Em evento promovido pela revista The Economist, António Guterres disse ser “loucura” a corrida por substituir combustíveis da Rússia por outras fontes fósseis; países do G20 devem liderar ações e impulsionar financiamento climático; compromissos atuais fariam aumentar em 14% as emissões globais
O intuito do presidente americano Joe Biden de estimular as vendas da indústria armamentista do seu país no conflito entre a Rússia e a Ucrânia, ao chegar à inconsequente decisão de interromper a importação do petróleo russo, teve uma crítica indireta do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. Guterres alertou que enquanto as principais economias buscam uma estratégia para substituir os combustíveis fósseis da Rússia, após as sanções impostas pelos Estados Unidos e seguida pelos países aliados, “elas podem criar uma dependência ainda maior dessa fonte de energia e prejudicar as ações para conter o aquecimento global”. O fórum ocorreu nesta última segunda-feira (21).
O dirigente da ONU foi o principal convidado virtual de um fórum promovido pela revista britânica The Economist, que debateu a sustentabilidade global. Em mensagem de vídeo, o chefe da ONU destacou a importância de manter vivo o objetivo de conter o aquecimento global em até 1.5ov C, lembrando que é necessário reduzir as emissões globais em 45% até 2030. Nessa oportunidade ele disse ser “loucura” a corrida por substituir combustíveis da Rússia por outras fontes fósseis; países do G20 devem liderar ações e impulsionar financiamento climático; compromissos atuais fariam aumentar em 14% as emissões globais.
Catástrofe climática
Guterres ainda admitiu que a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP26), evento realizado no ano passado em Glasgow, na Escócia, não resolveu a iminência de uma catástrofe climática. Diante desse reconhecimento, afirmou que as emissões globais devem aumentar quase 14% na década de 2020. Assim, o líder das Nações Unidas afirmou que o mundo caminha para uma “catástrofe climática”.
Durante a sua participação virtual no evento da revista inglesa, ele também citou o impacto da guerra na Ucrânia, com o risco de derrubar os mercados globais de alimentos e de energia e ter grandes implicações para a agenda climática global. Essa nova aceleração da destruição do planeta, estimulada pelo presidente dos Estados Unidos, vem das medidas de proibir a importação do petróleo russo, diante de um quadro de escassez desse produto natural no mundo. As medidas para promover a substituição do petróleo russo são danosas para o planeta e “vão prejudicar as ações para conter o aquecimento global”.
O chefe da ONU chamou de “loucura” a tentativa dos países de fechar a lacuna no fornecimento de combustíveis ao mesmo tempo que negligenciam as políticas para reduzir o uso deles, segundo nota divulgada pela ONU para a imprensa internacional. Para António Guterres, os membros do G20, responsáveis por 80% das emissões globais, devem liderar as ações para conter o avanço da temperatura.
Na exposição do fórum da publicação voltada para o mundo dos negócios, o dirigente da ONU afirmou que embora alguns países já tenham anunciado políticas para beneficiar o meio ambiente, outras apontam as nações emergentes como as grandes culpadas do aumento de emissões. Para o líder da ONU, essa não é hora de buscar culpados e sim de buscar coalisões para buscar financiamento para expandir o uso de fontes limpas e renováveis de energia.
Empresários ainda financiam o carvão
Outro ponto onde Gueterres chamou a atenção para áreas do setor privado que ainda financiam o carvão. Para Guterres, esse é um investimento “estúpido”, que deixa bilhões em ativos ociosos. O secretário-geral reforçou que “é hora de acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis e parar a expansão da exploração de petróleo e gás”. Para António Guterres, o aumento da vulnerabilidade de diversas populações com o aumento de catástrofes climáticas destaca a necessidade de ações concretas para mitigação, mas também para adaptação.
Assim, ele destacou o aumento de investimento em planos que ajudem populações, especialmente de nações insulares e de baixa renda, a lidarem com os eventos climáticos. Guterres lembrou o compromisso financeiro de US$ 100 bilhões para que os países em desenvolvimento possam implementar políticas climáticas.
Ao finalizar sua participação, o secretário-geral pediu o compromisso com a eliminação do carvão e de todos os combustíveis fósseis, bem como a transição energética rápida, justa e sustentável. Ele também fez um apelo para o fortalecimento dos planos climáticos nacionais e coalizões climáticas, além de focar na descarbonização de grandes setores como transporte marítimo, aviação, siderurgia e cimento.