Por Carlos Tautz, da Comissão de Meio Ambiente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)
“A UNIVAJA não concorda com o desfecho da Polícia Federal que afirma não haver mandante para o crime que culminou na morte de Dom e Bruno”, disse há pouco Eliésio Marubo, coordenador jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).
Em nota divulgada há pouco, a Univaja afirma que “a PF desconsidera as informações qualificadas, oferecidas pela UNIVAJA em inúmeros ofícios, desde o segundo semestre de 2021, período de implementação da EVU (Equipe de Vigilância da Univaja). Tais documentos apontam a existência de um grupo criminoso organizado atuando nas invasões constantes à Terra Indígena Vale do Javari, do qual Pelado e Do Santo (que, segundo a Polícia, teriam confessado o crime) fazem parte”.
A entidade continua: “Esse grupo de caçadores e pescadores profissionais, envolvido no assassinato de Pereira e Phillips, foi descrito pela EVU em ofícios enviados ao Ministério Público Federal, à Polícia Federal e à Fundação Nacional do Índio. Descrevemos nomes dos invasores, membros da organização criminosa, seus métodos de atuação, como entram e como saem da terra indígena, os ilícitos que levam, os tipos de embarcações que utilizam em suas atividades ilegais. Foi em razão disso que Bruno Pereira se tornou um dos alvos centrais desse grupo criminoso, assim como outros integrantes da UNIVAJA que receberam ameaças de morte, inclusive, através de bilhetes anônimos”.
A Univaja conclui que “as autoridades competentes, responsáveis pela proteção territorial e de nossas vidas, têm ignorado nossas denúncias, minimizando os danos, mesmo após os assassinatos de nossos parceiros, Pereira e Phillips”.
Na quarta (15), a Univaja avisou em nota que considera “crimes políticos” os assassinatos do antropólogo brasileiro Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Philips, e que as investigações precisam continuar.
Apesar de estar à frente das buscas por Bruno e Dom desde o dia 5 e de ter dado às autoridades as informações que levaram à descoberta dos corpos, a Univaja não foi convidada para a coletiva de imprensa em que a Polícia Federal e militares da Marinha e do Exército disseram, também na quarta-feira, que dois pescadores de Atalaia do Norte (AM) – os irmãos Amarildo da Costa Oliveira (conhecido por “Pelado”) e Oseney da Costa Oliveira (o “Dos Santos”) – seriam os únicos culpados pelos homicídios.
“Pelado e Dos Santos fazem parte de um grupo maior, sabemos”, afirmou a Univaja na nota. No texto, a entidade também afirma que desde 2021 vem alertando, através de ofícios enviados à Polícia Federal, Ministério Público Federal e a Fundação Nacional do Índio (Funai), “a composição de uma quadrilha de caçadores e pescadores profissional, vinculados a narcotraficantes que ingressam ilegalmente em nosso território para extrair nossos recursos e vendê-los em municípios vizinhos”.