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Mundo deu destaque à maior manifestação contra Bolsonaro de todos os tempos

Emissoras de TVs árabes destacaram a maior manifestação contra Bolsonaro dos últimos tempos | Reprodução : Al Mayadeen Channel

Mas, no Brasil emissoras bolsonaristas, como a TV Record, chegaram usar da mentira para defender o presidente, como foi a agressão aos manifestantes pela bolsonarista Polícia Militar de Pernambuco, onde a Record disse que “foi provocada”

Uma análise feita pelo colunista Mauricio Stycer, do portal UOL, observou a cobertura das emissoras de televisão sobre a maior protesto contra o desgoverno do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em 22 Estados e no Distrito Federal. Somente a Rede Globo e a Rede Bandeirantes deram a noticia na escalada (destaques do que será noticiado) do Jornal Nacional e no Jornal da Band. As emissoras bolsonaristas, como a Rede Record, do empresário Edir Macedo, e o SBT, de Silvio Santos, ignoraram devido às suas alianças políticas com Bolsonaro.

O colunista observou que a Record, empresa do mesmo grupo que controla a Igreja Universal, usou da audácia de colocar como um dos sete destaques do seu Jornal da Record que “Na Inglaterra, manifestantes vão às ruas protestar contra o confinamento”. E ignorou a mega manifestação ocorrida no Brasil. Grupo associado a Rede Record no Espírito Santo foi mais longe e usou o seu portal de noticias para denunciar, bravamente, que a manifestação em Vitória estava prejudicando o trânsito. O portal foi duramente criticado nas redes sociais e se viu obrigado a refazer o título, mas mantendo a sua “denúncia” no texto.

Mesmo nas duas que destacaram o protesto, houve uma reportagem pequena e muito menor do que a cobertura das grandes emissoras de televisão internacionais. No Jornal Nacional,  diz o analista do UOL, o assunto foi resumido como: “Manifestantes protestam contra o presidente Jair Bolsonaro em todos os estados e no Distrito Federal”. O telejornal da Globo, numa reportagem de 3min20, foi o único que teve a preocupação de dimensionar o tamanho dos protestos e especificar as pautas que foram levadas às ruas. A violência policial no Recife foi tratada com destaque.

Já o telejornal da Band resumiu os acontecimentos do dia numa reportagem de 1min15. “Protestos contra o governo fecham avenidas e provocam aglomeração em várias cidades do país”, informou, citando o nome do presidente na tela. Houve menção à violência policial em Recife, incluindo a notícia que os envolvidos na operação em várias cidades do país”, informou, citando o nome do presidente na tela. Houve menção à violência policial em Recife, incluindo a notícia que os envolvidos na operação foram afastados.

A emissora do aliado de Bolsonaro, o apresentador Silvio Santos, embora não tenha dado a notícia na escalada do seu jornal, falou sobre o assunto por 2 minutos e 15 segundos. “O sábado teve protestos contra o governo Jair Bolsonaro pelo país”, noticiou o SBT. “De máscara, mas nem sempre respeitando o distanciamento, os manifestantes pediram vacina, emprego e ampliação do auxílio emergencial”, informou o telejornal ao anunciar a sua reportagem sobre o assunto.

Antiética

A emissora da Igreja Universal, aliada de Bolsonaro, foi totalmente antiética na sua cobertura sobre o mega protesto. No “Jornal da Record” o empresário Edir Macedo censurou o nome presidente Bolsonaro, que não foi citado como sendo o alvo do protesto. Em nenhum momento o nome do Bolsonaro foi citado na emissora do dono da Igreja Universal, que no Espírito Santo é retransmitida pela TV Vitória. Não foi mencionado em momento algum dentro da reportagem de apenas 55 segundos, diz Mauricio Stycer.

