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L’Équipe compara perseguição a Tite com o que fez o ditador Médice à João Saldanha em 1970

A intromissão de Bolsonaro na Seleção Brasileira neste ano foi comparada pelo jornal francês ao que fez o ditador Médice em 1970

O principal jornal esportivo da França fez uma análise sobre a realização da Copa da Discórdia, a Copa América, em pleno descontrole da pandemia do Covid-19

“Tite fica e boicote acaba”, escreve o L’Équipe em sua edição desta terça-feira (8) ao analisar a decisão dos jogadores da Seleção Brasileira de disputar a Copa América. “Jair Bolsonaro queria a demissão do técnico, mas Tite foi salvo pelo escândalo atual na CBF”, esclarece o principal jornal esportivo francês.

Nesta última terça-feira (8), o L’Équipe, principal jornal esportivo da França deu destaque à intromissão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) à seleção brasileira de futebol e o comparou ao ex-ditador Emílio Garrastazu Médici quis retirar o técnico João Saldanha do comando da equipe. Na época, lembra a publicação, o tirano acusou Saldanha de ser comunista. Agora, na Copa América, ou a Copa da Morte, Bolsonaro chegou a pedir a cabeça de Tite, o atual técnico, por ter demonstrado insatisfação com o torneio realizado em plena pandemia do Covid-19.

O texto da L’Équipe é assinado pelo correspondente do diário no Brasil, Eric Frosio. Ele começou a matéria jornalística dizendo que o “país do futuro”, como descreve a famosa frase do escritor austríaco Stefan Zweig, parece preferir o passado. “Nos últimos dias, o Brasil e seu futebol dão a impressão de ter voltado 50 anos no tempo, à época da ditadura militar, quando João Saldanha comandava com sua astuciosa tática do 4-2-4 uma das mais belas equipes da história. No entanto, considerado comunista, o ex-jornalista foi afastado pelo poder as vésperas da Copa do Mundo de 1970, que consagrou Pelé, Tostão e outros tricampeões”, lembra a publicação francesa.

Repetição da história

A matéria diz que a história se repete em 2021, “com Jair Bolsonaro no papel do general Médici e Tite no de Saldanha”. O correspondente do L’Equipe cita o jornalista brasileiro André Rizek para afirmar que o presidente de extrema direita fez do técnico de 60 anos o alvo principal de suas críticas. Bolsonaro havia pedido ao presidente da CBF, Rogério Caboclo, para afastar o treinador logo após o jogo desta terça-feira contra o Paraguai pelas eliminatórias da Copa do Mundo.

De acordo com o jornal esportivo, para Bolsonaro o técnico Tite e seus assessores são considerados opositores à sua política e à realização da Copa América no Brasil. O torneio caiu de paraquedas no país, após ser recusado pela Colômbia e pela Argentina,  mas em um país com descontrole da pandemia e que continua a enterrar seus mortos e contabiliza mais de 470 mil óbitos desde o início do Covid-19.

Copa da discórdia

A idéia de Bolsonaro era substituir Tite por Renato Gaúcho, que iria comandar a Seleção Brasileira na “Copa América da discórdia”. Mas o plano fracassou, ressalta a publicação. O culpado pelo fiasco foi o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo, ter sido acusado de assédio sexual por uma funcionária da CBF e afastado da entidade por 30 dias.

No meio do escândalo, Tite conseguiu conservar uma postura de técnico íntegro e profissional. Ele conseguiu, principalmente, acumular bons resultados esportivos, avalia o correspondente, ressaltou o jornalista francês em seu texto. Desde que assumiu o comando da seleção brasileira em 2016, a equipe soma 40 vitórias, dez empates e quatro derrotas. Uma eficácia de 80%. Esse sucesso de Tite é o segundo melhor balanço da história, atrás justamente do conquistado por João Saldanha, lembra a reportagem. O técnico brasileiro é também estimado e respeitado pelos jogadores da equipe, de Thiago Silva a Neymar.

Abaixo-assinado

O torneio da discórdia começa no próximo domingo (13) com o duelo entre Brasil e Venezuela, em Brasília. No lugar do boicote, os jogadores brasileiros vão publicar um abaixo-assinado em protesto contra a organização da competição pela Conmebol e CBF nas atuais condições sanitárias.

Tite, “em paz com ele mesmo”, vai preparar a equipe para a vitória. E se ganhar, ao levantar o troféu no gramado do Maracanã, como em 2019, “sem dúvida o técnico brasileiro irá evitar o contato com o constrangedor Bolsonaro”, acredita L’Équipe.