Órgão, cuja sede nacional fica no Espírito Santo, destaca a importância da colaboração da comunidade para a ciência. Morador de Santa Rita do Itueto (MG) foi o primeiro a avistar a nova espécie e a mostrou aos cientistas
O Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), que tem a sua sede nacional no município capixaba de Santa Teresa (ES), está anunciando que uma nova espécie de bromélia foi descoberta no município de Santa Rita do Itueto, na bacia do Rio Doce, no leste de Minas Gerais, cuja descrição foi publicada na revista Phytotaxa.
Batizada como Stigmatodon medeirosii, essa bromélia-escaladora cresce exclusivamente em paredões verticais de rocha granítica, o que representou um enorme desafio para a coleta de material visando à descrição completa da espécie. Para superar essa barreira, os pesquisadores contaram com a fundamental colaboração de Lucian Medeiros, morador da região que foi homenageado no nome da espécie com o epíteto medeirosii.
Estudos
Lucian foi quem primeiro viu a planta, ainda desconhecida pela ciência, e mostrou aos pesquisadores Dayvid Couto, do INMA, e Paulo Gonella, da Universidade Federal de São João del-Rei, que desenvolvem estudos na região. “Foi graças ao olhar atento e à destreza de Lucian que essa nova espécie foi descoberta em uma encosta de difícil acesso nas montanhas de Minas Gerais”, conta Gonella.
Depois de visualizarem a planta, era necessário fazer a coleta do material para análise. “Lucian foi fundamental para o sucesso da expedição científica, mostrando muita habilidade ao nos ajudar a acessar os locais de difícil alcance. Junto com Lucian, escalamos uma grande encosta verticalizada para acessar a população de plantas e conseguimos coletar materiais para estudo”, explica Dayvid.
Cuidado na coleta
“É necessário muito cuidado para coletar essas bromélias em seus habitats, pois vivem em locais muito perigosos, confinadas em grandes penhascos onde qualquer descuido pode ser fatal”, expõe Couto, que é especialista em bromélias-escaladoras do gênero Stigmatodon no Brasil.
Apesar de sua recente descoberta, Stigmatodon medeirosii já enfrenta ameaças significativas. Sua distribuição restrita e a especificidade do habitat em que cresce a tornam especialmente vulnerável a vários fatores, como impactos da escalada de alpinistas ou alterações climáticas severas.
Critérios da entidade internacional de conservação da natureza
Seguindo os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), os pesquisadores avaliaram a nova espécie como Vulnerável (VU), destacando a urgência de medidas de conservação para proteger não apenas a bromélia-escaladora, mas também seu habitat único e frágil, inserido na bacia do rio Doce.
“A “bromélia-escaladora” foi encontrada na Área de Proteção Ambiental Municipal de Santa Rita do Itueto, em Minas Gerais, uma área protegida que ainda carece de um Plano de Manejo que contemple ações para a proteção de espécies ameaçadas como esta.
Essa descoberta ressalta a importância da preservação dessas áreas naturais para a conservação da biodiversidade e também para a qualidade de vida das comunidades locais, além de evidenciar a importância da colaboração entre cientistas e moradores locais para a conservação ambiental”, destaca Gonella.