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Nações ricas devem financiar países que têm florestas, defende Lula após encontro com Biden


Presidentes se reuniram nesta última sexta-feira (10.02) na Casa Branca e, além da questão ambiental, discutiram a possibilidade de paz entre Rússia e Ucrânia e a importância do fortalecimento da democracia


Lula e a primeira dama, Janja Silva, são recepconados na porta da Casa Branca pelo presidente americano Joe Biden | Vídeos: Reprodução/TV Brasil/Canal Grafitti News no YouTube

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta última sexta-feira (10), em Washington, após reunir-se com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, no Salão Oval da Casa Branca, que os norte-americanos devem integrar o Fundo Amazônia.

“Eu não discuti especificamente um fundo amazônico. Eu discuti a necessidade de os países ricos assumirem a responsabilidade de financiar os países que têm florestas. E só na América do Sul, além do Brasil, temos Equador, Colômbia, Peru, Venezuela, as Guianas, ou seja, vários países que temos que cuidar. O que posso dizer é que ele (Joe Biden) vai participar do Fundo Amazônia”, afirmou Lula.

O comunicado conjunto das duas nações, publicado ao fim do encontro, endossa o compromisso norte-americano com o Fundo Amazônia. “Os Estados Unidos anunciaram sua intenção de trabalhar com o Congresso para fornecer recursos para programas de proteção e conservação da Amazônia brasileira, incluindo apoio inicial ao Fundo Amazônia, e para alavancar investimentos nessa região muito importante”

O presidente brasileiro também defendeu no encontro com Biden a possibilidade de que haja uma governança global da questão climática que inclua mais países com potencial de decisão, inclusive na Organização das Nações Unidas (ONU). Assim, avalia, as mudanças mais estratégicas terão maior chance de serem implementadas.

“A gente tem que ter uma governança global com mais autoridade, que outros países possam participar do Conselho de Segurança (da ONU) para que algumas decisões de ordem climática sejam tomadas em nível internacional. Eu senti muita disposição do presidente americano de contribuir para isso”, afirmou Lula.

No momento aberto à imprensa do encontro entre Biden e Lula, o presidente brasileiro agradeceu o reconhecimento imediato do líder americano assim que a vitória do brasileiro nas urnas foi confirmada, e pela postura de defesa da democracia de Biden quando o Brasil sofreu o ataque golpista de 8 de janeiro.

Biden, por sua vez, ressaltou os laços e valores comuns às duas nações, o respeito à democracia e a abordagem similar na questão climática. “Nossos valores compartilhados e os fortes laços entre nossos povos sintonizam Brasil e EUA, especialmente nos grandes desafios globais, especialmente em relação à mudança climática”, disse o presidente norte-americano.

Paz

Na conversa com jornalistas, Lula afirmou ainda que defendeu no diálogo com o  presidente norte-americano a necessidade de uma ação conjunta para que Rússia e Ucrânia possam chegar a um acordo de paz que encerre a guerra entre os dois países.

“Eu falei com o presidente Biden o que já tinha falado ao presidente Macron (da França), o que já tinha falado ao chanceler alemão, Olaf Scholz, sobre a necessidade de se criar um grupo de países que não estão envolvidos diretamente ou indiretamente na guerra da Rússia contra a Ucrânia para que a gente encontre possibilidade de fazer a paz. E eu senti da parte do presidente Biden a mesma preocupação”, revelou.

Lula desembarcou em Washington no fim da tarde desta quinta-feira (09.02), acompanhado da esposa, Janja Lula da Silva, do ministro das Relações Exteriores, Embaixador Mauro Vieira; do ministro da Fazenda, Fernando Haddad; da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva; da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco; do secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Márcio Elias Rosa; do Líder do Governo no Senado, Senador Jaques Wagner; e do assessor-chefe da Assessoria Especial da Presidência da República, Embaixador Celso Amorim.

Antes de se reunir com o presidente Joe Biden, Lula cumpriu, com os demais ministros, uma longa agenda na capital norte-americana, que contou com encontros com o Senador Bernie Sanders, com deputados e deputadas do Partido Democrata e com representantes da Federação Americana de Trabalho e Congresso de Organizações Industriais (AFL-CIO). Lula também concedeu entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN.

“Todo mundo sabe da importância de uma boa relação entre Brasil e Estados Unidos. Seja do ponto de vista econômico, comercial, do ponto de vista político, do ponto de vista cultural. É muito importante que estejamos juntos. O Brasil volta ao cenário mundial utilizando a sua potência política, a respeitabilidade que conquistou, para que a gente possa, junto com outros países, cumprir a tarefa que nós temos que cumprir com a humanidade”, frisou o presidente Lula.

Trecho da entrevista de Lula à jornalista Christiane Amanpour, da CNN Internacional | Vídeo: Divulgação/Presidência da República

Entrevista do presidente Lula à CNN Internacional

Transcrição da entrevista do presidente Lula a Christiane Amanpour, da CNN

CNN: Presidente Lula, seja bem-vindo ao nosso programa.

Presidente Lula: O prazer é meu, Amanpour, por participar de seu programa.

CNN: O presidente Biden foi um dos primeiros líderes mundiais a parabenizá-lo por sua vitória eleitoral e a condenar o levante de 8 de janeiro. Vocês têm muito em comum, protegendo a democracia… é este o principal impulsionador de sua reunião aqui?

Presidente Lula: Eu acredito que defender a democracia é uma obrigação de todos os democratas do mundo. Eu jamais imaginei que pudesse acontecer nos Estados Unidos da América do Norte, a invasão do Capitólio; como jamais imaginei que no Brasil depois de uma eleição democrática, pudesse haver uma invasão no Congresso, na Suprema Corte e no Palácio Presidencial. Isso significa que você tem solta no mundo, uma extrema direita raivosa, uma extrema direita muito mas, muito nervosa que utiliza fake news como se fosse um instrumento de fazer política de conversar com as pessoas; e nós precisamos destruir essa narrativa que eles utilizam contra os democratas. Eu, aliás, ontem eu quero dar os parabéns ao Presidente Biden pelo seu discurso no Congresso Nacional, que foi um discurso muito interessante. Era como se estivesse falando no Brasil, porque no Brasil acontece a mesma coisa que está acontecendo aqui.

