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O destempero de Evair

Evair de Melo (acima, à direita), um dos coautores do PL que criminaliza crianças estupradas, se rebela contra o bispo Dm João Justino, do Santuário de Anchieta (ES) por ele ter defendido a reforma agrária | Fotos: CNBB e Pedro Valadares/Câmara dos Deputados

Papelão foi protagonizado pelo deputado federal Evair de Melo, da bancada capixaba na Câmara, ao divulgar em redes sociais uma moção de repúdio contra Dom João Justino, vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O ato, destemperado e sem cabimento, foi em resposta à pregação do líder religioso durante recente missa no Santuário de São José de Anchieta.

Dom João Justino pregou a defesa da necessária e urgente reforma agrária e também fez críticas ao marco temporal para a demarcação de terras indígenas, em cerimônia realizada no município de Anchieta, sul do Estado. Seria um episódio de celebração a Anchieta, protetor dos indígenas e dos mais pobres, transformado em ataque político descontextualizado da própria doutrina cristã, sempre ao lado dos humilhados e ofendidos.

Contrariando todos esses ensinamentos, o parlamentar, que é vice-líder da oposição bolsonarista, diz que “Dom João Justino, ao expressar visões políticas sobre o marco temporal para demarcação de terras indígenas durante uma celebração dedicada a São José de Anchieta, não só foi inoportuno, mas transgrediu a sacralidade do evento e desrespeitou a expectativa de devoção dos participantes”.

Ora, ao fazer tal afirmação, Evair de Melo destoa do contexto atual da Igreja Católica, ao lado dos mais pobres e oprimidos, e se coloca, mais uma vez, como representante das classes dominantes ligadas ao agronegócio. Uma atuação que não afeta apenas o bispo, mas a todo o povo que ele, por juramento, é obrigado a defender.

O deputado, para lembrar quem ele é, tem seu nome destacado entre os políticos ligados a invasões de terras indígenas em diversos estados do país, listados no dossiê “Os Invasores – Parte II – Os Políticos”, publicado pelo De Olho nos Ruralistas – Observatório do Agronegócio no Brasil.

Evair de Melo é um dos vice-presidentes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), onde se concentra a maior parte dos parlamentares financiados por empresários donos de fazendas sobrepostas a territórios de povos originários, e também integra a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Para lutar contra as populações mais vulneráveis.

O papel desempenhado na Câmara Federal pelo deputado, ao votar contra projetos visando a reconstrução do país, depois de quatro anos de destruição pelo bolsonarismo, mostra que, como a maioria do bloco político que ele pertence, sua visão é mais pela barbárie, configurada na constante matança de indígenas, no desrespeito ao meio ambiente e na manutenção de um status quo onde os mais vulneráveis não merecem ter aquilo a que têm direito. Isso é desumano.