Papelão foi protagonizado pelo deputado federal Evair de Melo, da bancada capixaba na Câmara, ao divulgar em redes sociais uma moção de repúdio contra Dom João Justino, vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O ato, destemperado e sem cabimento, foi em resposta à pregação do líder religioso durante recente missa no Santuário de São José de Anchieta.
Dom João Justino pregou a defesa da necessária e urgente reforma agrária e também fez críticas ao marco temporal para a demarcação de terras indígenas, em cerimônia realizada no município de Anchieta, sul do Estado. Seria um episódio de celebração a Anchieta, protetor dos indígenas e dos mais pobres, transformado em ataque político descontextualizado da própria doutrina cristã, sempre ao lado dos humilhados e ofendidos.
Contrariando todos esses ensinamentos, o parlamentar, que é vice-líder da oposição bolsonarista, diz que “Dom João Justino, ao expressar visões políticas sobre o marco temporal para demarcação de terras indígenas durante uma celebração dedicada a São José de Anchieta, não só foi inoportuno, mas transgrediu a sacralidade do evento e desrespeitou a expectativa de devoção dos participantes”.
Ora, ao fazer tal afirmação, Evair de Melo destoa do contexto atual da Igreja Católica, ao lado dos mais pobres e oprimidos, e se coloca, mais uma vez, como representante das classes dominantes ligadas ao agronegócio. Uma atuação que não afeta apenas o bispo, mas a todo o povo que ele, por juramento, é obrigado a defender.
O deputado, para lembrar quem ele é, tem seu nome destacado entre os políticos ligados a invasões de terras indígenas em diversos estados do país, listados no dossiê “Os Invasores – Parte II – Os Políticos”, publicado pelo De Olho nos Ruralistas – Observatório do Agronegócio no Brasil.
Evair de Melo é um dos vice-presidentes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), onde se concentra a maior parte dos parlamentares financiados por empresários donos de fazendas sobrepostas a territórios de povos originários, e também integra a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Para lutar contra as populações mais vulneráveis.
O papel desempenhado na Câmara Federal pelo deputado, ao votar contra projetos visando a reconstrução do país, depois de quatro anos de destruição pelo bolsonarismo, mostra que, como a maioria do bloco político que ele pertence, sua visão é mais pela barbárie, configurada na constante matança de indígenas, no desrespeito ao meio ambiente e na manutenção de um status quo onde os mais vulneráveis não merecem ter aquilo a que têm direito. Isso é desumano.