CNN: O seu adversário Jair Bolsonaro – o presidente anterior que perdeu – está aqui nos Estados Unidos. Ele pediu um visto de seis meses, mas já está sendo investigado pelo seu Supremo Tribunal Federal por supostas violações durante o levante. Após sua posse, o Sr acha que ele deveria ficar nos Estados Unidos? O que o Sr dirá ao presidente Biden sobre isso?

Presidente Lula: Olha, veja ele já tem praticamente 12 (doze) processos lá no Brasil e vai ter mais. Eu acho que em algum momento ele vai ser condenado, em alguma Corte internacional sobre a questão do genocídio, por conta da COVID, porque metade das pessoas que morreram é por conta da irresponsabilidade do governo, e também ele poderá ser punido pelo genocídio contra os índios Yanomami, ou seja, que é uma coisa muito grave que aconteceu lá e ele incentivava os garimpeiros a jogar mercúrio na água, a poluir a água, que as pessoas bebiam “naquele mundo” bem escondido do restante do país. Então eu acho que em algum momento ele vai ser condenado; ele na verdade nem ficou lá para me dar posse; ele fugiu do Brasil 3 (três) dias antes e ainda fugiu no avião presidencial e veio se esconder aqui na casa de um amigo dele. De qualquer forma, um dia ele vai ter que voltar ao Brasil e vai ter que enfrentar todos os processos que estão movidos contra ele. Porque eu posso te contar uma coisa, eu nunca pensei que alguém fosse capaz de destruir em apenas 4 (quatro) anos tudo que nós construímos em 13 (treze) anos no Brasil ele destruiu em 4 (quatro). E é por isso que o nosso lema agora é: União e Reconstrução do Brasil!

CNN: O Sr pedirá a extradição dele – para que seja deportado ao Brasil – ou não?

Presidente Lula: Olha, eu ainda não sei, porque eu não vou falar com o Biden sobre isso porque isso vai depender muito da Justiça Brasileira. Eu sempre trabalho com a ideia de que todo mundo tem direito à presunção de inocência. Ele tem o direito de se explicar para a sociedade e tem direito de ser julgado da forma mais democrática possível; da forma que eu não fui. Eu quero para ele a presunção de inocência que eu não tive. E nem por isso eu estou preocupado! E quero que ele seja julgado de acordo com a lei; eu só posso tocar nesse assunto se o Presidente Biden tocar no assunto. Se o Presidente Biden não tocar, eu não vim aqui para falar mal de um presidente, que todo mundo sabe que ele é uma cópia fiel daquilo que o Trump foi nos Estados Unidos.

CNN: Bem, tendo dito isso, obviamente o evento de 6 de janeiro aqui foi traumático para este país. Agora, um cientista político de Harvard observou que, no Brasil, depois de 8 de janeiro, suas instituições, governo, mídia, opinião pública, Suprema Corte – tudo – foram muito rápidos em se unir em oposição ao levante de 8 de janeiro em seu país. Muito mais rápidos so que o ritmo do público aqui nos Estados Unidos. Então minha pergunta é: o Sr acredita que agora, apenas um mês depois, a democracia está segura em seu país?

Presidente Lula: Eu acredito que as instituições que são criadas para garantir o processo democrático, estão muito preparadas para enfrentar qualquer tentativa de golpe. Porque o que houve no Brasil foi uma tentativa de golpe; organizada possivelmente para que acontecesse no dia primeiro de janeiro, no dia da minha posse. Não aconteceu porque tinha muita gente; e eles resolveram quando todos nós estávamos muito tranquilos, resolveram fazer essa tentativa de golpe. Eu posso garantir que as instituições brasileiras estão comprometidas com o processo democrático: o Congresso Nacional, a Presidência da República, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário estão totalmente irmanados para que a gente possa garantir a democracia. A Igreja, os movimentos sindicais, a sociedade como um todo não quer que a democracia seja desmantelada, seja quebrada. Então eu estou confiante que nós vamos seguir em frente no processo de reconstrução do Brasil, inclusive na reconstrução da nossa boa aliança com os Estados Unidos.

CNN: A democracia também depende de suas forças de segurança – e um número alarmante delas foi vista quase que em conluio com os manifestantes de 8 de janeiro. As selfies; a polícia os escoltando em vez de barrá-los… Muitos deles foram demitidos pelo Sr; o Sr tomou medidas imediatas; e muitos deles estão sendo acusados e investigados. Minha pergunta é: o Brasil obviamente tem uma história de ditadura militar antes da democracia… Por que as forças de segurança – o Exército, a Polícia Militar, a polícia – fizeram isso no dia 8 de janeiro? Por que eles não estavam mais fortes?

Presidente Lula: Olha eu posso te garantir que a impressão que eu tenho aqui, todas as forças que tive que cuidar da segurança de Brasília, estavam comprometidas com o golpe. Todas as forças. Inclusive nós tivemos que fazer intervenção no Estado de Brasília, no governador; que tivemos que fazer uma intervenção na segurança de Brasília, colocamos um interventor para colocar ordem na casa. E o comandante do Exército de Brasília, embora ele não apareceu em nenhum momento falando a favor; a verdade é que eles estavam protegendo os acampamentos que estavam na frente do exército, pedindo golpe. E aí eu não tive dúvida e tive que trocar o comandante, coloquei um outro comandante e um comandante que seja legalista, que saiba cumprir aquilo que está definido na Constituição para as Forças Armadas. É ter um papel importante em qualquer país do mundo e no Brasil o papel dela é defender os interesses do povo brasileiro, a nossa soberania e defender o povo brasileiro contra possíveis ataques externos. É esse o papel dela e nada mais. Então ela não pode se meter em política.

