Diferente do que pesquisas antigas acreditavam, a musculação feita de forma adequada não faz mal ao coração e pode ser praticada por todos
Os exercícios de musculação em academias de ginástica tornaram-se uma prática muito popular nas últimas duas décadas. E se antes muitas pessoas acreditavam que a musculação poderia ser perigosa para crianças e idosos e até mesmo imprópria para mulheres, mitos e preconceitos foram sendo abandonados ao longo do tempo, graças aos estudos sobre o assunto.
Na década de 1980 a comunidade médica ficou preocupada quando pesquisadores Universidade McMaster, em Ontário, no Canadá, realizaram um estudo com a participa-ção de cinco fisiculturistas. Na época, a pesquisa mostrou que a pressão arterial podia aumentar para valores muito acima dos níveis normais durante exercícios físicos se fosse feita uma série muita pesada no “Leg Press” – musculação para as pernas inferiores, bastante popular enyre os praticantes de musculação. “Mas desde então, muitos outros estudos mostraram beneficios da musculação quando praticada em menor intensidade. E mesmo quando praticada em alta intensidade, não há um consenso sobre os efeitos da musculação sobre a pressão arterial medida em consultório”, explicou a professora de Educação Fisica e Doutora em Fisiologia, Elis Aguiar Morra, que sob orientação da doutoranda em Ciências Fisiológicas, Luciana Elis Aguiar Morra, que sob orientação da doutoranda em Ciências Fisiológicas Luciana Carletti, investigou durante seu mestrado os possíveis efeitos sobre a estrutura e função do coração e das grandes artérias quando as pessoas praticam a musculação de forma intensa por longo período. Durante o estudo, Elis conta que a questão inicial era se a musculação praticada intensamente, e por muito tempo, poderia aumentar a rigidez arterial e, por isso, aumentar também a pressão arterial medida durante o repouso. Os resultados dessa investigação inédita foram publicados na segunda maior revista científica do mundo dedicada a estudos sobre a hipertensão arterial, o Journal of Hypertension.
O estudo foi realizado através de uma parceria entre o Centro de Educação Física e Desportos e o Programa de Pós Graduação em Ciência Fisiológicas, ambos localizados na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Todo o estudo foi com recursos do CAPES e do CNPQ. “Os primeiros resultados foram que homens de 25 a 50 anos de idade, praticantes de musculação intensa há mais de quatro anos, não só não tinham pressão arterial alta do que os não praticantes, como apresentavam maior complacência da artéria aorta, porque a musculação praticada por muito tempo provocou aumento no diâmetro da aorta desses homens:, contou. De acordo com Elis Morra, as análises do ecocardiograma também mostraram que a principal câmara do coração, responsável por bombear sangue para o corpo todo, era maior nos praticantes de musculação, sem qualquer prejuízo às funções cardíacas.
“Esses resultados ajudam a ampliar a margem de segurança na prescrição dos exercícios de musculação e encorajam a inserção da musculação como parte de um programa de condicionamento físico geral, em função dos seus benefícios cardiovasculares, mesmo se praticados em alta intensidade”, disse.
Mas a pesquisadora alerta que os exercícios aeróbicos não devem ser negligenciados porque a musculação, principalmente com altas cargas, não mostra benefícios ao sistema cardiorrespiratório. “O acompanhamento profissional não deve ser descartado, principalmente porque a alta intensidade nos exercícios de musculação requerem maior controle, visando ao adequado controle dos potenciais riscos de sobrecarga excessiva às articulações, tendões e ligamentos”, alertou.
Elis Aguiar Morra
Doutora em Fisiologia