Essa é a inflação medida pelo IPCA, que em 12 meses chegou a 11,30%, mas a que é observada pelo INPC foi ainda maior para o mês passado e chegou a 1,71% e em um ano alcançou 11,73%
O descontrole do governo Bolsonaro na gestão da economia levou o Brasil a ter, no último mês de março, uma inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 1,62%. Essa é a maior variação para um mês de março desde 1994, quando há 28 anos atrás o índice inflacionário foi de 42,75%, no período que antecedeu a implementação do Plano Real no governo do ex-presidente Itamar Franco. Os números foram divulgados pelo IBGE, que ainda apontou uma inflação de 11,30% nos últimos 12 meses.
Em fevereiro deste ano a inflação foi de alta de 1,01%. Em apenas três meses deste ano, segundo o IBGE a inflação acumulada de janeiro a março é de 3,20. O percentual de março também configura como a maior taxa mensal para o índice desde janeiro de 2003, quando foi de 2,25%. A inflação de março de 2022 foi acima da mediana e fora das projeções feitas por economistas e instituições financeiras, que apostavam num índice inflacionário de março entre +0,54% e +1,43%, com mediana de +1,32%.
Combustíveis e alimentação puxou a inflação de março
Segundo o IBGE, oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta em março. A maior variação (3,02%) e o maior impacto (0,65 pontos. percentuais/pp.) vieram dos Transportes, que aceleraram na comparação com o resultado de fevereiro (0,46%). Na sequência, veio o grupo Alimentação e bebidas, com alta de 2,42% e 0,51 p.p. de impacto. Juntos, os dois grupos contribuíram com cerca de 72% do IPCA de março. Além deles, houve aceleração também nos grupos Vestuário (1,82%), Habitação (1,15%) e Saúde e cuidados pessoais (0,88%). O único com queda foi Comunicação, com -0,05%. Os demais ficaram entre o 0,15% de Educação e o 0,59% de Despesas pessoais.
O resultado do grupo Transportes (3,02%) foi influenciado, principalmente, pela alta nos preços dos combustíveis (6,70%), em particular, o da gasolina (6,95%), subitem com maior impacto individual (0,44 p.p.) no índice do mês. Cabe lembrar que, no dia 11 de março, o preço médio de venda da gasolina da Petrobras para as distribuidoras foi reajustado em 18,77%. Além disso, houve altas nos preços do gás veicular (5,29%), do etanol (3,02%) e do óleo diesel (13,65%). Os dois últimos contribuíram conjuntamente com 0,06 p.p. no IPCA de março.
Além dos combustíveis, a aceleração do grupo Transportes também está relacionada à alta nos preços de alguns serviços, como o transporte por aplicativo (7,98%), o seguro voluntário de veículo (3,93%) e o conserto de automóvel (1,47%). Os automóveis novos (0,47%) e usados (0,76%) também seguem em alta, embora as variações tenham sido menores que as do mês anterior (1,68% e 1,51%, respectivamente). Nos transportes públicos, a variação positiva do ônibus urbano (1,27%) deve-se aos reajustes nos preços das passagens em Curitiba (20,22%), com reajuste de 22,23% a partir de 1º de março; São Luís (5,14%) com aumento de 5,40%, em vigor desde 27 de fevereiro; Recife (4,86%), reajuste de 9,33%, vigente desde 13 de fevereiro; e Belém (1,11%) com reajuste de 11,11%, a partir de 28 de março.
Ainda em Transportes, o destaque no lado das quedas foram as passagens aéreas, com -7,33% de variação e -0,03 p.p. de impacto. A metodologia aplicada no IPCA considera uma viagem marcada com dois meses de antecedência, ou seja, a variação observada no mês reflete a coleta de preços feita em janeiro para viagens realizadas em março.
Alimentação e bebidas
Já a aceleração em Alimentação e bebidas (2,42%) decorre, principalmente, da alta nos preços dos alimentos para consumo no domicílio (3,09%). A maior contribuição (0,08 p.p.) dentro do grupo veio do tomate, cujos preços subiram 27,22% em março. Além disso, foram registradas altas em diversos produtos, como a cenoura (31,47%), que acumula alta de 166,17% em 12 meses, o leite longa vida (9,34%), o óleo de soja (8,99%), as frutas (6,39%) e o pão francês (2,97%).
Na alimentação fora do domicílio (0,65%), a refeição, que havia ficado próxima da estabilidade em fevereiro (0,02%), registrou alta de 0,60% em março. Já o lanche teve alta de 0,76%, frente ao 0,85% observado no mês anterior.