CNN: Certo, mas o Sr acha que eles estavam mandando ao Sr um sinal, com um aviso? O Sr sabe que Bolsonaro, seu antecessor, deu milhares de cargos a tipos militares e policiais no governo. Será que eles estão preocupados com suas regalias, com sua segurança, com seu poder?

Presidente Lula: Não veja, nós estamos detectando todas as pessoas que foram contratadas de forma ilegal, que são contratadas por serem de confiança do governo; estamos afastando do governo. Nós estamos tirando todo mundo que não é concursado e que foi contratado no período Bolsonaro do governo. Nós já detectamos gente recebendo o salário em Miami, em Lisboa, já descobrimos gente recebendo salário em Paris, ou seja, pessoas ligadas a ele que se colocaram em algum conselho e estão ainda trabalhando em nome do Estado Brasileiro. Toda essa gente será mudada e as pessoas que vão trabalhar serão pessoas responsáveis. E eu volto a te dizer uma coisa, daqui para frente as Forças Armadas Brasileiras não participarão mais do processo público. Quem quiser participar, tire a farda, se candidate e enfrente a situação política da forma que o cidadão civil enfrenta; e não tentar enfrentar a situação vestido de militar. O novo comandante tem noção de que as Forças Armadas não podem se meter em política.

CNN: Presidente Lula, quando o Sr esteve no poder por dois mandatos, era um herói cultuado em todo o mundo: o presidente Barack Obama cantava suas glórias, e muitas pessoas perceberam, e apreciaram, que o Sr retirou dezenas de milhões de pessoas brasileiras pobres, muito pobres, da extrema pobreza. Mas é um Brasil diferente agora: a economia não está ótima; a agricultura, as commodities, todos esses preços não são o que eram quando o Sr assumiu o cargo – e é um país muito dividido: o Sr ganhou por uma margem muito pequena! O que o Sr terá de fazer para atender as demandas das pessoas que votaram no Sr e para unificar o país?

Presidente Lula: Olha eu sempre dou como referência o Brasil que eu peguei em 2003. O Brasil que eu peguei em 2003, tinha uma inflação de 12% e um desemprego de 12%. O Brasil que eu peguei em 2003, tinha uma inflação, tinha uma dívida externa de 30 bilhões de dólares. E o que nós tínhamos era uma dívida interna pública de 60.7% do PIB. O que nós fizemos? Nós reduzimos a dívida pública de 60.7 para 37%, nós pagamos 30 bilhões ao FMI e fizemos uma reserva de 370 Bilhões de dólares, nós reduzimos a inflação para 4,5% e geramos 22 milhões de empregos formais no Brasil.Foi isso que nós fizemos! E é isso que nós vamos fazer agora! E é isso que nós vamos fazer agora! E a minha política é simples é incluir o povo pobre no orçamento, o povo pobre tem que participar da economia. Nós temos que ter uma política muito forte de incentivo ao pequeno e o médio empreendedor individual. Nós temos que ajudar muita a pequena e média empresas, a cooperativas. Nós temos que voltar a fazer política de infraestrutura, na construção de habitação popular, saneamento básico, em obras de estradas e ferrovias; ou seja, nós já temos na cabeça, já temos projeto e mais importante nós sabemos como fazer. E pode ficar certo que daqui a quatro anos você vai ver o Brasil muito melhor do que eu recebi.

CNN: O Sr terá de ficar de olho em mercados e investidores? Porque, se o Sr der muito… e de onde vai tirar o dinheiro? Algumas pessoas sugeriram que talvez possa obter impostos inesperados da Petrobras, e de outras grandes empresas de combustíveis fósseis.

Presidente Lula: Deixa eu te falar uma coisa, tem três palavras mágicas que valem para mim, vale para o Presidente Biden, vale para qualquer presidente do mundo. Primeiro, o presidente tem que ter credibilidade na sociedade. Segundo, ele tem que garantir a estabilidade democrática, econômica e fiscal. E terceiro, ele tem que ser um governo previsível. Se ele tiver essas três coisas, ele tem condições de fazer as mudanças que ele precisar fazer, conversando com o Congresso. Veja o que aconteceu no Brasil! Eu não tinha tomado posse ainda, eu tive que enviar para o Congresso Nacional uma medida de mudança da Constituição; nós mandamos e por incrível que pareça, o Congresso Nacional por 364 votos aprovou uma medida de alguém que não era Governo ainda. Quem deveria ter mandado a medida provisória era o outro governo. Mas ele não teve coragem. Nós mandamos o Congresso que apoiava ele, votou. Por que? Porque nós conversamos e mostramos que era preciso a gente repensar o Brasil, recuperar o Brasil para que o povo voltasse a ser feliz outra vez, voltasse a rir, voltasse a ter esperança. É esse Brasil que eu quero reconstruir, e posso te dizer uma coisa: é a única coisa pela qual me candidatei. É para tentar recuperar o Brasil para o povo brasileiro.

CNN: Presidente, o Sr já manifestou que, na sua opinião, no governo anterior, foi cometido genocídio contra o seu povo. O Sr fala sobre as mortes durante a Covid – e particularmente das centenas de mortes entre o povo Yanomami, os indígenas, e eu sei que recentemente o Sr visitou a região deles na Amazônia. O que o Sr vai fazer, porém, também sobre o clima? Porque esse é outro grande item em sua agenda com o presidente Biden. A gente viu a Amazônia – sabe – não ser cuidada no governo anterior.

