Ocupação denuncia os crimes ambientais da Suzano, a maior empresa de celulose do mundo, devido as consequências do monocultivo de eucalipto para os povos, a terra e a natureza e questiona o Estado sobre a função social e ambiental da terra

Na manhã desta quinta-feira (13), cerca de mil mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ocuparam área da Suzano Papel e Celulose, na cidade de Aracruz, no Espírito Santo, para denunciar os seus crimes ambientais, as consequências do monocultivo de eucalipto para os povos, a terra e a natureza, bem como questionar o Estado brasileiro sobre a função social e ambiental da terra.
De acordo com informações divulgadas à imprensa pelo MST nacional, a ação faz parte da Jornada Nacional de Luta das mulheres Sem Terra, que acontece de 11 a 14, na semana após o 08 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres, em que as Sem Terra em todo o Brasil entoam: “O agronegócio é violência e crime ambiental, a luta das mulheres é contra o capital!”.
“Vivemos em um contexto de aprofundamento do colapso ambiental e climático, em que o povo brasileiro sofre com a alta nos preços dos alimentos, enquanto empresas como a Suzano avançam com seu poder destrutivo, lucrando com suas falsas ‘soluções’ para a crise ambienta”, diz texto da entidade divulgado à imprensa.

Tempo indeterminado
A ocupação das terras da Suzano começou na madrugada desta quinta-feira. Segundo Eró, o acampamento é por tempo indeterminado, até que a Suzano dê resposta positiva sobre as 22 áreas reivindicadas. “Estamos na fase de organização do assentamento, das barracas. Essa ação Sudeste fortalece a luta em reivindicação das áreas que a Suzano precisa destinar para os assentamentos”, disse Eró Silva, da direção nacional do MST.
O clima no acampamento é de tranquilidade até o momento. A Polícia Militar esteve no local observando o movimento, assim como trabalhadores da segurança privada da empresa.Em nível nacional, as conversas com o Incra já estão acontecendo nesta manhã, ainda sem informações dos resultados.
Denúncia de crimes pela Suzano
Segundo a nota do MST, “a empresa vem há décadas causando destruição e devastação ambiental sistemática, com grilagem de terra, envenenamento de solos, rios e matas nativas, para a expansão dos seus monocultivos de eucalipto, o que leva à perda de biodiversidade e à degradação de ecossistemas, instaurando uma série de conflitos contra os povos do campo, águas e florestas. Essas violências impactam primeiramente a vida das mulheres, especialmente, as mulheres negras, camponesas, indígenas e quilombolas.”
Citando estudos mostram que mostram que as fábricas da Suzano e os monocultivos de eucalipto, as mulheres do MST garantem que a empresa consome cerca de 200 bilhões de litros de água por ano, causando a seca de rios e córregos, “sendo o equivalente ao consumo de mais de 6 milhões de pessoas”. Ainda é citada uma estimativa onde as emissões de CO2 na atmosfera feitas pela Suzano chegam a 4 milhões de toneladas por ano, mais do que alguns países inteiros. “Além disso, na América Latina é a única empresa autorizada a plantar dois tipos de eucalipto transgênico, mesmo que isso represente graves riscos à saúde”, completa a nota.
As mulheres do MST ainda apontam que o uso intensivo de agrotóxicos é outra marca dos monocultivos de eucalipto, e através da pulverização aérea contamina a terra, a água e as comunidades no entorno, mas também as roças, hortas e até a produção de abelhas de pequenos agricultores nas áreas próximas.
“Entre os venenos mais utilizados (pela Suzano) estão o herbicida Glifosato e o formicida Sulfuramida – um produto para combater formigas, atualmente banidos em muitos países do mundo e ambos associados ao desenvolvimento do câncer e diversas outras doenças. A contaminação também se dá pelo uso do cloro nas fábricas de celulose, o qual a empresa despeja suas dioxinas, um dos produtos mais tóxicos que se tem conhecimento no mundo, nos rios e no mar”, continua.
“A Suzano e seus crimes contra a democracia”, dizem as mulheres do MST
“É importante dizer que sua história devastadora no Espírito Santo, datam desde a ditadura empresarial militar, em que seus acionistas foram premiados por apoiar o golpe, com a facilitação e a construção de uma série de medidas para privilegiar a empresa nos conflitos fundiários entre os povos tradicionais e a empresa de celulose, bem como facilitar fraudes nas titulações. Nesse período o Brasil passou de importador de pasta de celulose branqueada para um dos maiores exportadores do mundo”, alegam as mulheres do MST em nota divulgada à imprensa.
Elas ainda lembram que em 2002, a Assembleia Legislativa capixaba criou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI da Aracruz), trazendo à tona essa relação entre a empresa, a ditadura e a grilagem de terra. Segundo apuração, a empresa usava os funcionários como “laranjas”, que falsamente se qualificavam como agricultores, e manifestavam a intenção de desenvolver atividades agrícolas na propriedade. “Contudo, após obter a titulação das propriedades rurais, transferiram à então Aracruz Celulose o título da propriedade, acarretando a concentração de muita terra no Espírito Santo”, denunciam.
“Atualmente, seguindo seu histórico de conspirar contra o povo brasileiro, a Suzanno segue a financiar e apoiar o conservadorismo. Os integrantes da diretoria da empresa e fundadores, os Feffer, com uma fortuna acumulada de mais de 30 bilhões reais, integram e patrocinam o Movimento Endireita Brasil, do qual Carla Zambelli e Ricardo Salles também fazem parte. Ambos, são a base do bolsonarismo que intentou o golpe em janeiro de 2023 e ruralistas. Zambelli integra a Frente Parlamentar Agropecuária e apoiou o PL da Grilagem, já Salles foi acusado e condenado pelo Ministério Público de São Paulo, quando secretário de Meio Ambiente, de favorecer empresas – entre elas a Suzano Celulose, privilegiando extração ilegal de madeira e minérios em detrimentos de medidas socioambientais.”, completam a denúncia.

Por que as mulheres Sem Terra lutam?
São elas que explicam o motivo do movimento desta quinta-feira. “É neste contexto que ocupamos a Suzano Papel e Celulose, para denunciar que suas terras poderiam assentar mais de 100 mil famílias em todo o Brasil e produzir comida para a população brasileira. A empresa representa uma síntese do que significa o modelo do agronegócio para o povo brasileiro – uma grande falácia, um projeto de ganância que condena os povos e a natureza, um empecilho para o Brasil ser um país com soberania popular, justiça social e ambiental. O agronegócio é a mentira do Brasil.”
E prosseguem: “Reafirmamos o compromisso do MST de seguir lutando por Reforma Agrária Popular, para avançar na produção de alimentos saudáveis e a preços justos para o povo brasileiro. Denunciamos o Estado e a Frente Agropecuária, que inviabiliza a retomada da Reforma Agrária, bem como cobramos agilidade do governo federal para desapropriar e assentar as famílias que estão em 22 áreas apropriadas ilegalmente pela Suzano.”
E finalizam com as seguintes palavras de ordem: “O Agronegócio é violência e crime ambiental, a luta das mulheres é contra o capital! Por Marielle e à vida das mulheres, Sem anistia para golpista!”!