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MPF pede afastamento da presidente do Iphan após fala de Bolsonaro sobre o órgão não “dar dor de cabeça”

 “Bolsonaro segue engrossando a sua lista de crimes. Dessa vez, praticando advocacia administrativa ao interferir em órgão federal para beneficiar apoiadores. É crime patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública valendo-se da qualidade de funcionário. Ainda hoje acionaremos o STF para investigação de mais essa conduta criminosa de Bolsonaro”, senador Randolfe Rodrtigues (Rede-AP)

Crime foi praticado diante de empresários na Fiesp, que ao invés de ficarem indignados, deram gargalhadas | Foto: Carolina Antunes/PR

O Ministério Público Federal (MPF) requereu, em ação popular, o imediato afastamento, em caráter liminar, da atual presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Larissa Rodrigues Peixoto Dutra, até o julgamento de mérito. O pedido se dá pelo surgimento de nova confissão do chefe do Poder Executivo, com prova vídeo documental, demonstrado o vício de finalidade na prática do ato administrativo. A plateia era formada por empresários paulistas reunidos no auditório da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), que ao invés de ficarem indignados, deram gargalhadas em aprovação. Pedido, feito através da Ação Popular 5028551-32.2020.4.02.5101 visa anular nomeação de Larissa Rodrigues Peixoto Dutra por falta de qualificação técnica para o cargo.

Bolsonaro confessa que mandou demitir a direção do Iphan e colocar uma presidente incompetente ao cargo para não dar dor de cabeça

Na certeza da impunidade, na última quarta-feira (15), em evento realizado na Fiesp, o presidente Jair Bolsonaro (PL) confessou os  crimes de prevaricação e advocacia administrativa para privilegiar o seu empresário bolsonarista Luciano Hang. Esses são os crimes citados pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) na notícia-crime que protocolou no Supremo Tribunal Federal (STF).

O MPF fez a transcrição da fala do presidente, que foi gravada e transmitida pelos meios de comunicação: “Também, há pouco tempo, tomei conhecimento que, uma obra, uma pessoa conhecida, o Luciano Hang, estava fazendo mais uma loja e apareceu um pedaço de azulejo durante as escavações. Chegou o Iphan e interditou a obra. Liguei para o ministro da pasta: ‘que trem é esse?’, porque eu não sou tão inteligente como meus ministros. ‘O que é Iphan?’, com PH. Explicaram para mim, tomei conhecimento, ripei todo mundo do Iphan. Botei outro cara lá. O Iphan não dá mais dor de cabeça pra gente [risos].”

Com o surgimento dessa nova prova video-documental, para o MPF, não há oposição de dúvida razoável sobre o desvio de finalidade na nomeação e posse da atual presidente do Iphan. “No caso em julgamento, sequer buscaram os agentes do ato ocultar a verdadeira motivação na nomeação e posse da ré Larissa Rodrigues Peixoto Dutra, qual seja, a de ‘não dar mais dor de cabeça’ para o Presidente da República e seu círculo de ‘pessoas conhecidas’”, analisa o MPF.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional é uma das mais antigas instituições federais brasileiras, e tem por função precípua “promover, em todo o país e de modo permanente, o tombamento, a conservação, o enriquecimento e o conhecimento do patrimônio histórico e artístico nacional” (Lei Federal no 378/1937). Leia a íntegra da Ação Popular impetrada na Justiça pelo MPF, em arquivo PDF:

TutelaEvidenciaAfastamentoIPHAN

Ação Popular

Em junho do ano passado, a Justiça concedeu liminar para suspender a nomeação de presidente do Iphan, após o MPF se posicionar, em ação popular, pela nulidade do ato administrativo por desvio de finalidade e falta de capacitação técnica. Além disso, o MPF apurou que o marido de Larissa, Gerson Dutra, teria integrado a equipe de segurança particular do presidente da República durante a campanha eleitoral, o que indicaria possível desvio de finalidade na nomeação de pessoa não qualificada para a função pública.

Larissa não atende os requisitos estabelecidos nos Decretos Federais 9.238/2017 e 9.727/2019, que exigem dos nomeados “perfil profissional ou formação acadêmica compatível com o cargo”, e também experiência profissional mínima de cinco anos em atividades correlatas e título de mestre ou doutor na área de atuação. Larissa Rodrigues Peixoto Dutra é graduada em Turismo e Hotelaria pelo Centro Universitário do Triângulo, e cursa atualmente pós-graduação lato sensu em MBA executivo em gestão estratégica de marketing, planejamento e inteligência competitiva, na Faculdade Unileya.

Para o MPF, ela não possui formação acadêmica compatível com o exercício da função, uma vez que não obteve graduação em história, arqueologia, museologia, antropologia, artes ou outra área relacionada ao tombamento, conservação, enriquecimento e conhecimento do patrimônio histórico e artístico nacional. No entanto, contra a decisão liminar, os réus interpuseram os agravos de instrumento 5006698-41.2020.4.02.0000 e 5006708-85.2020.4.02.0000, os quais foram deferidos pela 8ª Turma Especializada do TRF2, em acórdão datado de 20 de outubro de 2021.