Presidente Lula: Amanpour, de 2003 a 2015 quando o PT governou o Brasil, a gente reduziu o desmatamento de 80% no Brasil. Nós assumimos o compromisso em Copenhague, na COP 15, de que a gente iria inclusive, reduzir a emissão de gás de efeito estufa e reduzimos em 39.6%; ou seja, o compromisso nosso com a questão climática não é mais um compromisso teórico de eleição. Não! É um compromisso de ser humano que vive num planeta que precisa ser cuidado. Então, o Brasil hoje tem 30 milhões de hectares de terra degradadas. Você não precisa cortar uma árvore sequer. Você não precisa avançar aonde você não deve avançar numa reserva indígena, numa floresta que serve de reserva florestal marcada pelo Governo, você não pode permitir que alguém invada aquilo. Então, eu posso te garantir, nós temos um compromisso de governo, de cidadão e compromisso de humanista: nós vamos chegar a um desmatamento zero em 2030. É o compromisso nosso; é de tentar criar as condições para chegar ao desmatamento zero. Aí você tem que conversar com os prefeitos, com os governadores e você inclusive; ao invés de punir, você tem que premiar aqueles prefeitos, aqueles governadores que garantiram que no seu estado não tenha mais queimada, mais desmatamento desnecessário, ao invés de você punir você incentiva ele, premia ele com alguma ajuda do Governo Federal, para que ele se sinta motivado a ser participante das atitudes do Governo.

CNN: O Sr irá perguntar ao presidente Biden, ou falar com ele sobre o dinheiro e a ajuda que ele prometeu para o clima e para a floresta tropical brasileira?

Presidente Lula: Eu acho que a discussão não pode ser apenas ajuda ao Brasil e Amazônia. Eu acho que não temos que levar em conta que nós temos vários países amazônicos que tem grandes florestas na América do Sul. Nós temos Colômbia, Equador, Venezuela, Peru e a Bolívia, que fazem parte da Floresta Amazônica, além das Guianas. Ao mesmo tempo, você tem países como o Congo, como a Indonésia que tem muita coisa preservada e que todo mundo precisa de ajuda; ou seja, o que que nós precisamos fazer, Amanpour? Nós precisamos transformar a riqueza da biodiversidade que nós temos na Amazônia, num valor para que as pessoas que moram lá têm o direito de ter acesso aos bens materiais que nós gostamos de ter. Todo mundo quer viver bem. Todo mundo quer ter uma casa, um carrinho, uma bicicleta; todo mundo quer comer três vezes ao dia, nós precisamos garantir isso para mais de 25 milhões de pessoas que vivem na Amazônia. E eu acho que é possível a gente compartilhar a exploração da Amazônia com toda a ciência do mundo. Embora a Amazônia seja um território soberano do Brasil, nós temos que compartilhar cientificamente, para que o mundo que tiver nos ajudar a explorar a riqueza da nossa biodiversidade, a gente pode transformar muitas coisas em produtos farmacêuticos; que a gente pode tentar, sabe, em outro tipo de indústria que não seja poluente e cosmético, por exemplo. Então é esse trabalho que nós vamos fazer ;ou seja, nós não queremos apenas proibir; nós queremos compartilhar e convidar as pessoas que tem que tomar conta, a tomar conta junto conosco. E a questão indígena, é uma questão humanista. Nós temos 800 mil indígenas no Brasil, espalhados em quase 360 etnias, que nós precisamos cuidar deles com respeito. Nós precisamos dar a eles o direito de uma vida decente, de trabalhar, comer, de produzir – e é isso que nós temos que garantir, e é isso que eu vou garantir. Senão não seria necessário ter voltado à Presidência do Brasil.

CNN: Bem, as pessoas que estão olhando para a democracia brasileira estão vendo, como eu disse, para uma nação dividida. O Sr provavelmente viu um artigo recente que foi escrito sobre o Sr, dizendo que metade da população o ama e metade da população o despreza. Eu me pergunto o que o Sr pensa sobre isso? Mas também, e mais importante: o fato de unificar o Brasil aparentemente será a chave para fortalecer a democracia e garantir que o modo de Bolsonaro não volte após o seu mandato. Como o Sr fará isso quando metade da população, como eu disse, o despreza?

Presidente Lula: Nós vamos ter eleições no Brasil depois das eleições nos Estados Unidos. Nós vamos ver como é que a “coisa” vai acontecer nos Estados Unidos, porque aqui tem uma divisão muito marcada igual tem no Brasil. Os democratas e os republicanos estão muito divididos, ou seja, é ame-o ou deixo-o! É mais ou menos isso que acontece. Ou seja, no Brasil nós somos um país mais pacificado. O brasileiro na sua índole, ele gosta de ser feliz; ele gosta de música; ele gosta de futebol; ele gosta de carnaval. Não é um povo que tem a cultura, sabe, de odiar. O que aconteceu é que nós tivemos uma indústria de fake news, que nós não conseguimos combater em igualdade de condições. E eu estou convencido que nem todo mundo que votou no Bolsonaro, é bolsonarista. Estou convencido que um monte de gente que votou, talvez não goste do PT; por isso, talvez não goste do Lula. Mas veja, quando a gente ganha uma eleição, a gente tem que governar para todo mundo. Eu não quero saber se o prefeito de uma cidade, se o governador do estado é bolsonarista; eu quero saber se ele está interessado em ajudar a resolver os problemas do povo brasileiro. Se ele tiver, que venha! Veja, uma eleição sempre será dividida quando tem dois candidatos. Sempre ela é dividida. Na Alemanha é dividida; na França você viu a eleição do Macron, também uma divisão; aqui… a única coisa estranha que aconteceu foi o que aconteceu aquilo Capitólio; porque jamais a gente imaginava. Porque no país que simbolizava a democracia, alguém pudesse invadir o Capitólio, ou alguém pudesse ser tão desumano, como era o presidente Trump. E o Bolsonaro é uma cópia fiel! É uma cópia! Ou seja, como se você colocasse numa máquina e tirava fotocópia – é a mesma coisa! Sabe, não gosta de sindicato, não gosta de empresário, não gosta de trabalhador, não gosta de mulheres, não gosta de negros, não gosta de conversar com o empresário; ou seja, é ele e as mentira dele; “as fanfarras” dele. Sabe, não gosta de falar com impressa; então, nós mudamos isso querida! Nós mudamos. Eu acho que o Brasil aos poucos vai se encontrando e aos poucos a democracia vai prevalecer. Esse é meu compromisso. E eu espero que daqui quatro anos você possa fazer uma outra entrevista comigo, que você vai ver já vai ser democrático. E vou te dizer uma coisa: o Bolsonaro não tem nenhuma chance de voltar à Presidência da República! Agora vai depender da nossa capacidade de construir a narrativa correta do que ele representou para o Brasil. Porque essa extrema direita está no mundo inteiro. Ela esteve nos Estados Unidos; ela está no Brasil, na Espanha, ela esteve na França, na Hungria, na Alemanha; ou seja, é uma extrema direita organizada que se a gente não tomar cuidado, é uma atitude nazista! É uma atitude negacionista, que nós nunca tínhamos visto. Então, como eu gosto da democracia – e a democracia é a melhor forma de você ter o poder, convivendo democraticamente na adversidade, eu vou conversar com o Presidente Biden, porque nós temos que melhorar a nossa relação política, a nossa relação cultural, a nossa relação comercial, sabe, os Estados Unidos é muito importante para nós – e acho que o Brasil tem certa importância para os Estados Unidos. E o que nós queremos é que duas nações grandes que são democráticas, possam ajudar a fortalecer a democracia em todo o continente latino americano e no planeta Terra.

