A lei que introduziu a data lembra que a coincidência com a festa americana e fora da realidade da cultura brasileira, o Halloween, foi proposital. O “Dia das Bruxas” foi importado pelo Brasil durante a ditadura militar, em 1983, por escolas de inglês dos filhos da elite econômica. A festa pagã americana não tem ampla repercussão na sociedade brasileira, mas apenas entre as pessoas com maior poder aquisitivo
O Dia do Saci é comemorado no Brasil em 31 de outubro, mesmo dia em que se comemora o Halloween, a festa alienígena à cultura brasileira e que é chamada de “Dia das Bruxas.” Saci-pererê é uma das lendas mais conhecidas do folclore brasileiro, que faz menção a um negrinho travesso pequeno (cerca de meio metro de altura).Ele tem uma única perna e que mora nas florestas, onde comete diversas travessuras contra viajantes e moradores das zonas rurais.
Essa lenda do Saci-pererê, cujo surgimento remonta ao final do século XVIII, mistura elementos das culturas indígena, africana e europeia, e ficou muito famosa no Brasil através do escritor Monteiro Lobato. O saci ainda é careca e usa um gorro vermelho em sua cabeça. A representação clássica do saci frequentemente mostra ele fumando um cachimbo.
Lenda alienígena à cultura brasileira
O Halloween não tem nenhuma relação com a cultura brasileira ou dos povos africanos, europeus ou asiáticos., que vieram para as terras que era dos indígenas e que também não cultuam esse festejo. O Halloween é, segundo historiadores, uma festa muito tradicional nos Estados Unidos, mas que a mídia pró-americana incutiu na cabeça dos brasileiros.
A origem dessa celebração estrangeira remonta aos celtas e a uma festividade tradicional desse povo chamada Samhain, levada para os Estados Unidos em 1840, por imigrantes irlandeses que fugiam da fome pela qual seu país passava e passou ser conhecido como o “Dia das Bruxas.” Apesar da lei em vigor que estabelece o Dia do Saci em 31 de outubro, por desinformação ou por interesse em cultuar folclore de outro país e não o genuinamente brasileiro, parte da grande imprensa celebra a festa dos Estados Unidos, o Halloween.
Como surgiu o Dia do Saci
O Dia do Saci foi elaborado em 2003, através do Projeto de Lei Federal n.º 2.762 proposto pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB). No entanto, a aceitação entre os parlamentares não foi imediata e somente 10 anos mais tarde essa data foi oficializada. Em 2013, a Comissão de Educação e Cultura elaborou o Projeto de Lei Federal n.º 2.479, que institui o 31 de outubro como sendo o Dia do Saci. Os proponentes foram o deputado federal Chico Alencar e a vereadora de São José dos Campos (SP), Ângela Guadagnin.
O texto da lei é curto, dizendo apenas: “O Congresso Nacional decreta: Art. 1º – Fica instituído o dia 31 de outubro como o “Dia do Saci”, destinado a eventos culturais, folclóricos e esportivos que valorizem a cultura e as tradições brasileiras. Art.2º. O Poder Executivo deverá introduzir em seu calendário de eventos, atividades que promovam a divulgação da data em todo o País. Art. 3º – Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Na justificativa, é destacado que a sugestão para a criação do “Dia do Saci” partiu “de um grupo de entusiastas da cultura popular, preocupados com o resgate da mitologia e da cultura popular brasileira.” O objetivo é chamar a atenção para o resgate de lendas do nosso folclore para que se torne uma comemoração nacional das tradições brasileiras. A idéia surgiu em São Luiz do Paraitinga, pequena cidade do Vale do Paraíba paulista, depois que um grupo de apaixonados por sacis se reuniu e criou a Sociedade dos Amigos do Saci (Sosaci), transformando-se em um projeto dos então vereadores Marcelo Santos Toledo e José Donizete Lopes, aprovado por unanimidade pela Câmara Municipal de São Luiz do Paraitinga.
“A escolha do dia 31 de outubro, quando é comemorado o Halloween (Dia das Bruxas) nos Estados Unidos, festa que a cada ano atrai mais crianças brasileiras, é proposital. Como muitas das tradições incorporadas à cultura brasileira, o Halloween tem sua origem em rituais celtas realizados no norte da Europa há mais de dois mil anos.”
De acordo com a justificativa, a estrangeira celebração do Halloween se iniciou com os povos os celtas, o dia 1º de novembro simbolizava o final do verão e das colheitas, seguido por um longo período de dias frios e sem sol. “Acreditava-se que, no dia 31 de outubro, à meia-noite, os espíritos dos mortos voltavam para a Terra e poderiam causar prejuízos nas plantações e outros danos. Para amenizar os estragos, os celtas estabeleciam contato com seus ancestrais e prestavam homenagem aos mortos.”