Vestuário e habitação
Outro grupo a acelerar na passagem de fevereiro para março foi Vestuário, com alta de 1,82%. Todos os itens que compõem o grupo tiveram variação positiva, com destaque para as roupas femininas (2,32%) e os calçados e acessórios (2,05%). Os preços das joias e bijuterias, que haviam caído em fevereiro (-0,36%), voltaram a subir (1,18%).
O grupo Habitação teve alta de 1,15% em março, puxado pelo aumento dos preços do gás de botijão (6,57%). No dia 11 de março, houve reajuste de 16,06% no preço médio de venda do GLP para as distribuidoras. Além disso, a alta de 1,08% da energia elétrica também contribuiu para o resultado do grupo. As variações nas áreas foram desde -3,18% em Recife, onde houve redução de PIS/COFINS, até 4,66% no Rio de Janeiro, onde foram aplicados reajustes de 15,58% e 17,30% nas duas concessionárias de energia pesquisadas, ambos a partir de 15 de março.
Ainda em Habitação, destaca-se a alta de 4,23% no gás encanado. Em Curitiba (24,75%), as tarifas de gás foram reajustadas em 26% no dia 25 de fevereiro. Já no Rio de Janeiro (5,02%), foram aplicados um reajuste no dia 12 de fevereiro, de 2,95%, e outro em 16 de março, de 7,72%. A variação positiva da taxa de água e esgoto (0,11%) decorre dos reajustes em Aracaju (4,79%), de 5,00%, em vigor desde 1º de março; Goiânia (0,89%) com aumento de 8,98%, vigente desde 1º de fevereiro; e Fortaleza (0,22%), reajuste de 6,71%, implementado em 30 de janeiro.
Saúde e cuidados pessoais
O resultado do grupo Saúde e cuidados pessoais (0,88%) foi influenciado, principalmente, pelas altas dos itens de higiene pessoal (2,25%) e dos produtos farmacêuticos (1,32%). O plano de saúde (-0,69%) segue com variação negativa, refletindo o reajuste negativo de -8,19% aplicado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) no ano passado.
Todas as áreas pesquisadas tiveram alta em março. A maior variação ocorreu na região metropolitana de Curitiba (2,40%), onde pesaram as altas da gasolina (11,55%), do etanol (8,65%) e do ônibus urbano (20,22%). Já a menor variação foi registrada no município de Rio Branco (1,35%), onde houve queda nos preços das passagens aéreas (-11,33%) e do frango inteiro (-2,10%).
Para o cálculo do índice do mês, foram comparados os preços coletados entre 26 de fevereiro e 30 de março de 2022 (referência) com os preços vigentes entre 29 de janeiro e 25 de fevereiro de 2022 (base). O IPCA é calculado pelo IBGE desde 1980, se refere às famílias com rendimento monetário de 01 a 40 salários mínimos, qualquer que seja a fonte, e abrange dez regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís, Aracaju e de Brasília.
Inflação medida pelo INPC foi ainda maior
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) teve alta de 1,71% em março, acima do resultado do mês anterior (1,00%). Essa é a maior variação para um mês de março desde 1994, quando o índice foi de 43,08%, no período que antecedeu a implementação do Real. O INPC acumula alta de 3,42% no ano e 11,73% nos últimos 12 meses, acima dos 10,80% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em março de 2021, a taxa foi de 0,86%.
Os produtos alimentícios passaram de 1,25% em fevereiro para 2,39% em março. Os não alimentícios também aceleraram e registraram 1,50%, frente à variação de 0,92% do mês anterior.
Quanto aos índices regionais, todas as áreas pesquisadas tiveram alta de preços em março. O menor resultado ocorreu na região metropolitana de Belém (1,44%), em função da queda na energia elétrica (-2,98%). A maior variação, por sua vez, ficou com a região metropolitana de Curitiba (2,54%), influenciada pelas altas de 11,55% na gasolina e de 20,22% no ônibus urbano.
Para o cálculo do índice do mês, foram comparados os preços coletados entre 26 de fevereiro e 30 de março de 2022 (referência) com os preços vigentes entre 29 de janeiro e 25 de fevereiro de 2022 (base). O INPC é calculado pelo IBGE desde 1979, se refere às famílias com rendimento monetário de 01 a 05 salários mínimos, sendo o chefe assalariado, e abrange dez regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís, Aracaju e de Brasília.