CNN: O Sr fala muito em democracia, presidente, e parece que terá de enfrentar o presidente Biden em uma defesa fundamental dos Estados Unidos, da democracia em todo o mundo: a Ucrânia. O Sr não acredita, acho que não, no apoio ocidental à defesa da Ucrânia, e já manifestou isso diversas vezes. Por que não? Quer dizer, algumas pessoas perguntaram, de fato, em um artigo: por que Lula está tão comprometido com a democracia em casa e não no exterior?

Presidente Lula: Eu tô muito comprometido que a democracia em qualquer lugar do planeta terra, eu acho que, no caso da Ucrânia e da Rússia, é preciso ter alguém que fale em paz, é preciso que se crie interlocutores para tentar conversar com as partes, essa é a minha tese, ou seja, nós precisamos encontrar interlocutores que possam sentar com o presidente Putin e mostrar o equívoco que ele cometeu ao invadir a integridade territorial da Ucrânia e nós temos que mostrar pra Ucrânia que é preciso aprender a conversar mais para a gente evitar essa guerra, a gente tem que parar essa guerra. Então, o que que eu vou conversar com o presidente Biden? Eu não sei o que que ele vai conversar comigo, mas o que eu quero conversar com ele é que é preciso criar um conjunto de países para negociar a paz.

CNN: Já há esses países: os BRICs. Você é um deles. Nenhum deles – Rússia, China, Índia – parece querer falar sobre paz: estão basicamente falando sobre a Rússia.

Presidente Lula: Eu quero falar sobre paz, eu quero falar sobre paz com Putin, eu quero falar de paz com presidente Biden, quero falar em paz com o Xi Jinping, quero falar em paz com a Índia, quero falar em paz com a Indonésia, quero falar em paz com todo mundo, porque para mim o mundo só vai se desenvolver se houver paz, se houver tranquilidade.

CNN: Ok, isso é legal, mas o Sr não acredita que um país soberano, independente e democrático – como o seu, como a Ucrânia – tem o direito de legítima defesa e de se defender contra uma invasão ilegal?

Presidente Lula: Lógico que ela tem o direito de se defender, até porque a invasão foi um equívoco da Rússia, ela não poderia ter feito isso e afinal de contas ela faz parte do Conselho de Segurança Nacional, ou seja, e isso não foi discutido no Conselho de Segurança? Então o que eu quero é dizer o seguinte: Olha o que tinha que ser feito de errado já foi feito agora é preciso encontrar pessoas para tentar ajudar a consertar e eu sei que o Brasil não tem muita importância no cenário mundial, sabe nessa lógica perversa dos conflitos do mundo, mas eu posso te dizer que eu vou me dedicar para ver se encontro um caminho para alguém falar em paz. Eu estive com o chanceler alemão esses dias e ele foi no Brasil.

CNN: Ele pediu para o Sr enviar seus Leopards à Ucrânia e o Sr disse não.

Presidente Lula: Era mandar munição e eu não quis mandar, porque eu falei se eu mandar eu entrei na guerra, eu falei se eu mandar sabe as munições que você tá pedindo eu entrei na guerra, eu não quero entrar na guerra eu quero acabar com a guerra, esse é o meu dilema e esse é o meu compromisso, sabe, eu eu agora tô visitando a China em março, vou conversar muito com o presidente da China sobre papel que ele tem para jogar na questão da paz e esse é o meu trabalho, conversei com o chanceler alemão, conversei com Macron, vou falar com presidente Biden, vou falar com Xi Jiping, vou falar com os indianos, vou falar com todos os países, nós temos que ter um grupo de pessoas que fala em paz e mostrar que a paz é a única coisa que pode restabelecer a dignidade da vida humana, o direito dele trabalhar e de viver dignamente, decentemente, é isso os ucraniannos tem que compreender, agora é preciso criar uma narrativa, sabe, porque a Rússia não é um país qualquer, então é preciso construir a narrativa que dê a eles o mínimo de condições de parar, como os Estados Unidos parou a Guerra do Vietnã, não era fácil parar, mas teve que parar um dia, então, se ela começou errada nós temos que consertar agora, para a guerra e depois vamos discutir numa mesa de negociação o que é que a gente quer de verdade.