 “Pelo menos 16 capitais do país e várias cidades do interior registraram hoje protestos contra o governo federal”, disse o apresentador da emissora de Edir Macedo, o jornalista Eduardo Ribeiro. No site da emissora, a reportagem do telejornal foi intitulada assim: “Pelo menos 16 capitais registram manifestações a favor da prorrogação do auxílio emergencial”, inventou o portal de “notícias”. O Jornal da Record ainda responsabilizou os manifestantes pela violência policial em Recife, dizendo que “a manifestação que seguia pacífica terminou em confronto com a polícia quando um grupo tentou seguir por um trajeto não autorizado”, afirmou em nova inversão da verdade a TV Record. A Record escondeu a informação de que a vereadora Liana Cirne Lins (PT), do Recife tinha sido criminosamente ferida com gás de pimenta nos olhos e que, em seguida, os bolsonaristas usando a farda da PM de Pernambuco fugiram covardemente. Veja o vídeo abaixo:

No Brasil, a Rede Globo foi uma das únicas a mostrar a ação criminosa dos PMs bolsonaristas de Pernambuco | Vídeo: Redes sociais

Cobertura internacional

As mentiras inventadas pela TV Record ou a minimização da maior manifestação contra o presidente Bolsonaro, no entanto, foram amplamente divulgadas na imprensa internacional. “A cobertura da imprensa internacional sobre as marchas afirma que estes podem ter sido os maiores protestos no Brasil desde o início da pandemia e aponta o momento de fragilidade do presidente, que vê sua popularidade cair enquanto o país continua registrando média próxima a duas mil mortes por dia em decorrência da Covid-19”, disse a BBC londrina.

O jornal britânico The Guardian, um dos mais importantes jornais do mundo, tem a cobertura de ontem como um dos links mais lidos, deu um amplo destaque em manchete e foi uma das matérias jornalísticas mais lidas. No mundo árabe, além da rede de televisão Al Jazeera, a Al Mayadeen Channel, uma rede de notícias em árabe, deu o noticiário em destaque e dizendo a verdade, coisa que a Record escondeu. A Al Mayadeen Channel disse que o protesto era contra o genocídio promovido pelo presidente Bolsonaro, que se recusou a comprar vacina pelo seu negacionismo, além da falta de um auxílio emergencial.

“Incomível”

A BBC ainda destacou que uma das revistas econômicas mais importantes do mundo, a The Economist  destacou no topo do seu site “Bolsonaro encurralado”. A BBC ainda disse em sua reportagem: “Conhecido por ser ativo em suas redes sociais, o presidente brasileiro não citou diretamente as manifestações, mas provocou oponentes ao publicar uma foto com as palavras “imorrível, imbroxável e incomível” (SIC).

Por ser considerado mais perigoso do que o próprio vírus do Covidf-19, foi a explicação dada para milhões de brasileiros saírem à rua para protestar em plena pandemia, segundo narrou a BBC. “O argumento de que Bolsonaro ofereceria mais perigo à população do que o próprio coronavírus apareceu em diferentes reportagens internacionais – caso do francês Le Monde e do britânico Guardian”. O Le Monde, tradicional jornal parisiense, destacou que as marchas no Rio de Janeiro começaram em frente ao edifício conhecido como “Balança mas não cai’ – “o ponto de encontro não parece ter sido escolhido aleatoriamente”, diz o periódico.

Despencou

De acordo com a agência de notícias Reuters, reproduzida pela  maioria das emissoras de televisão, rádio, sites e jornais impressos em todo o planeta, a “popularidade de Bolsonaro despencou durante a crise do coronavírus”. A agência, que também classifica o presidente brasileiro como “líder de extrema-direita”, diz que Bolsonaro “minimizou a seriedade da pandemia, descartou o uso de máscaras e lançou dúvidas sobre a importância das vacinas”.

Ainda de acordo com a Reuters, os protestos, “organizados por partidos políticos de esquerda, sindicatos e associações estudantis” foram pacíficos. A agência de notícias France Press enviou vídeos da manifestação, que foram reproduzidos em televisões de todo o mundo. A agressão criminosa dos policiais militares bolsonaristas de Recife foi combatida universalmente e nenhuma emissora usou o argumento mentirosa da bolsonarista TV Record. A BBC inglesa também citou o episódio na capital pernambucana. “A polícia disparou balas de borracha e gás lacrimogêneo contra os manifestantes, que tentavam marchar por uma estrada fechada, segundo a mídia local.”