãe de Samantha chorava desesperada ao telefone por não saber o destino de sua filha. Eu chorava também. Outras mulheres e homens se desesperavam”, continuou a passageira.
“O que eles não sabiam é que Samanta há não estava só – é que enquanto pudermos, enquanto tivermos forças vamos lutar todos juntos contra o racismo! Graças ao meu amigo @manoelsoares Samantha não ficou só e teve o apoio de 2 advogados. Mas está história não termina aqui, queremos justiça e respeito para todos, queremos que a Gol, este comandante e a tripulação paguem por este crime e os policiais também respondam por tamanha violência”, concluiu.
Características do voo e do avião, segundo a Anac
O voo G3 1575, da Gol, deveria ter partido nesta última sexta-feira (28), de Salvador (BA) e com destino ao Aeroporto de Congonhas (CCH), em São Paulo (SP), às 19h10, mas a partida real somente ocorreu às 22h14. A chegada na capital paulista do avião registrado na Anac com a matrícula PRGUU, que estava agendada para às 21h40, somente teve a aterrisagem à 0h15 deste último sábado (29). Os registros de partida e de aterrisagem são do aplicativo Flightradar24.
O avião Boeing 737-8EH, paco da cena que a PF apura como sendo racismo, não é de propriedade da Gol. É arrendado, segundo os registros da Agência Nacional de Aviação civil (Anac). A aeronave, matriculada na Anac sob o prefixo PRGUU, foi construída em 2012 e tem 11 anos de uso e possui capacidade para transportar 186 passageiros e é de propriedade da empresa internacional SMBC Aviation Capital Limited. O aviãovem sendo operado no Brasil com as cores e a logomarca da Gol Linhas Aéreas S/A. A aeronave está sendo utilizada no Brasil, pela Gol, desde 7 de novembro de 2017. O avião tem o Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA) válido até 26 de outubro deste ano. Os dados desse avião podem ser consultados na Anac, clicando neste link.