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Greenpeace encontra 176 escavadeiras em plena atividade nos territórios indígenas

Apesar de a marca Hyundai ter monitoramento pelo GPS e dispositivo que pode interromper remotamente o funcionamento, o fabricante vem fazendo vistas grossas, segundo o Greenpeace | Foto: Christian Braga/Greenpeace

O Greenpeace Brasil encontrou 176 escavadeiras em plena atividade de destruição dentro dos territórios indígenas. São 140 escavadeiras hidráulicas em atividade dentro do território do povo Kaiapó, no Pará; 31 dentro da reserva Munduruku, também no Pará e mais quatro do território do povo Yanomami, entre os Estados de Roraima e Amazonas. O lançamento do relatório ocorreu na última semana próximo à entrada da fábrica da Hyundai, em Itatiaia (RJ), em uma ação pacífica. Do total, 75 escavadeiras são dessa marca sul-coreana.

Segundo a ONG internacional, o documento foi elaborado com contribuições da equipe da Greenpeace do leste asiático, destacando que cada máquina pode custar mais de R$ 700 mil. Cada máquina pode, em apenas um dia, fazer o que três pessoas fazem em 40 dias. Segundo a ONG, a maior frota de escavadeiras está na TI Kayapó, que é alvo de disputas por parte de madeireiros e da siderurgia.

A atividade criminosa de mineração ilegal cresceu 1.217% nas terras indígenas da Amazônia Legal, durante os últimos 35 anos, de acordo com estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade do Sul do Alabama, dos Estados Unidos.

Foi apontado que entre outubro de 2018 e dezembro de 2022, o desmatamento resultante do garimpo ilegal na Território Indígena (TI) Yanomami subiu 309%, de acordo com levantamento elaborado pela Hutukara Associação Yanomami. Em dezembro de 2022, a área devastada era de 5.053,82 hectares, ante 1.236 hectares detectados no início do monitoramento. Leia a seguir, na íntegra o relatório Parem As Máquinas! Por Uma Amazônia Livre de Garimpo, em arquivo PDF:

Greenpeace - Parem as máquinas - por uma Amazônia livre de garimpo.pdf

“Parem as máquinas”

Para o Greenpeace, é possível rastrear as máquinas. No caso da Hyundai HCE Brasil, a ONG informa que a empresa possui um sistema de gerenciamento remoto, chamado Hi Mate, que utiliza GPS para coletar dados. A ferramenta também seria capaz de emitir um comando para interromper o funcionamento das máquinas. A ONG está cobrando que esse dispositivo seja acionado, além de a indústria pare de vender equipamentos para uso do garimpo ilegal.

De acordo com o relatório, as máquinas encontradas começaram a ser vistas na Terra Yanomami a partir do segundo semestre do ano passado. Quatro delas foram achadas em uma estrada clandestina. Perto do local, vive um grupo de indígenas em isolamento voluntário. “Como se vê, o garimpo ilegal está investindo na construção de rodovias dentro de florestas intactas para levar as escavadeiras para o interior dos territórios indígenas”, alerta a ONG.

“Esses três territórios respondem sozinhos por mais de 90% da área garimpada que existe hoje em Terras Indígenas na Amazônia; e são um retrato dramático do que o garimpo ilegal causa nesses locais: os Yanomami sofrem com malária e desnutrição; e os Kayapó e os Munduruku são vítimas da contaminação por mercúrio, que tem afetado principalmente mulheres e crianças”, diz o Greenpeace em nota à imprensa.

“Não à toa, lideranças desses três povos se uniram e criaram a Aliança em Defesa dos Territórios, uma coalizão destinada à luta contra o garimpo ilegal e que hoje conta com o apoio de instituições como Instituto Socioambiental (ISA) e o Greenpeace Brasil”, completou. Todos esses povos sofrem ainda com o assoreamento e morte dos rios, trabalhos forçados, violências (física, psicológica, sexual) e a desestruturação social que o garimpo provoca nas aldeias e comunidades, reforçou a entidade internacional.

Circulo alaranjado mostra os locais onde os garimpeiros ilegais atuam criminosamente dentro das reservas indígenas | Imagem: Greenpeace

Detalhes

Ainda que as máquinas da marca Hyundai tenham aparecido em maior quantidade no monitoramento, outras fabricantes também possuem equipamentos sendo usados em garimpos ilegais. Além da Hyundai, encontramos escavadeiras das marcas: Liugong (China); Caterpillar (EUA); Volvo (Suécia); Sany (China); John Deere (EUA); Komatsu (Japão); Link-Belt (EUA); XCMG (China); Case (EUA); e New Holland (EUA).

O relatório “Parem As Máquinas: Por uma Amazônia Livre de Garimpo” mostra ainda como as fabricantes contam com rede de distribuidoras e revendedoras na Região Norte localizadas nas proximidades das Terras Indígenas monitoradas. Ele cita alguns recursos que a empresa pode usar para reduzir essa situação — como o sistema Hi Mate, que permite o controle e sensoriamento remoto das escavadeiras; e o chamado Código da Consciência, que em teoria impediria esses equipamentos de operar em áreas proibidas, como Terras Indígenas e Unidades de Conservação.

Malefícios para a saúde e para o meio-ambiente que os garimpeiros ilegais provocam | Gráfico: Greenpeace

O documento aponta também algumas ações que os governos podem tomar para diminuir esse problema e as medidas que as próprias empresas podem pôr em prática para ajudar neste processo — como retirar seus negócios de áreas de alto risco até que possam garantir que as máquinas não sejam usadas para atividades destrutivas; e restaurar ecossistemas e pagar indenizações aos povos indígenas que sofreram devido a suas práticas comerciais.

O levantamento foi feito com base em sete sobrevoos de monitoramento que realizamos nas Terras Indígenas analisadas. Em cada sobrevoo, que pode durar até duas horas, tiramos fotos e vídeos em alta resolução, que foram analisados para dar origem aos dados apresentados. Cada sobrevoo pode render até três mil fotos.

Chamado às fabricantes

Segundo o porta-voz da Campanha Amazônia do Greenpeace Brasil, Danicley de Aguiar, a ação realizada no Rio de Janeiro e a publicação do relatório são “um chamado às fabricantes de escavadeiras”.

“Queremos que essas empresas sejam parte da solução, não do problema. Queremos que elas tomem medidas que impeçam ou minimizem os riscos de seus equipamentos serem utilizados em atividades ilegais. A sociedade brasileira exige que lidemos com os garimpos ilegais de outra maneira e todos devemos responder a esse chamado”, disse o porta-voz.

Liderança do povo Kayapó, Bepdjo Mekragnotire afirma que o garimpo ilegal trouxe diversos malefícios para seu povo ao longo dos anos.

“Eu luto pelo nosso povo, pelo nosso território, pelas nossas florestas. Não posso aceitar a destruição que o garimpo e as máquinas causam na nossa terra”, disse a liderança. Bepdjo é cacique da aldeia Baú, no território indígena de mesmo nome, situado no sul do Pará. Para participar do abaixo-assinado, é só clicar neste link.