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“Nós queremos que seja restabelecida a paz e a justiça no processo político”, diz Gleisi Hoffmann em ato pela paz em Foz do Iguaçu


Lideranças participaram, em Foz do Iguaçu, neste domingo (17), de ato pela paz e por justiça para dirigente morto por bolsonarista. Em referência ao assassinato político de Marcelo Arruda por um militante bolsonarista, a presidente do PT, Geisi Hoffmann disse: “Não podemos deixar normalizar crimes como esse”


Um ato pela paz em Foz de Iguaçu (PR), lembrando o assassinato de um dirigente local do PT por um bolsonarista, marcou este último domingo (17) | Foto: Eduardo Matysiakd/Divulgacao/PT

Um grande ato pela paz e justiça em nome de Marcelo Arruda, brutalmente assassinado na semana passada por um bolsonarista, foi realizado neste domingo (17), em Foz do Iguaçu (PR). Lideranças políticas, representantes religiosos, indígenas e familiares homenagearam o dirigente petista, incluindo a presidenta Nacional do PT Gleisi Hoffmann e o ex-governador do estado Roberto Requião. Outros atos para honrar a memória de Marcelo foram organizados em capitais como Porto Alegre, Curitiba e São Paulo.

Em discurso no qual homenageou Marcelo e sua família, Gleisi Hoffmann afirmou que a violência política não pode ser mais tolerada e precisa ser enfrentada em todo o país, com a participação da sociedade civil.

Presidente nacional do PT esteve em Foz do Iguaçu para participar do ato pela paz | Vídeo: YouTube

“Não podemos deixar normalizar crimes e assassinatos como esse, sob pena de transformarmos um processo político, eleitoral, em um banho de sangue da população brasileira. O caso do Marcelo não é um caso isolado, não é uma briga de vizinho, que já seria trágica, mas não é”, disse Gleisi, reforçando que o ato pela paz não é eleitoral, mas uma manifestação política por justiça.

“Marcelo morreu por acreditar numa ideia, por ter uma posição política, por defender essa posição. Quem o matou, o fez por isso, não foi por outro motivo, não tinha uma rixa, uma dívida com ele, nem o conhecia ou convivia com ele.  [O assassino] entrou naquela festa, não queria só matar o Marcelo, queria exterminar um grupo político. E isso tem sido incentivado há alguns anos na nossa sociedade”, argumentou.

Gleisi lembrou de outros assassinatos por motivação política, como os recentes de Bruno Pereira e Dom Phillips e Marielle Franco, e responsabilizou Jair Bolsonaro pela escalada de violência no país. “O ódio não pode ser instrumento da política, quando isso acontece, vira guerra. Isso tem nome, tem endereço: Jair Messias Bolsonaro”, acusou.

“Nós estamos na política porque sempre tivemos causa. Mas jamais achamos que é exterminando o outro que nós vamos resolver os problemas da sociedade ou ganhar a parada. Sempre fizemos pela discussão e pelo debate. E é isso que queremos dizer hoje: que queremos que seja restabelecida a paz e a justiça no processo político e, principalmente, no processo eleitoral que se avizinha”, alertou a presidenta do PT.

Medidas

Gleisi anunciou que o partido acionou a Procuradoria-Geral da República para que o crime seja federalizado. Do mesmo modo, uma ação foi protocolada junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para coibir atos de violência política. “Pedimos uma ação contra aqueles que estimulam e incentivam a violência, os que fazem vídeos que dizem que vão matar, que vão justiçar com as próprias mãos, incluindo o presidente da República, pela responsabilidade que ele tem”, explicou.

“A responsabilização não é só de quem puxou o gatilho, é de quem incentivou e incentiva o tempo inteiro para que os gatilhos sejam puxados”, justificou.

Indignação

“Para mim é muito difícil participar desse ato. Estou tomado pela indignação com o que aconteceu com o companheiro Marcelo Arruda”, afirmou o ex-governador do Paraná, Roberto Requião. “Precisamos da tolerância política no Brasil”, pediu Requião.

“O fato ocorrido aqui foi inspirado pelo comportamento irracional e intolerável do presidente da República, que estimula a violência e influencia, de forma clara, uma minoria de pessoas”, confirmou Requião, reiterando que o assassinato de Marcelo foi um crime político.

Requião reforçou que é preciso enfrentar de modo pacífico o retrocesso fascista e que o Brasil hoje está em guerra. “Em um espaço democrático, essa guerra nós enfrentamos desarmados”, disse Requião, para quem a democracia é a única arma do cidadão para lutar por seus direitos. “vamos varrer a intolerância, o domínio do capital e a subserviência das pessoas diante da concentração de recursos dos muito ricos. Queremos que o governo do Paraná seja um reflexo da coragem, da alegria e da decisão de Marcelo Arruda”, concluiu.

Caminho de paz

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Paraná, Márcio Kieller, defendeu a construção de um caminho de paz e de diálogo no país. “Temos alertado que negociações que começam sem diálogo não avançam, respeito é fundamental”, avisou Kieller.

O sindicalista alertou que a sociedade precisa carregar consigo o conceito de uma cultura de paz e que os candidatos nas eleições têm a missão de incorporá-lo nos seus discursos. “É urgente para que a gente não tenha mais esses casos”, advertiu. Kieller manifestou ainda solidariedade com a viúva de Marcelo, Pâmela Silva, pela sua coragem no enfrentamento do assassino de Marcelo.

“Milhares de Marcelos”

O deputado estadual Tadeu Veneri (PT-PR), que presidiu a Comissão dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, fez um discurso emocionado em homenagem a Marcelo Arruda. “A violência e o medo não impedirão que nós continuemos fazendo essa caminhada, da qual Marcelo faz parte. Ele está conosco agora, somos milhares de Marcelos”, declarou.

Veneri também responsabilizou Bolsonaro pelo crime. “Não há como ignorar o estímulo que vem sendo feito todos os dias para que pessoas comuns, anônimos, passem a fazer parte desse número cada vez maior de intolerantes, de pessoas que resolvem na violência para compensar aquilo que não conseguem pelo diálogo”.

Heroísmo

A família de Marcelo Arruda também compareceu ao ato. O irmão Luiz Donizete, o filho Leonardo Arruda, a viúva Pâmela Silva e a ex-companheira Alexandra Miranda subiram ao palco para manifestar seu pesar. Donizete condenou o crime e reafirmou que tratou-se de um ato político.

“Aquele camarada chegou lá e só teve aquela reação maldita porque viu um movimento [político] diferente do dele”, lamentou o irmão de Arruda.“Que a gente possa ter um Brasil de todos e que queiramos, aqui, viver em paz”, declarou.

O filho, Leonardo Arruda, pediu que todos continuem a lutar por um país mais justo. “É o que meu pai defendia: liberdade de expressão, igualdade entre as pessoas, seja qual gênero, opção sexual, religião e agora, principalmente, seja qual sua opção política”, lembrou. “É inadmissível que uma pessoa mate por intolerância política, é inadmissível que a gente deixe isso tomar conta das nossas famílias”.

Pâmela Silva lembrou do heroísmo de Marcelo, que deu sua vida para defender a família e os amigos que celebravam seu aniversário. “Marcelo lutou e defendeu quem estava ali. Mas isso foi só uma parte do que ele fazia: diariamente ele fazia isso”, relatou, detalhando a quantidade de pessoas que o companheiro ajudou em vida.

Ela fez um apelo para que o país possa superar a violência política para viver em paz. “Por favor, vamos parar com isso”, pediu. “Não desejo a ninguém a dor que estamos sentindo”.