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Lava Jato suspeitava que advogada fugiu do Brasil porque marido extorquia vítimas da delação de seus clientes

O DCM teve acesso a mensagens inéditas da Spoofing, operação da Polícia Federal que investigou e prendeu suspeitos de invadirem as contas de Telegram dos procuradores da Operação Lava Jato. Acredita-se que parte desse arquivo foi base das reportagens da Vaza Jato. Mais reportagens baseadas nesses arquivos serão publicadas nos próximos dias

Reprodução do portal Diário do Centro do Mundo (DCM)

Beatriz Catta Preta | Foto: Álbum pessoal/reprodução DCM

Conhecida como a ‘advogada das delações’, Beatriz Catta Preta defendeu nomes conhecidos na Operação Lava Jato. Paulo Roberto Costa, que foi diretor de Abastecimento da Petrobras; Augusto Mendonça, dono da Toyo Setal e delator do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto; e o ex-deputado Eduardo Cunha foram alguns de seus clientes.

Em 2015, ela deixou o país após afirmar que se sentiu ameaçada pelo doleiro Lúcio Funaro. Segundo a advogada criminalista, Funaro apareceu em sua casa e estava sentado no sofá brincando com seus filhos. O doleiro a pressionou para que Cunha não aparecesse nas delações.

Beatriz embolsou milhões nos controversos acordos de leniência em torno da Lava Jato e foi para Miami, segundo pessoas próximas. Ao Jornal Nacional, na época, disse que fechou o escritório e abandonou a carreira no Direito. Em 2021, no entanto, a advogada ainda publica artigos sobre Direito e delação premiada no blog do jornalista Fausto Macedo no Estado de S.Paulo.

Ela aparece em uma conversa de 12 de outubro de 2015 no Telegram entre os procuradores Orlando Martello Júnior, de São Paulo, e o líder da “Força-Tarefa” da Lava Jato, Deltan Dallangol, a que o DCM teve acesso.

Martello manda uma reportagem às 21h04 daquele dia do site do jornalista Marcelo Auler sobre o grampo na cela do delator Alberto Youssef. E ele escreve:

“Diz que tem mas não mostra. Será verdade?”

Às 21h16, ele manda outras duas mensagens:

“É possível… Depois que descobrimos que ele instalou equipamentos para monitorar várias salas da SR [Superintendência do Departamento de Polícia Federal do Paraná], inclusive do setor de inteligência, é possível sim…”

“Mas é claro que a matéria dá uma boa fantasiada e exagerada”.

Martello dá uma pausa nas mensagens e manda mais uma às 21h52:

“Senhores, chegou ao meu conhecimento uma história de que o marido da Catta Preta estaria extorquindo pessoas que poderiam ser delatadas pelos clientes dela. pagamento (sic) no exterior. aí (sic) as pessoas começaram a ameaça-la (sic) e ela foi embora do Brasil”.

Na primeira parte do diálogo de 12 de outubro, o procurador Orlando Martello se refere ao “SR”. Trata-se da carceragem da Superintendência do Departamento de Polícia Federal do Paraná (SR/DPF/PR). A reportagem de Marcelo Auler diz que a informação sobre o grampo de Alberto Yossef chegou ao conhecimento do deputado Aluísio Mendes Guimarães (PSDC-MA), parlamentares que foi ativo na CPI da Petrobras, através de uma perícia no local.

O grampo ilegal tornou-se objeto de investigação da Polícia Federal. A PF, no entanto, engavetou o inquérito antes de encerrar a investigação básica. A abertura da apuração foi em junho de 2017 e o arquivamento se deu em 2019.

Martello, em 2015, já estava ciente do grampo irregular. E disse: “Depois que descobrimos que ele instalou equipamentos para monitorar várias salas da SR, inclusive do setor de inteligência, é possível sim…”.

O então marido de Beatriz Catta Preta

Na época da mudanças para os Estados Unidos, em 2015, a revista Veja contou a história de Carlos Eduardo Catta Preta Júnior, o marido. A advogada herdou dele o sobrenome e ele tratava das negociações com os clientes. Segundo a publicação, Carlos Catta Preta era quem estabelecia o valor dos honorários e que cuidava das cobranças do escritório aberto em 2002.

Ele esteve na fundação da empresa, alguns anos depois de se formar pela Unip.

Embora se declare oficialmente comerciante, Carlos Catta Preta era conhecido como “doutor Carlos” e influenciava o trabalho da mulher diretamente.

Carlos Catta Preta e Beatriz se conheceram em 2001, quando ele foi preso em Alphaville, na Grande São Paulo, com US$ 50 mil em notas falsas presas na cintura dentro de um saco plástico.

Na sua casa naquela época, agentes do Denarc, o departamento de combate ao tráfico de drogas, encontraram mais US$ 350 mil em notas falsas guardados no banheiro. Aos policiais, Carlos Catta Preta afirmou que estava tentando vender as notas para se livrar do prejuízo que teve ao vender a um indiano 17 quilos de esmeraldas retiradas de uma mina de pedras preciosas que arrendara na Bahia.

Um amigo indicou-­lhe o escritório de Pedro Rotta, onde trabalhava Beatriz Lessa da Fonseca. Era o nome de solteira de Beatriz Catta Preta. Ela o defendeu, conseguiu que respondesse ao processo em liberdade e tornou-se sua namorada.

No ano de 2003, Carlos Catta Preta foi condenado a três anos de prestação de serviços comunitários por crime de moeda falsa. Os dois se casaram, tiveram dois filhos e passaram a viajar com frequência até Miami, nos EUA.

O surgimento do nome de Carlos Eduardo Catta Preta Júnior nas conversas de procuradores da Lava Jato acrescenta um nome entre os motivos da fuga de Beatriz do Brasil.

Publicamente, a fuga de Beatriz Catta Preta, a ‘advogada das delações’, seria por supostas ameaças do doleiro Funaro e não por suspeita de extorsão de delatores envolvendo o então marido.