CNN: Posso fazer uma última pergunta, uma pergunta pessoal? O Sr teve uma história de vida dramática – e uma dramática volta ao poder, depois de ter estado na prisão. O Sr também sobreviveu ao desafio de 8 de janeiro, a esta insurreição. O Sr é o presidente brasileiro mais velho a tomar posse. O presidente Biden é um dos presidentes americanos mais velhos. O que motiva o Sr? O que leva pessoas como o Sr, na sua idade, a continuarem fazendo isso?

Presidente Lula: Amanpour, eu digo sempre o seguinte: a velhice ela só existe para quem não tem uma causa, se você tem uma causa e você se dedica essa causa a velhice não existe, ela deixa de existir, é por isso que eu digo todo santo dia: eu tenho 77 anos mas eu digo: eu tenho energia de 30, eu tenho disposição de trabalhar 24 horas por dia, eu não conto trabalhando, porque eu tenho uma causa: minha casa é o povo brasileiro, eu preciso melhorar a vida deles, eu preciso mostrar que ele pode comer três vezes ao dia, nós tínhamos acabado com a fome no Brasil, agora tem 33 milhões de pessoas passando fome num país que é o terceiro produtor de alimento do mundo, num país que é o maior produtor de proteína animal do planeta, como é que isso explica as pessoas ficarem com fome? Então, outra vez eu vou acabar com a fome desse país, outra vez nós vamos fazer com que a economia brasileira volte a crescer, outra vez a gente vai gerar emprego, porque é isso que eu quero pro Brasil. Eu vi o discurso do Biden de ontem, eu li o discurso dele inteiro, eu acho que é um discurso que poderia ser feito no Brasil tranquilamente, se eu fizesse no Brasil hoje o discurso que o Biden fez no congresso americano eu seria chamado de comunista no Brasil. O mercado me chamaria de comunista.

CNN: O Sr sabe que eles o chamam de comunista, os seus detratores! Bom, presidente Lula, obrigada.

Presidente Lula: O mercado é ingrato, porque ele nunca ganhou tanto dinheiro na vida como ganhou no meu período de governo.

CNN: Muito obrigada por estar conosco. Foi um grande prazer, obrigada.

Presidente Lula: Obrigado a você, meu amor.

Visita ao Museu

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e Janja Lula da Silva, estiveram nesta sexta-feira no National Museum of African American History and Culture. O objetivo foi conhecer o local e seus equipamentos para que seja possível criar museus semelhantes no Brasil.

“Foi emocionante ver a história registrada de maneira tão profunda. O museu não é apenas sobre a história da escravização, mas sobre a história de resistência, luta e cultura negra. Ficou ainda mais evidente o papel do Brasil na história da população negra africana no continente e em todo o mundo. Isso mostra a importância de termos áreas tombadas e o museu no Cais do Valongo”, disse a ministra, se referindo ao museu que deve ser criado no Rio de Janeiro, no cais por onde passaram mais de um milhão de escravizados com destino ao Brasil e outros países das Américas.

Após a reunião com o Senador Bernie Sanders, a ministra Marina Silva conversou com jornalistas. Assim como o presidente Lula, mostrou-se confiante de que os Estados Unidos irão participar ativamente de soluções para a questão ambiental. “Foi altamente positiva essa reunião e com sinalizações concretas de uma força-tarefa para captação de recursos para o Fundo Amazônia e outros mecanismos que possam ser criados para facilitar o acesso direto das comunidades em situação de vulnerabilidade. Inclusive, criando uma face da filantropia brasileira que também já está se mobilizando”, afirmou Marina Silva.

Íntegra da entrevista do presidente Lula após encontro com o presidente Biden:

Pergunta 1: Como é que foi o contato com o presidente Joe Biden e se saiu algum anúncio sobre o Fundo Amazônico?

Olha, primeiro eu gostaria de dar os parabéns a vocês, porque essa função de jornalista deve ser muito complicada. Ficar num frio como esse aqui, esperando para fazer uma pergunta… o jornalismo é uma profissão que precisa ganhar muito bem, muito bem!

A segunda coisa é dizer para vocês que é com muita alegria que eu regresso ao Brasil, depois de ter uma conversa longa com o presidente Biden sobre vários problemas de interesse dos Estados Unidos e do Brasil, tanto no campo da igualdade social, da igualdade racial, quanto no campo da democracia, no campo da energia limpa, a questão climática sobretudo, e do fortalecimento da democracia.

Eu penso que todo mundo sabe da importância de uma boa relação entre o Brasil e os Estados Unidos. Seja relação do ponto de vista econômico, comercial, seja relação do ponto de vista político, seja a relação do ponto de vista cultural, é muito importante que nós estejamos juntos. E eu tenho certeza que os Estados Unidos, através do presidente Biden, está muito convencido da necessidade de ajudar com que o mundo possa ser cuidado com pouco mais de carinho, sobretudo para os países que têm muitas reservas florestais ainda, como os países da América do Sul, o Brasil, o Congo e outros países africanos.

E eu acho que é importante ter em conta que nós precisamos transformar a riqueza da nossa biodiversidade em algo que possa ser proveitoso para o povo brasileiro que mora na Amazônia. Eu senti muita vontade do presidente Biden em participar da construção de um fundo, sabe? Com todos os países desenvolvidos do mundo para que a gente possa tentar cuidar melhor do nosso planeta.

Vocês sabem do nosso compromisso no Brasil, de até 2030 chegarmos a desmatamento zero. Vai ser um trabalho muito, muito, muito delicado. Nós vamos ter que conversar com muitos governadores, com muitos prefeitos. Nós vamos ter que, ao invés de proibir, nós vamos ter que ajudar a incentivar as cidades a não terem que desmatar. Nós vamos ser muito duros com os madeireiros que cortam floresta sem nenhuma autorização, ou garimpeiros que não tem sequer sinalização para garimpar, ou para pesquisar.