“Com o tempo, a festa pagã foi incorporada pela Igreja Católica: o 1º de novembro virou o Dia de Todos os Santos e o dia 2, Finados. Mas, enquanto as fogueiras do mês de junho e as folias de fim de ano – duas práticas celtas – foram incorporadas pelos portugueses antes de chegar ao Brasil, o Halloween permaneceu restrito à cultura anglo-saxônica”, prossegue a justificativa da lei brasileira.
Deputado quer proibir o estrangeirismo do Halloween em escolas públicas
O deputado estadual capixaba Alcântaro Victor Lazzarini Campos (Republuicanos) protocolou nesta última quarta-feira (30), o projeto de lei (PL) 584/2024, onde propõe a proibição da celebração do Halloween (Dia das Bruxas) nas escolas públicas do estado do espírito santo. Alcântaro Filho, de 37 anos, nascido em Aracruz (ES), é advogado e fundamentou a sua proposta na justificativa anexada ao Processo Ales 22.037/2024, onde está anexado o PL 584/2024.
” A presente proposta de Lei tem por objetivo proibir a celebração do Halloween nas escolas públicas de ensino fundamental e médio do Estado do Espírito Santo, motivada pela necessidade de preservar a integridade cultural, ética e moral dos estudantes, bem como os valores educacionais e familiares que são pilares da nossa sociedade”, iniciou o parlamentar do Republicanos.
”O Halloween, embora amplamente celebrado em diversos países, não possui raízes na cultura brasileira e pode interferir negativamente no processo educacional ao promover valores e práticas que não são alinhados com nossa identidade cultural. A proibição das celebrações e atividades relacionadas ao Halloween visa evitar a propagação de uma festividade que não faz parte da tradição cultural brasileira e, ao mesmo tempo, protege os estudantes de influências externas que podem não condizer com os princípios e valores defendidos por suas famílias e comunidades”, prosseguiu.
Alcãntaro Filho continua na sua justificativa: “Além disso, a Lei visa reforçar a valorização das tradições e festividades nacionais, promovendo um ambiente escolar que respeite e celebre a rica diversidade cultural do Brasil. A medida também tem a finalidade de garantir que o ambiente escolar seja um espaço de aprendizado e desenvolvimento de valores que contribuam para a formação integral dos alunos, sem a interferência de comemorações alheias ao nosso contexto cultural.“
Parlamentar diz que cultura americana traz “pavor nas escolas”
“Outro ponto crucial é a promoção da cultura da paz nas escolas. O Halloween, com suas conotações de medo e elementos sombrios, pode gerar desconforto e até mesmo pavor entre as crianças, que são especialmente sensíveis a tais estímulos. A proibição do Halloween nas escolas busca, assim, garantir um ambiente escolar mais seguro e acolhedor, livre de qualquer forma de violência simbólica e psicológica que possa impactar negativamente o desenvolvimento emocional dos estudantes”, diz o deputado do Republicanos.
“Adicionalmente, a Lei procura prevenir a disseminação de atividades que possam incitar a violência ou o medo, promovendo, em contrapartida, valores de respeito mútuo, harmonia e empatia. O ambiente escolar deve ser um lugar onde os estudantes se sintam seguros e encorajados a aprender e crescer em um ambiente de paz e respeito”, completa Alcântaro Filho.
Foram escolas particulares da elite que introduziram o Halloween no Brasil
A festa do Halloween ficou restrita à região da Irlanda durante séculos e só se popularizou no século 19 nos Estados Unidos com a imigração irlandesa para aquele país. No Brasil, o Halloween começou a ser celebrado em 1983, durante a ditadura militar, que tinha proximidade ideológica com os Estados Unidos. Os militares permitiram que a festa alheia à cultura brasileira fosse inicialmente introduzida em escolas particulares, de idioma inglês, onde estudavam os filhos da elite econômica.
“A intenção deste projeto é ensinar as crianças que o País também tem seus mitos, difundindo a tradição oral, a cultura popular e infantil, os mitos e as lendas brasileiras. Em vez de bruxas e gnomos, a manifestação cultural deve valorizar figuras folclóricas que se refiram às tradições brasileiras. Afinal, o saci é da nossa cultura e uma síntese das três raças que estão na origem da nação brasileira – o índio, negro e o branco”, conclui a justificativa do projeto que criou o Dia do Saci no Brasil.
Serviço:
O livro “O Saci”, de Monteiro Lobato, já se encontra em domínio público e aos interessados em fazer o download gratuito, em arquivo PDF, é só clicar neste link.
Ou leia a obra de Monteiro Lobato a seguir:
O-Saci-Monteiro-Lobato