fbpx
Início > Ministério da Saúde aponta falhas do governo Bolsonaro no atendimento aos Yanomami

Ministério da Saúde aponta falhas do governo Bolsonaro no atendimento aos Yanomami


Estruturas em condições precárias, insegurança, falta de profissionais e desassistência foram os principais problemas encontrados


Estruturas de atendimento em condições precárias, falta de profissionais e uma desassistência generalizada. Essas são as principais conclusões de um relatório do Ministério da Saúde sobre a situação da saúde na Terra Indígena | Foto: Divulgação

A situação de urgência na Terra Indígena (TI) Yanomami ocasionou o fim antecipado da missão exploratória e a declaração de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin) na região. É o que aponta o Relatório Preliminar da Missão Yanomami, com dados levantados entre 15 e 25 de janeiro de 2023. Os principais problemas encontrados foram estruturas de atendimento em condições precárias, falta de profissionais e uma desassistência generalizada.

A equipe partiu de uma denúncia de três óbitos de crianças que ocorreram entre 24 e 27 de dezembro de 2022. Dessas, duas tinham cerca de um ano de idade e a outra tinha 10 meses. O documento destaca que, na ocasião, chegaram a ser abertos 17 chamados aeromédicos para casos graves que exigiam transporte imediato. Já em janeiro, a equipe da missão exploratória constatou pelo menos dez remoções por dia, sendo que 23 crianças foram resgatadas de uma só vez em uma delas. Clique aqui para acessar o relatório na íntegra, no formato PDF.   Ou leia o documento a seguir:

RelatorioYanomamiversao_FINAL_07_02

Ausência de atendimento nos atendimentos médicos

Além disso, a situação em toda a TI Yanomami é de insegurança, com quatro polos de atendimento fechados na região de Surucucu e três em outras localidades, devido a graves ameaças. A equipe constatou, inclusive, que um dos polos foi reformado, mas não pode ser aberto. Com uma equipe de profissionais de saúde menor que o necessário, o diagnóstico situacional apontou também que não havia preparo para lidar com situações de urgência e emergência, uma vez que a vocação dos polos é o atendimento à atenção primária.

Outro fator que dificultou o atendimento às pessoas na região foi a falta de insumos, em especial, medicamentos. As remoções de urgências necessitam de insumos como como carrinho de parada, oxigênio medicinal em cilindro pequeno, desfibrilador automático externo (DEA), suporte de soro — nada disso estava à disposição da equipe no momento do trabalho de campo.

Superlotação no atendimento médico em Boa Vista

Na Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai) em Boa Vista, a situação era igualmente difícil quando da chegada da equipe. Com capacidade para cerca de 200 pessoas, entre pacientes e acompanhantes, a estrutura acomodava mais de 700. Quando a equipe chegou ao local, cerca de 150 pessoas estavam em situação de alta aguardando o retorno para o território.

Outro problema é que os familiares na Casai têm limitações para visitar pessoas internadas nos hospitais da capital, uma vez que o transporte terrestre local também estava com problemas. Além disso, também foram encontrados diversos problemas estruturais, como a precariedade dos banheiros e refeitórios, e questões sensíveis de recursos humanos, como desfalque na equipe e profissionais relatando problemas de saúde mental.

No relatório, os profissionais concluíram que as principais causas de óbitos são situações preveníveis, em especial a desnutrição. Outro problema encontrado foi a queda paulatina das coberturas vacinais, que passaram de mais de 80% em 2018 para 66% em 2019, 68% em 2020, 73% em 2021 e 53% em 2022.

Cenário de guerra’ e intervenções

A crise na saúde indígena é uma preocupação da gestão desde o levantamento de dados durante a transição de governo. Por isso, a missão foi enviada a Roraima logo nos primeiros dias de janeiro. O documento produzido após o trabalho foi o primeiro passo rumo à reparação de um quadro que todos os profissionais definem como ‘cenário de guerra’.

As conclusões dos profissionais deram origem aos grupos de trabalho no Centro de Operações de Emergência (COE). São quatro grandes eixos temáticos: alimentação e nutrição, insumos, infraestrutura e tecnologia e informação.

Em todos os temas houve avanços sensíveis durante as primeiras semanas de trabalho. Foi elaborado um plano de segurança alimentar, além de terem sido entregues 3,7 mil cestas básicas nas regiões de Auaris e Surucu. A previsão é de que outras 4,9 mil cestas sejam enviadas nos próximos dias.

O COE-Yanomami também conseguiu a doação de 200 m³ de oxigênio medicinal para os estabelecimentos, além da mobilização de mais um hospital de campanha junto ao Ministério da Justiça. Houve avanços também nas estruturas de comunicação, com a disponibilização antenas portáteis por satélite, que vão facilitar a comunicação das equipes de campo.