Nós vamos ser muito duros, porque se não a gente não cuida nem da Amazônia, nem dos indígenas, e nem tão pouco a gente cuida de melhorar o clima do mundo. Eu estou convencido que nós estamos numa outra época. O Brasil volta ao cenário mundial, sabe? Utilizando a sua potência política, a respeitabilidade que o Brasil conquistou, para que a gente possa junto com outros países cumprir a tarefa que nós temos que cumprir com a humanidade.

Uma coisa muito importante que eu acho que precisa acontecer, é que a gente tem que ter uma governança global com mais autoridade, que outros países possam participar do conselho de segurança para que algumas decisões de ordem climática sejam tomadas ao nível internacional. Eu senti muita disposição do presidente americano de contribuir para isso, as nossas equipes vão continuar conversando em todas as áreas para que a gente possa ter uma evolução muito, muito importante para o Brasil e para os Estados Unidos.

Pergunta 2: Bem-vindo aos Estados Unidos, você vai honrar seu compromisso de campanha eleitoral de não buscar a legalização do aborto no Brasil?

Veja, primeiro, a questão do aborto não é uma questão de discutir pelo Governo Federal. É uma questão do Congresso Nacional, está definido na nossa Constituição e, portanto, não é um assunto a ser levado à discussão pelo presidente da República, esse é um assunto pertinente ao Congresso Nacional.

Pergunta 3: Presidente, obrigada, os Estados Unidos vão entrar no Fundo Amazônia?

Eu acho que vão. Eu acho que vão, veja, não só eu acho que vão, como é necessário que participe. Porque, veja, o Brasil não quer transformar a Amazônia num santuário da humanidade, mas também o Brasil não quer abrir mão de que a Amazônia é um território do qual o Brasil é soberano.

O que nós queremos, na verdade, é compartilhar com a ciência do mundo inteiro um estudo profundo sobre a necessidade da manutenção da Amazônia, mas extrair da riqueza da biodiversidade da Amazônia algo que possa significar a melhoria da qualidade de vida das pessoas que moram lá, que são mais de 25 milhões de pessoas. E, fazendo isso, a gente vai estar garantindo que haja uma maior seguridade em relação ao planeta, porque agora todo mundo já sabe que o planeta é redondo, que ele gira, e que ele, portanto, passa em todo lugar e que ninguém escapa da destruição que a gente fizer no planeta.

Pergunta 4: O senhor fez a proposta de um grupo de paz para tentar mediar o fim da guerra entre a Ucrânia e a Rússia, como que o presidente Biden reagiu à essa proposta? E só pra ter claro na questão do Fundo Amazônia, se o Biden falou claramente que vai colocar investimento no Fundo Amazônia, ou se vocês vão construir o Fundo com vários países da região amazônica, do continente americano e de outros países?

Veja, eu acho que eu não discuti especificamente um Fundo Amazônico, eu discuti a necessidade dos países ricos assumirem a responsabilidade de financiar todos os países que têm florestas, e só na América do Sul, além do Brasil, nós temos o Equador, temos a Colômbia, temos o Peru, temos a Venezuela, temos as Guianas, ou seja, nós temos vários países que nós temos que cuidar. Então, eu não tratei especificamente do Fundo Amazônico, tem a necessidade de preservar. Agora, o que eu posso te dizer é que ele vai participar do Fundo Amazônico.

A segunda coisa, é que eu falei com o presidente Biden, o que eu já tinha falado ao presidente Macron, o que eu já tinha falado ao chanceler alemão Olaf Scholz, sobre a necessidade de se criar um grupo de países que não estão envolvidos diretamente, ou indiretamente, na guerra da Rússia contra a Ucrânia, para que a gente encontre possibilidade de fazer a paz.

Ou seja, eu estou convencido que é preciso encontrar uma saída para colocar fim à essa guerra, e eu senti da parte do presidente Biden a mesma preocupação, porque ninguém quer que essa guerra continue, e é preciso que tenham parceiros capazes de construir um grupo de negociadores que os dois lados acreditem, e que os dois lados possam compreender e terminar essa guerra. A primeira coisa é terminar a guerra, depois é negociar o que que vai acontecer no futuro, mas é preciso parar de atirar, se não, não tem solução

Pergunta 5: Senhor presidente, quando o presidente Lula pensa em visitar Angola? Sabemos que Angola e Brasil tem uma relação excelente. Para que também o presidente Lula possa levar uma imagem mais recente da Angola para os brasileiros, porque recentemente a Globo passou imagens muito antigas da Angola, de mais de 20 anos, que não mostrou a atual realidade do país. O presidente Lula pensa em visitar a Angola, de maneira a levar uma imagem nova de Angola aos brasileiros?

Olha, eu estou organizando agora certamente uma viagem para três países africanos. Eu quero ir à Angola, quero ir à África do Sul e quero ir à Moçambique, numa demonstração de que o Brasil vai reatar a sua forte relação com o continente Africano. Você sabe que o Brasil deve muito da sua cultura ao continente Africano.

É uma dívida que não pode ser paga em dinheiro, ela tem que ser paga em troca, sabe, de ciência e tecnologia, em ajuda que o Brasil pode dar do ponto de vista do desenvolvimento em várias áreas. E nós vamos fazer isso, porque é uma obrigação histórica e uma obrigação humanitária do Brasil manter uma belíssima relação com o continente africano. A relação do Brasil com a Angola sempre foi uma relação muito boa, é importante você saber que o Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência de Angola.

Íntegra da declaração conjunta entre Lula e Biden:

DECLARAÇÃO CONJUNTA APÓS A REUNIÃO ENTRE O PRESIDENTE BIDEN E O PRESIDENTE LULA

Hoje, o Presidente Joseph R. Biden Jr. dos Estados Unidos e o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva da República Federativa do Brasil reuniram-se em Washington, D.C. Durante a reunião, os dois líderes reafirmaram a natureza vital e duradoura da relação EUA-Brasil e sublinharam que o reforço da democracia, a promoção do respeito pelos direitos humanos e a resolução da crise climática continuam no centro da sua agenda comum.

