fbpx
Início > Imprensa francesa diz que OMS começa a perder a paciência com Bolsonaro

Imprensa francesa diz que OMS começa a perder a paciência com Bolsonaro

Imprensa francesa alerta que a OMS está perdendo a paciência com o negacionismo de Bolsonaro | Foto: Alex Pazuello/Semcom

“Brasil: nenhum lockdown à vista apesar da explosão da pandemia”, publicou em título nesta última segunda-feira (12) o jornal Les Echos, um diário econômico francês que é utilizado como referência entre os empresários da França e da Europa. O jornal, voltado para leitores de economia e política, disse em sua matéria que, “apesar de um tributo humano cada vez mais pesado e insuportável, o presidente Jair Bolsonaro resiste ao lockdown desejado pela comunidade científica”.

“Ele terá de responder a uma comissão parlamentar de inquérito”, disse no seu texto o correspondente em São Paulo, Thierry Ogier. A média de vítimas continuou acima de três mil pessoas por dia neste último final de semana, e o número de mortos continua aumentando. “Até a Organização Mundial da Saúde (OMS) começa a perder a paciência diante de uma pandemia cuja ‘trajetória vai na má direção’”, diz o Les Echos.

Lockdown nacional

“O número de casos e mortes vem crescendo há seis semanas”, disse a entrevistada Maria van Kerkhove, epidemiologista da OMS. O país ultrapassou 350 mil mortes no fim de semana. Mas Bolsonaro voltou a descartar a possibilidade de adotar um lockdown nacional. Les Echos cita a declaração recente na qual o presidente de extrema direita afirmou que não colocaria o “exército nas ruas para forçar o povo a ficar em casa”.

Discurso que foi reiterado pelo novo ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, que disse que a polícia vai “garantir a todos a liberdade de ir e vir com serenidade e paz”. Já o jornal francês gratuito 20 Minutos mostra que a maioria dos pacientes hospitalizados em cuidados intensivos no Brasil tem menos de 40 anos de idade, uma situação “alarmante” que é explicada pela variante brasileira P1, mais contagiosa e letal que as cepas anteriores.

Intransigência de Bolsonaro

A intransigência de Bolsonaro não surpreende a comunidade científica brasileira, mas causa irritação. Ouvida pela reportagem, Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência, conta que “desde o início da pandemia, tem sido assim”. O governo federal insiste que medidas preventivas não são necessárias e, hoje, a população está dividida. “Tem muita gente que acaba acreditando no presidente e não adere às medidas preventivas”, lamenta a microbióloga.

Les Echos explica que os partidários de Jair Bolsonaro asseguram que é melhor “abrir” a economia a todo custo. Mas, na prática, o Brasil perde nas duas frentes. “Eles dizem que o lockdown vai arruinar a economia. Mas hoje vemos, por um lado, que a economia já está arruinada por um ano de pandemia e temos, por outro lado, até quatro mil mortes por dia”, destacou Pasternak.

Como a maior parte de seus colegas, essa microbiologista é a favor de medidas de contenção rígidas, assinalou o Les Echos. “Nunca tivemos isolamento no Brasil, como houve em Portugal ou na Inglaterra, e isso nos conduziu à situação atual”, afirmou.

Araraquara

A única exceção nesse cenário dramático é a cidade de Araraquara, município do interior de São Paulo, que conseguiu reduzir o número de mortes após 10 dias de lockdown local. Mas no resto do país a situação permanece crítica, com falta de leitos, equipamentos e anestésicos nos hospitais.

Paulo Almeida, do mesmo instituto, teme um futuro sombrio. “Enquanto Bolsonaro estiver à frente do país, o governo federal não apoiará esse tipo de medida”, conclui o diretor-executivo do IQC.