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Negacionista ao vírus e comparado a Bolsonaro, presidente da Tanzânia morre de Covid-19, segundo a oposição

Negacionista do vírus e da vacina, além de homofóbico, o presidente morto da Tanzânia era comparado a Bolsonaro | Foto: Internet

Um dos poucos líderes mundiais negacionista quanto ao vírus do novo coronavírus (Covid-19) e comparado ao ex-presidente Trump e ao brasileiro Bolsonaro, o presidente da Tanzânia, John Magufuli, morreu, segundo a oposição de seu pais de Covid-19. Oficialmente, o governo forte da Tanzânia anunciou que sua morte ocorreu na última quarta-feira (17) “devido a uma doença cardíaca”.

Magufuli morreu aos 61 anos dias após o seu pais falar de que ele teria sido infectado pelo coronavirus. No seu lugar assume a presidência uma mulher, a vice-presidente, Samia Suluhu. Negacionista da covid-19, Magufuli não era visto em público desde o final de fevereiro. Ele alegava que o país estaria livre do coronavírus em virtude das orações dos tanzanianos.

Segundo Suluhu, Magufuli morreu em Dar es Salaam, capital econômica do país. A vice-presidente da Tanzânia tinha já dado indicações na segunda-feira de que o chefe de Estado poderia estar doente ao apelar à unidade dos tanzanianos “através da oração”.Há semanas que circulavam rumores sobre a saúde do presidente, que teria procurado ajuda médica no exterior depois de ter sido infectado com o coronavírus, de acordo com a oposição.

Negacionista e debochado

Desde que a pandemia havia sido declarada em março de 2020, Magufuli vinha negando a gravidade do vírus. “O coronavírus é o diabo e não pode sobreviver no corpo de Cristo”, afirmou naquele mês após o registro do primeiro caso de covid-19 no pai, de acordo com a publicação alemã Deutsch Wille (DW). Ele chegou ainda a ridicularizar os centros de testagem, alegando, sem apresentar nenhuma prova, ter enviado secretamente amostras de mamão e cabra que teriam dado positivo. Segundo Magufuli, isso significaria que havia falsos positivos.

Pouco depois, a Tanzânia parou de publicar os números oficiais sobre a doença, no fim de abril de 2020, tendo deixado o número de infecções estagnado em 509 e o de mortes, em 21. Em junho de 2020, o chefe de Estado declarou que a pandemia tinha sido superada no país graças à intervenção divina. A última grande controvérsia levantada por Magufuli sobre a covid foi em janeiro, quando ele criticou a imunização.

“Vacina perigosa”

“Temos de nos manter firmes. A vacinação é perigosa. Se o homem branco fosse capaz de criar vacinas, então já teria encontrado uma vacina contra a Aids, já teria encontrado uma vacina contra a tuberculose, já teria encontrado uma vacina contra a malária e já teria encontrado uma vacina contra o câncer”, disse na época. Ele também se recusou a decretar um lockdown no país e a adotar medidas de distanciamento social para conter a transmissão do coronavírus. Após a morte do vice-presidente de Zanzibar, Seif Sharif Hamad, por covid-19 em fevereiro, Magufuli começou a reconhecer o risco da pandemia.

Diante sua postura em relação à pandemia, Magufuli chegou a ser comparado com o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente americano Donald Trump. O falecido presidente nasceu em 1959 em Chato, no noroeste da Tanzânia, estudou matemática e concluiu o doutorado em química na Universidade de Dar es Salaam, em 2009. Depois de atuar como professor numa escola secundária e como químico industrial, Magufuli entrou para a política.

Em 1995, foi eleito para o Parlamento do país. Em 2000, assumiu o Ministério do Trabalho e posteriormente, a pasta de Obras Públicas. Por seu estilo de liderança dominador e por sua luta contra a corrupção na indústria da construção, ganhou o apelido de bulldozer. Eleito, pela primeira vez, presidente da Tanzânia em 2015, Magufuli foi reeleito para um segundo mandato em 28 de outubro, em eleições descritas pela oposição como fraudulentas.

Homofóbico

Magufuli, um católico fervoroso, lançou ainda numa cruzada contra a comunidade LGTBI, proibiu jovens grávidas e adolescentes de frequentarem a escola, fez campanha contra métodos anticoncepcionais e minou a liberdade de imprensa e de expressão no país, segundo várias organizações de defesa dos direitos humanos.

A sua popularidade aumentou após ter transformado o Dia da Independência num dia de limpeza coletiva, de ter proibido membros do seu governo de viajarem para o estrangeiro sem a sua autorização e de ter expulsado do país dezenas de acusados de corrupção. Desde a sua chegada ao poder, em 2015, dezenas foram presos por sedição ou blasfêmia e a principal figura da oposição agora no exílio, o advogado Tundu Lissu, foi preso pelo menos seis vezes.