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OAB emite nota de repúdio contra comentários racistas de professora da Faesa em sala de aula

A acusação de crime de injúria racial contra a professora Juliana Zucculotto (a esquerda), feita pela aluna Carolina Bittencort (à direita na foto), continuam repercutindo no Espírito Santo | Fotos:Reprodução: Facebook/Instagram

Nesta última sexta-feira (24) a seccional capixaba da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-ES) emitiu nota oficial de repúdio, por intermédio da Comissão de Igualdade Racial, da Comissão da Mulher Advogada, da Comissão de Direitos Humanos e da Comissão de Gestão e Advocacia Popular. A nota se refere ao fato ocorrido na Faesa em 22 de junho, em sala de aula do Curso de Design de Moda, da Faculdade Faesa de Vitória, quando na ocasião a aluna do curso, Carolina Bittencourt, relatou ter  vítima de injúria racial praticada pela professora Juliana Zuccolotto, dentro da faculdade particular;

Segundo a nota, a OAB-ES lembra que a acusação de injuria ocorreu no momento em que Juliana ministrava a aula e fez comentários racistas a respeito da história do uso de tatuagem, verbalizando que a tatuagem surgiu dentro do sistema prisional e que “era muito feio tatuagem e que mais feio ainda era quem tinha pele negra. E que parecia pele encardida quem tinha tatuagem em pele negra”. Leia a seguir a íntegra da nota de repúdio da OAB-ES:

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“Tal ato vai contra tudo o que se espera de um professor, que tem como missão contribuir com a construção do indivíduo, proporcionando ao aluno recursos intelectuais para gerir a sua própria vida, bem como apresentar o conhecimento de forma imparcial, deixando de lado suas crendices e achismos, sem imposições contrárias à ética, aos costumes, às tradições familiares e religiosas, sempre respeitando o espaço de cada um”, afirma a entidade que representa os advogados do Espírito Santo.

O ambiente acadêmico exige do professor uma postura adequada e coerente, partindo do pressuposto de que o respeito, a justiça e a moral são elementos primordiais inerentes à conduta cotidiana ética, referente a todo ser humano. É indiscutível o fato de que recai sobre o professor o dever de se instaurar um clima de reciprocidade em sala de aula, principalmente no que se refere ao respeito. Deixamos aqui o nosso apoio e solidariedade a aluna Carolina Bittencourt e esperamos que todas as medidas sejam tomadas a fim de que o fato seja devidamente apurado. Reafirmamos nosso compromisso no combate a todo e qualquer tipo de discriminação.

A estudante usou a sua conta no Instagram para denunciar a professora | Vídeo: Instagram

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A estudante, sob forte emoção, gravou um vídeo, onde relatou o que ocorreu e publicou no Instagram. “Eu acabei de passar por um preconceito na sala de aula. A professora Juliana Zuccolotto falou sobre tatuagem, que a origem dela veio do presidiário. Eu estou muito nervosa, não consigo nem falar direito. Ela falou que era muito feio tatuagem, que era mais feio para quem tinha pele negra e parecia pele encardida”, contou a estudante, aos prantos”, diz a estudante. Mais de 20 estudantes presenciaram as afirmações da professora;

Em um áudio atribuído a uma outra estudante, que estava presente na mesma sala de aula da Faesa, ela narrou como tudo se iniciou. Segundo esse áudio, o início ocorreu durante a apresentação de um trabalho escolar, onde a professora da Faesa aproveitou o tema para questionar se alguém tinha vontade de fazer tatuagem. Carolina foi uma das alunas que levantou a mão, juntamente como fizeram outras estudantes. A partir daí, a professora iniciou os comentários tidos como racistas.

“A professora falou bem assim: ‘acho tatuagem horrível, ainda mais em pele negra. Fica parecendo que está sujo, manchado. Eu nunca me tatuaria. Eu não sou escrava para ter a pele marcada’. Isso acabou com a menina. Na hora, ninguém notou, depois de uma meia hora ela saiu da sala e começou toda a confusão”, afirmou o áudio atribuído à estudante.

Naquela oportunidade a estudante chamou a Polícia Militar, que foi no interior da Faesa. A professora e a aluna foram levadas até um distrito policial, onde a professora foi autuada por injúria racial. Nessa ocasião, a polícia explicou que injúria é quando as ofensas de racismo são direcionadas a uma única pessoa e que o racismo é quando agride um conjunto de pessoas. No entanto, a OAB-ES discordou e alegou, através da imprensa, que as ofensas não atinigiram apenas a estudante, mas a todas as pessoas negras que usam taguagem,

O curso que a estudante foi ofendida pela professora da Faesa é caro, custando R$ 824,60 por mês

O curso Design de Modas da Faesa tem a duração de sete semestres e não é barato. A faculdade, por ser particular, visa lucro e com isso a mensalidade custa atualmente R$ 824,60.  Sem incluir as despesas com o transporte, roupas, livros, lanches ou almoço fora de casa, somente com a faculdade particular, o aluno desse curso vai gastar um total de R$ 34.633,20 no final dos três anos e meio de curso.

Em nota, a Faesa informou que a professora foi afastada para a apuração dos fatos. Para a Polícia, a professora Juliana Zuccuotto alegou que foi mal interpretada. Já a coordenadora do movimento negro Unificado no Espírito Santo, Vanda Vieira, entendeu que o comentário foi feito de propósito. “Não existe essa de comentário infeliz. Ela só disse o que achava, um pensamento racista. Quando você não é racista, você não faz esse tipo de comentário. É inaceitável isso, essa falta de respeito é absurda, ainda mais vindo de uma professora. Esse tipo de postura esconde um discurso de ódio”, alegou a dirigente da entidade de representação de pessoas negras.