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Hipertensão arterial aumenta em crianças e adolescentes

Foto: iStock

Ganho de peso e falta de atividade física também influenciam no aumento da doença que age na surdina

Uma doença que age na surdina. A hipertensão arterial, considerada um problema de saúde pública pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é conhecida entre os especialistas como um ‘mal silencioso”. Apesar de afetar pessoas de todas as idades sem fazer alarde, o aumento de casos entre crianças e adolescentes tem causado preocupação.

No projeto de pesquisa “Determinantes da elevação da pressão arterial, em crianças e adolescentes de diferentes ancestralidades”, Divanei dos Anjos Zaniqueli,  doutorando em Ciências Fisiológicas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes),  contou que um ponto determinante para a doença é a idade avançada. Porém, análises mais detalhadas sugerem que outros fatores, como ganho de peso influência dos hormônios na elasticidade das artérias, falta de atividade física, dentre outros, também influenciam neste processo.

Estudo

De acordo com Zaniqueli, o aumento progressivo da pressão arterial tem sido pouco estudado em crianças e adolescentes. Porém, entre novembro de 2014 e abril de 2016 foram coletados os dados de  856 pacientes de 6 a 18 anos,  de diferentes ancestralidades na Clínica de Investigação Cardiovascular, localizada  no Centro de Ciência da Saúde, np campus de Maruípe da UFES. O número de crianças e adolescentes foo originado da Estação conhecimento – Núcleo de Desenvolvimento Humano e  Econômico,  Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP),  que recebe recursos da Fundação Vale e apoio do Fundo da Infância e da Adolescência e da Lei de Incentivo ao Esporte. “Inicialmente  o projeto foi desenhado para investigar os determinantes biológicos, sociais e genéticos do aumento da pressão arterial em crianças e adolescentes, com diferentes ancestralidades. Para responder aquestões pertinentes ao tema, foram realizadas medidas de pressão arterial, peso, estatura, composição corporal, análise da velocidade e do formato das ondas de pressão, eletrocardiograma e força máxima de pressão manual”, explicou Zaniqueli.

O doutorando completou que o sangue também foi coletado  conhecer o perfil lipídico, como o colesterol, por exemplo. Além disso, amostras de DNA de leucócitos foram separadas e urina foi coletada para determinar a função renal e consumo de sódio e potássio.

“O projeto foi desenhado para investigar os determinantes biológicos, sociais e genéticos do aumento da pressão arterial em crianças e adolescentes com diferentes ancestralidades”

Obesidade

De acordo com Zaniqueli, o mais importante nesse estudo foi quantificar o peso da ancestralidade, além de outros fatores biológicos e comportamentais na alteração da pressão ao longo da adolescência e da distribuição da gordura corporal. “Em grande parte do mundo a obesidade se inicia na infância e na adolescência. Assim, uma melhor compreensão deste fenômeno pode reforçar adoção de políticas públicas de prevenção da hipertensão arterial ou obesidade na fase precoce da vida adulta. Os dados obtidos neste projeto poderão dar suporte para políticas públicas na área de saúde cardiovascular na população pediátrica”, afirmou.

Ascendência

Ainda segundo o doutorando, estudos realizados não só no Brasil mas em outros países, mostram que indivíduos com ascendência africana apresentam níveis de pressão mais elevados na vida adulta. Com resultados do Projeto ELSA-Brasil (Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto), que conta com a participação da UFES, foi constatado que o incremento da pressão arterial sistólica em indivíduos sem uso anti-hipertensivos pode ser de 3,1 mnHg por década em brancos, 4,5 mmHg por decada em negros. Zaniqueli conta que até hoje já foram publicados no mundo apenas cinco trabalhos científicos sobre as diferenças hemodinâmicas entre meninos e meninas, a relação entre a presença de obesidade e o perfil lipídico, assim como a influência da ancestralidade nas características estruturais dos grandes vasos sanguíneos.

“Neste ano, uma clínica foi montada no interior da Estação Conhecimento e uma segunda fase do projeto teve início do mês de junho. Essa iniciativa possibilitará a execução da primeira investigação com caráter a longo prazo em crianças e adolescentes no Espírito Santo. O estudo apresenta a vantagem de permitir compreender melhor as mudanças ao longo do tempo no mesmo grupo de pessoas, conferindo maior confiabilidade no estabelecimento de relações de causa e efeito”  explica. O doutorando ressalta que o estudo do comportamento da pressão arteria com relação a fatores genéticos ou ambientais, em diferentes grupos étnico-raciais, é de grande importância para a sociedade brasileira  onde a população geral tem uma ancestralidade genética ainda pouco conhecida.

“Outro fator importante é análise de como essas variáveis interferem nos valores da pressão em diferentes fases do ciclo vital, pois as alterações da pressão durante a adolescência ainda não foram exploradas na população brasileira. O conhecimento nesta área é importante e pode ser útil no desenvolvimento de estratégias mais apropriadas de prevenção da hipertensão arterial. Primeiro porque sua compreensão ainda é precária na literatura Internacional e, em segundo lugar, as modificações na pressão ao longo da adolescência ainda não foram estudadas, em profundidade, na população brasileira”, finalizou.

Divanei Zaniqueli

Doutorando em Ciências Fisiológicas – UFES

Orientador: José Geraldo Mill – UFES