Enquanto líderes das duas maiores democracias das Américas, o Presidente Biden e o Presidente Lula comprometeram-se a trabalhar em conjunto para reforçar as instituições democráticas e acolheram favoravelmente a segunda Cimeira para a Democracia, a realizar em Março de 2023.  Ambos os líderes notaram que continuam a rejeitar o extremismo e a violência na política, condenaram o discurso do ódio e reafirmaram a sua intenção de construir resistência social à desinformação, e concordaram em trabalhar em conjunto nestas questões.  Discutiram os objetivos comuns de fazer avançar a agenda dos direitos humanos através da cooperação e coordenação em questões como a inclusão social e os direitos laborais, a igualdade de género, equidade racial e justiça, e a proteção dos direitos das pessoas LGBTQI+.  Também se comprometeram a revigorar o Plano de Ação Conjunta EUA-Brasil para Eliminar a Discriminação Racial e Étnica e Promover a Igualdade para beneficiar mutuamente as comunidades raciais, étnicas e indígenas marginalizadas, incluindo as pessoas de origem africana, em ambos os países.

Ambos os líderes estão determinados a dar prioridade urgente às alterações climáticas, ao desenvolvimento sustentável, e à transição energética. Reconhecem o papel de liderança que o Brasil e os Estados Unidos podem desempenhar na cooperação tanto bilateral como multilateral, inclusive no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC) e do Acordo de Paris.  Os Presidentes Biden e Lula recordaram a Iniciativa Conjunta sobre Alterações Climáticas estabelecida em 2015, que criou o Grupo de Trabalho de Alto Nível Estados Unidos-Brasil sobre Alterações Climáticas (CCWG).  Decidiram instruir o CCWG a reunir o mais cedo possível para discutir áreas de cooperação, tais como o combate à desflorestação e degradação, a melhoria da bioeconomia, o reforço da utilização de energia limpa, o reforço das ações de adaptação e a promoção de práticas agrícolas de baixo carbono.  Como parte destes esforços, os Estados Unidos anunciaram a sua intenção de trabalhar com o Congresso para fornecer fundos para programas de proteção e conservação da Amazônia brasileira, incluindo o apoio inicial ao Fundo da Amazônia, e para alavancar investimentos nesta região crítica. Os líderes também expressaram a sua determinação em combater a fome e a pobreza, aumentar a segurança alimentar global, fomentar o comércio e remover barreiras, promover a cooperação económica, e reforçar a paz e a segurança internacionais.

Também discutiram o seu interesse em intensificar a cooperação bilateral em áreas como o comércio e investimento, energia, saúde, ciência, tecnologia e inovação, defesa, educação e cultura, e assuntos consulares, através de uma abordagem orientada para resultados que beneficie ambas as sociedades.  Reconhecendo a importância da resiliência da cadeia de abastecimento, especialmente na atual conjuntura global, comprometeram-se a continuar a cooperação neste campo com diálogos público-privados focalizados. 

Os dois líderes também discutiram uma vasta gama de questões globais e regionais de interesse mútuo. Lamentaram a violação da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia e a anexação de partes do seu território como violações flagrantes do direito internacional e apelaram a uma paz justa e duradoura. Manifestaram preocupação com os efeitos globais do conflito na segurança alimentar e energética, especialmente nas regiões mais pobres do planeta e manifestaram o seu apoio ao pleno funcionamento da Iniciativa dos Grãos do Mar Negro. O Presidente Biden e o Presidente Lula afirmaram a sua intenção de reforçar a cooperação nas instituições multilaterais, particularmente no contexto da próxima presidência brasileira do G20.  Os dois líderes expressaram a sua intenção de trabalhar em conjunto para uma reforma significativa do Conselho de Segurança das Nações Unidas, como a expansão do órgão de modo a incluir lugares permanentes para países em África e na América Latina e Caraíbas, a fim de serem mais representativos do maior número de membros da ONU e aumentarem a sua capacidade de abordar mais eficazmente as questões mais prementes da paz e segurança globais.

O Presidente Lula convidou o Presidente Biden a visitar o Brasil, e o Presidente Biden aceitou o convite.  Os dois líderes comprometeram-se a alargar o seu diálogo e a prosseguir uma cooperação mais profunda na perspectiva da celebração do bicentenário das relações diplomáticas EUA-Brasil em 2024.

Comitiva brasileira em Washington, ao lado do senador democrata Bernie Sanders | Foto: Divulgação/Ricardo Stuckert

Lula discute democracia, direitos e empregos com Bernie Sanders

Uma das agendas de trabalho do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em Washington, nos Estados Unidos, nesta sexta (10/2), foi um encontro com o senador Bernie Sanders. Liderança do campo progressista nos EUA, o parlamentar é autor de resolução aprovada no Legislativo americano em setembro último, em apoio à democracia no Brasil e signatário de resolução apresentada no início deste mês condenando as invasões aos prédios dos Três Poderes em Brasília em 8 de janeiro.

Além de Lula, estiveram no encontro com Sanders os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Fernando Haddad (Fazenda), Marina Silva (Meio Ambiente), o assessor especial Celso Amorim e o senador Jaques Wagner (PT-BA).

“Falamos sobre democracia, movimento sindical e melhores direitos e empregos para trabalhadores”, resumiu o presidente Lula. Os dois concordaram sobre o papel da desinformação e da radicalização do discurso político no âmbito virtual para a ascensão da extrema direita.

Trataram, ainda, da precarização dos direitos dos trabalhadores e do enfraquecimento dos sindicatos e discutiram temas como a manutenção da paz, as obrigações dos diferentes países na área ambiental e de mudança climática e as relações dos EUA com a América Latina.

“Um prazer receber o presidente Lula em Washington. Discutimos a importância de defender a democracia, promover os direitos dos trabalhadores e aumentar a cooperação ambiental e climática em todo o mundo.”, disse Sanders, em seu perfil no Twitter.