O portal do Vaticano, que tem milhões de visualizações em todo o mundo, trouxe em destaque a notícia de uma jovem surda oralizada capixaba, Kalyla Santos Rodrigues, de ter se tornado a primeira jovem coroinha com reconhecimento oficial da Igreja Católica. Até então, haviam participações informais de coroinhas do sexo feminino.
Segundo o noticiário do Vaticano e que pode ser conferido neste link, a instituição dos 50 novos coroinhas, com a participação de Kalyla Rodrigues, ocorreu no último dia 19 de maio. Foi na solenidade de Pentecostes, na Paróquia Santa Clara de Assis, em Colatina (ES). A Celebração Eucarística foi realizada no Centro de Acolhida da Caritas, pertencente a Diocese de Colatina e foi presidida pelo pároco, Frei Pedro de Oliveira Rodrigues e concelebrada pelo Vigário Paroquial, Frei Augusto Luiz Gabriel.
Testemunho de Kalyla
Os fiéis das comunidades do Setor Urbano e Rural lotaram o espaço celebrativo que foi preparado em uma quadra, para assim ser possível comportar todas as pessoas. Entre as crianças e adolescentes instituídos, uma jovem surda oralizada da Comunidade Nossa Senhora Auxiliadora, Kalyla Santos Rodrigues, também foi instituída Coroinha. Ela participou dos encontros com a presença de um intérprete. E, no último dia de formação (11/05), ela deixou o seguinte testemunho:
“Este período formativo foi muito importante para mim. Lembro que no primeiro encontro, não havia a participação de um tradutor e intérprete de Libras/Português, me senti triste naquele momento, pois não conseguia entender claramente o que estava sendo ministrado, visto que a minha língua mais forte é a de contato é a Libras. Após isso, conseguimos conversar e negociar com o Intérprete de Libras/Português, Vagner Neves, que é meu primo, que hoje agradeço a ele por ter me ajudado a interpretar todos os discursos da língua portuguesa para Libras e vice-versa.”
E prosseguiu: “ Confesso que foi linda a minha jornada até a formação. Agradeço também a Regina e a Elenice que também doaram um pouco de seu tempo para atuarem como intérpretes no curso. Em um dos encontros aprendi com o Frei Augusto que liturgia é fazer memória e como cristã isso passou a fazer todo sentido para mim. Com a presença de um intérprete eu comecei a compartilhar com todos um mesmo itinerário. É uma satisfação estar com vocês e compartilhar com todos essa caminhada”, disse.
Unidade na Diversidade
Na homilia, Frei Pedro explicou que o que perpassa todos os textos litúrgicos de Pentecostes é a linguagem do amor. “Mesmo que sejamos diversos existe uma só linguagem, a do amor. Essa é grande novidade que Pentecostes apresenta”, frisou. Segundo Frei Pedro, há necessidade da vivência da unidade na diversidade. “Pentecostes nos desafia a sabermos conviver com os diferentes. Que em nossas comunidades, nos serviços que prestamos tenhamos isso presente, nós fazemos parte de um mesmo corpo que é a Igreja”, disse o pároco.
“Jesus sopra sobre a comunidade reunida o Espírito Santo. Por isso, cada um é importante para a unidade e comunhão desta igreja”, completou. Aos coroinhas dirigiu palavras de ânimo e os explicou sobre o compromisso de servir. “Ser coroinha é ser servidor, servidora”, ensinou. “Peço as equipes de liturgia e aos ministros paciência com os nossos novos coroinhas. Ninguém nasce sabendo, graças a Deus”, completou.
Desde o ano passado, os novos coroinhas estão sendo preparados para exercerem o serviço do altar em suas comunidades e na Paróquia. Com formações mensais e algumas vezes quinzenais, com orientação de Frei Augusto e da Coordenação dos Coroinhas, eles trilharam um bonito caminho espiritual de preparação, que culminou com a instituição. Porém, a caminhada apenas começou.
Segundo a Academia de Libras, “o termo surdo oralizado faz referência a uma pessoa surda que utiliza uma ou mais línguas orais para estabelecer uma comunicação com outras pessoas. A comunicação acontece nas modalidades de escrita, leitura, leitura labial (orofacial) e também oral. Dessa forma, o surdo oralizado sabe escrever, ler e falar de maneira quase que totalmente fluente. A definição de surdo oralizado também refere-se às pessoas surdas que sabem escrever e ler, mas que não possuem fluência quanto à fala.”