A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26) começou neste último domingo (31) em Glasgow, a maior cidade escocesa, com a cidade registrando 6° C. A secretária executiva da Convenção do Clima, Patricia Espinosa, fez um discurso contundente na abertura da COP26. “Vamos ver o que conquistamos. Estamos em um ponto crucial da história. Ou escolhemos alcançar reduções rápidas e em grande escala das emissões para manter a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C ou aceitamos que a humanidade enfrenta um futuro sombrio neste planeta”, disse Espinosa para completar que os resultados da COP26 vão ditar o destino das próximas gerações.
Mais de 100 líderes mundiais participam da conferencia, menos o responsável direto pela destruição das florestas brasileiras e de permitir o descumprimento do Acordo de Paris ao deixar as emissões de gases tóxicos se elevarem assustadoramente. Sim, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido), após ter uma participação pífia e ser ignorado na reunião do G20 em Roma, decidiu fugir da COP26 em Glasgow e não compareceu.
Escolha rígida entre duas opções
No evento de abertura da COP26, a secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, Patrícia Espinosa, disse que a humanidade enfrenta escolhas rígidas. Para ela, o mundo tem duas opções: ou reconhecer que uma lógica de continuidade não vale o preço arrasador que se paga, e avançar para a transição rumo a um futuro mais sustentável, ou aceitar que tem investido na sua extinção.
Já o presidente do evento, Alok Sharma, disse acreditar que a COP26 ajude na solução de temas pendentes e que as negociações levem a uma década de ambição e ação. Em Glasgow, o presidente da Assembleia Geral da ONU, Abdulla Shahid, discursou horas após a abertura formal da 26ª Conferência da ONU sobre Mudança Climática, COP26. Ele ressaltou que o mundo está perante uma crise existencial. Mas alertou que a “luz vermelha está piscando” para a questão do clima. Sharma disse crer que o sistema internacional tenha sucesso nas negociações necessárias para atingir seu objetivo, abrindo o período de intensas negociações diplomáticas que envolverão quase 200 países.
Mudanças climáticas e queda na produção agrícola
As plantações de alimentos básicos podem diminuir em pelo menos 80% até 2050 em oito países africanos. Os dados são do relatório divulgado pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida). O documento explica que as reduções, causadas pelo aumento da temperatura global, poderiam ter um impacto catastrófico, aumentando a pobreza e limitando a disponibilidade de alimentos.
O fundo também alertou que a COP26 não terá um impacto duradouro se os líderes mundiais continuarem a priorizar a mitigação e negligenciar os investimentos em adaptação climática. O relatório comprova que se nenhuma mudança for feita nas práticas agrícolas ou políticas globais, o aumento de cerca de 2°C na temperatura global terá impacto devastador na produção de alimentos básicos e cultivos de pequenos agricultores em diversos países da África.
Reforçando a necessidade de investimentos em ações para adaptações às mudanças climáticas, a vice-presidente do Departamento de Estratégia e Conhecimento do Fida, Jyotsna Puri, afirma que a cada US$ 18 gastos em mitigação, apenas US$ 1 atende às iniciativas de adequação aos novos desafios.
Agricultores de países em desenvolvimento
O estudo do Fida afirma que, embora nenhum país esteja imune aos impactos das mudanças climáticas, os pequenos agricultores dos países em desenvolvimento são os mais vulneráveis e os menos capazes de lidar com a situação. Eles produzem um terço dos alimentos do mundo e até 80% em algumas áreas da África e da Ásia, mas recebem menos de 2% dos fundos investidos globalmente em financiamento climático.
De acordo com o documento, o baixo investimento para a adaptação terá um efeito cascata em todo o mundo. A queda na produtividade das safras pode levar à alta dos preços dos alimentos, à diminuição da disponibilidade de alimentos e ao aumento da fome e da pobreza. Isso poderia desencadear um aumento da migração, conflito e instabilidade. No último ano, em todo o mundo uma em cada dez pessoas vivia com fome. No continente africano, o número sobe para uma em cada cinco pessoas.
De acordo com as conclusões do relatório, o impacto da mudança climática inevitavelmente forçará mudanças fundamentais nas escolhas de safras locais e práticas agrícolas até 2050 nesses países. Os investimentos recomendados incluem plantar safras alternativas diversificadas, plantar variedades variadas e adaptadas localmente, utilizar diferentes técnicas de plantio, fortalecer as capacidades e infraestrutura de armazenamento e processamento e cadeias de valor à prova de clima e melhorar o acesso e a gestão da irrigação.
A vice-presidente do Departamento de Estratégia e Conhecimento do Fida conclui que a COP26 é “um ponto de inflexão para a humanidade” e que não se pode “desperdiçar a oportunidade de limitar o aumento da temperatura e apoiar agricultores a se tornarem resilientes aos efeitos das mudanças climáticas”.