por Francisco Celso Calmon
REPRODUÇÃO do portal de notícias GGN
Lula não será um revolucionário, como muitos da esquerda gostariam, não irá para a direita, como foi sonho de consumo dos EUA, será um pacificador, se a extrema direita não provocar o confronto, e teremos um governo de transição no sentido de recompor o Estado democrático de direito.
“Eu acho que se eu conhecesse o tanto de história que eu conheço hoje há 50 anos atrás, eu teria virado um revolucionário. Por não saber, eu virei um político democrata. A diferença é que tenho lado.” Lula.
Não apenas suas palavras são cristalinas e precisas, como a sua história como governante de dois mandatos, não deixam dúvidas de que não foi e nem será um revolucionário.
É mais que necessário que seus apoiadores, seguidores e formuladores encarem a realidade concreta para acertar na análise concreta.
Lula não é o nosso argentino-cubano Che Guevara e nem o nosso baiano Carlos Marighela. Nem o PT e provável coligação têm semelhanças com a Unidade Popular do Chile e nem Lula com o médico Salvador Allende.
Lula na história política do Brasil surgiu no prenúncio dos estertores da ditadura militar e início da redemocratização do país como sindicalista de resultados. Toda a sua verve, tática e postura eram voltadas para obtenção de resultados salariais para os trabalhadores, e soube e sabe jogar bem, com êxito, o tabuleiro do xadrez do adversário
É o contexto histórico que determina a formação e a personalidade política de uma liderança.
A história tem mostrado a importância de lideranças na condução da luta de classes, entretanto, tem mostrado que as lideranças de per si não fazem alteração nas estruturas sociais, elas conduzem, potencializam ou atenuam. E tem mostrado mais: que o culto à personalidade sobrevaloriza a importância subjetiva do indivíduo e subestima os fatores coletivos e objetivos das classes, tornando as massas dependentes do líder, considerando-o o salvador da pátria, sem o qual nada acontece no front das transformações estruturais.
Dos quadros políticos na arena eleitoral do Brasil nenhum é revolucionário.
Aos militantes revolucionários resta o desânimo, o conformismo? Não, resta o que deveria ser sempre o mais importante: as classes trabalhadoras e suas potencialidades no devir da história.
Não surgem lideranças revolucionárias sem que as classes trabalhadoras também estejam avançadas em seus níveis de consciência, organização e manifestação.
Vanguarda fruto apenas da própria subjetividade é estéril e aventureira.
Não queimemos energias querendo transformar o Lula num revolucionário, batendo na mesmice do já batido e sem efeito, canalizemos essas energias para transformar a classe trabalhadora em classe revolucionária.
Estando dotada de consciência e organização, da base à cúpula, social e institucional, a classe trabalhadora demandará ao governo federal por reformas estruturais e sustentáveis à democracia. Para tanto, as tarefas começam já, na formulação do programa de governo, caso Lula eleito: Implantar a Justiça de Transição, começando por instituir uma Comissão Nacional da Verdade II, para dar continuidade ao trabalho inacabado da CNV; democratizar os meios de comunicação; manter o BB e CEF como empresas públicas, reestatizar as empresas reconhecidamente estratégicas no sentido da soberania e da proteção do mercado nacional; realizar uma reforma tributária no sentido da justiça fiscal, incluindo IR crescente; reestruturar os ministérios voltados aos DHs, ao trabalho, a proteção do meio ambiente e a soberania, consoante a realidade étnico-social (66% de trabalhadores, 56% de negros, 53% de mulheres) do Brasil; criar o imposto da pandemia enquanto durar as consequências da covid-19 e transformá-lo depois em renda mínima; taxar o capital improdutivo, bem como os 1% dos mais ricos, lucros dividendos e heranças; acabar com os atuais tetos de gastos nas áreas de saúde e educação; reorganizador o BC com independência operacional e com metas positivas como a de emprego e crescimento, e o câmbio a serviço dessas metas; detalhar no programa de governo como cumprir o artigo terceiro da Carta Magna; planejar e fomentar a constituição da Assembleia Constituinte com o fito de limpar a Constituição de toda deformidade fruto do bolsonarismo e avançar em artigos que nunca foram cumpridos.
A marca da campanha deveria ser: Nenhuma família sem teto/Nenhum trabalhador sem emprego/Nenhum brasileiro sem comida.
Francisco Celso Calmon, coordenador do canal pororoca e ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça