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Municípios da GV não estão dando informações à Sesa-ES sobre surto de gastroenterites


Os números oficiais da Secretaria da Estado da Saúde do Espírito Santo estão distantes da realidade sobre o surto de gastroenterites, que atinge a Região Metropolitana de Vitória. A Sesa-ES garante que está desinformada, porque os municípios não querem seus técnicos participando das investigações


Municípios da GV não estão dando informações à Sesa-ES sobre surto de gastroenterites. Segundo a Fiocruz, a transmissão do rotavírus ocorre por via fecal-oral, por contato pessoa a pessoa, por meio de água ou alimentos contaminados | Imagem: Freepik

As Prefeituras da Região Metropolitana de Vitória (ES) estão sonegando as informações sobre o surto de gastroenterites e não estão repassando os dados para a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa-ES). Por isso, nem o Ministério da Saúde e nem a Organização Pan Americana de Saúde (Opas) estão sendo notificados do surto que atinge os moradores e turistas. A causa da sonegação da informação, que ocorre em um ano de eleições municipais, não foi revelada.

Oficialmente, a Sesa-ES tomou conhecimento de que em 10 dias, entre 8 de janeiro e esta última quarta-feira (17) houve apenas 45 casos em apenas três municípios da Região Metropolitana. Foram 13 em Guarapari, 14 em Vila Velha e 18 na Serra. Em Cariacica, Viana, Fundão e Vitória não há registros na Secretaria. Mas, exatamente em um único bairro de Cariacica, nesta última quarta-feira, dezenas de moradores fizeram relatos sobre o surto de gastroenterites, que afetou crianças, idosos e até trabalhadores domésticos.

Casos em Cariacica são desconhecidos pela Secretaria da Saúde

No grupo de WhtasApp “Jardim América tem voz”, uma moradora levantou o debate, ao fazer a seguinte pergunta: “Alguém no grupo, tem conhecimento ou esta com algum familiar , com os sintomas de diarréia , vômito , ou até febre?.” Uma outra moradora deu a resposta: “Meu marido. Estamos com diarreia. E nem fomos pra Guarapari. Meu Pedreiro também está com diarreia.”

Uma terceira moradora completou: “Meu filho está com mal estar e diarreia. É  uma virose tem que se tratar comer coisas mais leve .Está um surto geral.”  A quarta participante do grupo emendou: “Aqui, a filha da minha vizinha está assim também.” Outra, a quinta, afirmou: “Nossa passei com isso segunda à noite e ontem foi muita diarreia e dor no corpo.”

Já a sexta depoente deu a seguinte informação: “ Minha filha deu no sábado a noite e eu dei na madrugada de domingo pra segunda. A médica do PA falou que está tendo surto de gastroenterite… Já tinha atendido várias crianças com os mesmos sintomas.”Uma sétima completou: “No início do ano meu marido teve esses sintomas. Uma semana depois, eu tive. Achei estranho pq minhas filhas não tiveram nada.”.No entanto, devido ao boicote de informação, para a Sesa-ES não existe nenhum caso de gastroenterite em Cariacica.

Nota oficial

“A Secretaria da Saúde (Sesa) informa que entre o dia 08 de janeiro até esta quarta-feira (17), foram notificados no sistema E-SUS VS um total de 45 casos suspeitos de gastroenterite na Grande Vitória (Serra, Vila Velha e Guarapari), sendo 18 na Serra, 14 em Vila Velha e 13 em Guarapari. A Sesa ressalta que as investigações dos casos foram realizadas pelos municípios, que não solicitaram a participação de técnicos da Secretaria”, diz o órgão público em nota enviada ao Grafitti News.

O que diz a Fiocruz sobre surto de gastroenterites

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) diz que a infecção por rotavírus é uma das mais importantes causas de diarreia grave em crianças menores de 5 anos, particularmente nos países em desenvolvimento. Além da diarreia, a doença é caracterizada por uma forma abrupta de vômito e febre alta. Segundo o Ministério da Saúde, na população até 4 anos a quase totalidade dos indivíduos já teve algum episódio de diarreia por rotavírus.

Entre adultos, as reinfecções ocorrem com relativa frequência, sobretudo entre viajantes de países desenvolvidos em visita às regiões tropicais, pais de crianças com diarreia por rotavírus, indivíduos que trabalham em unidades pediátricas e creches, idosos e comunidades isoladas. Estima-se que cerca de um terço dos adultos se infectem em casos de transmissão intrafamiliar.

Nas fezes de crianças infectadas, durante a fase aguda do quadro diarréico, cerca de um trilhão de partículas de rotavírus são eliminadas por mililitro de espécime fecal, explica a Fiocruz. A transmissão ocorre por via fecal-oral, por contato pessoa a pessoa, por água ou alimentos contaminados. A disseminação por meio de mãos contaminadas é, provavelmente, a forma mais importante de transmissão. Por isso, para prevenir a doença, bons hábitos de higiene são fundamentais, como lavar sempre as mãos antes e depois de utilizar o banheiro, trocar fraldas, manipular ou preparar alimentos.

Existe vacina, que não é oferecida nos postos de saúde

De acordo com a Fiocruz, o Brasil foi o primeiro país do mundo a oferecer a vacina contra rotavírus na rede pública de saúde. Em 2006 a imunização foi acrescentada ao calendário básico de vacinação para crianças em todo o país, sendo administrada em duas doses, aos 2 e aos 4 meses de vida. Em 2005, o Brasil registrou mais de 95 mil internações atribuídas ao rotavírus na faixa etária abaixo de 5 anos. Em 2007, após a introdução da vacina, estimou-se uma redução de quase 30% dessas hospitalizações em menores de 1 ano.

Atenta à importância dessa imunização, a Fiocruz firmou, em 2008, um contrato com a multinacional britânica GlaxoSmithKline (GSK), que transferirá para Biomanguinhos a tecnologia para produção da vacina contra rotavírus. O acordo permitirá ao Brasil produzir cerca de 50 milhões de doses nos próximos cinco anos, atendendo integralmente à demanda do Programa Nacional de Imunizações (PNI). A transferência de tecnologia será feita em quatro etapas e a nacionalização da vacina deve acontecer em 2013. Após a incorporação definitiva da tecnologia, calcula-se uma economia de, pelo menos, US$ 100 milhões aos cofres públicos em um prazo de cinco anos.

Além disso, a Fiocruz conta com um Serviço de Referência Regional para Rotaviroses. O Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC é responsável pelo desenvolvimento e pela aplicação de metodologias para detecção e caracterização molecular dos principais vírus causadores das gastrenterites agudas, o que inclui rotavírus, astrovírus, norovírus e adenovírus entéricos.

Fiocruz chama atenção para as diarreias bacterianas

Para o caso de gastroenterites provocadas pelas bactérias Escherichia coli (E. coli), a Fiocruz Amazônia apresentou a proposta de produção de um kit para a identificação rápida do micro-organismo, com custo mais baixo. A hipótese lançada no estudo é que algumas E. coli não precisam ser tratadas com antibióticos quando devidamente diagnosticadas, mas a vagarosidade na realização dos testes de identificação acaba levando os médicos a prescreverem medicamentos antes do diagnóstico elucidado.

“Tornamo-nos grandes criadores de bactérias multirresistentes. Além do mais, acaba saindo muito caro para o Estado, que mantém hospitais e laboratórios infantis à base de medicamentos específicos e sofisticados, quando, muitas vezes, em casos de diarreias, não há necessidade deste tratamento. Se identificado o subgrupo de E.coli diarreiogênica, a criança passa somente pelo ambulatório e, com orientação médica, a própria mãe pode cuidar da criança em casa, não precisando ir para emergência e diminuindo, assim, o fluxo de crianças nos hospitais”, salienta a pesquisadora Andrea Grava.