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Obra do Governo do Ceará ameaça deixar o cone sul latino-americano e África sem Internet


“A região de Fortaleza é estratégica para a América do Sul e África, pois, para as comunicações africanas chegarem até os Estados Unidos, o caminho mais curto é, hoje, via Brasil. A grande maioria do tráfego de dados está concentrado nos Estados Unidos, ou seja, indo para lá ou vindo de lá. Estes mesmos cabos também suportam conexão com Uruguai e Argentina, bem como países da América Central.”

 Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (Telcomp)

Obra do Governo do Ceará ameaça deixar o cone sul latino-americano e África sem Internet | Foto: Divulgação

A construção de uma usina de dessalinização na Praia do Futuro, em Fortaleza (CE) está trazendo riscos de desplugar a Internet brasileira, da Argentina, Uruguai, Paraguai e de todo o continente africano com o resto do mundo. É o que afirma a Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (Telcomp), já que é exatamente nessa praia que saem 17 cabos submarinos e por onde passa 99% de toda a Internet brasileira. A usina de dessalinbização, que será a maior do Brasil, traz riscos ao rompimento dessa sistema óptico de comunicação de dados.

A escolha da Praia do Futuro, que fica 25 quilómetros ao Sul de Fortaleza, foi do ex-governador do Ceará, Camilo Santana (PT). A ordem de serviço foi assinada no dia 20 de julho de 2021. “É um dia muito importante para Fortaleza e para o Ceará. É um passo histórico que nós estamos dando. É o Ceará inovando e trazendo para cá, com a parceria privada, a maior usina de dessalinização de água do mar do Brasil”, comemorou Camilo Santana naquela ocasião.

O governador atual, Elmano de Freitas da Costa (PT), foi alertado do risco que a usina traz para a Internet do Brasil, mas manteve a construção da usina exatamente onde estão os cabos submarinos que interligam o Brasil à África, Europa e Estados Unidos, e dali para a Ásia. O risco surge porque a usina suga a água do mar, através de motores possantes,  para dessalinizar e transformar a água do mar em água potável “doce”.

A ruptura dos cabos não vai prejudicar apenas o Brasil, mas todos os países do cone sul latino americano e toda a África. “A região de Fortaleza é estratégica para a América do Sul e África, pois, para as comunicações africanas chegarem até os Estados Unidos, o caminho mais curto é, hoje, via Brasil. A grande maioria do tráfego de dados está concentrado nos Estados Unidos, ou seja, indo para lá ou vindo de lá. Estes mesmos cabos também suportam conexão com Uruguai e Argentina, bem como países da América Central”, assinala a entidade.

A TelComp foi fundada em janeiro de 2000, reunindo operadoras de telecomunicações e atua para promover a competição como alavanca para o desenvolvimento do setor. Entidade plural que representa os interesses de operadoras de telefonia fixa e móvel; banda larga e acesso à internet; TV por assinatura; data centers e serviços corporativos, a TelComp representa suas associadas perante os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e, em especial, junto a Anatel, assim como Ministérios, Congresso, Governos Estaduais e Municipais, Tribunal de Contas da União e Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

A importância dos cabos submarinos de Fortaleza, para o Brasil, Argentina e Uruguai e de todas as conexões de Internet da África com os Estados Unidos | Gráfico: Divulgação/Anatel

TelComp envia nota para o Grafitti News

A pedido do Grafitti News, a Telcomp, entifdade que congrega 62 empresas associadas, enviou o seu poscionamento sobre o imbróglio, entre as empresas responsáveis pelo serviço de Internet no Brasil e o Governo do Ceará.  A capital do Ceará possui a menor distância, em linha reta, da África, Europa e Estados Unidos e é por isso que a Praia do Futuro tem sua localização estratégica para a instalação de cabos submarinos.

Posicionamento da Telcomp

A importância dos cabos submarinos

Os cabos submarinos têm importância fundamental para as telecomunicações brasileiras, porque estamos, atualmente, inseridos num mundo interconectado, da informação rápida, da conectividade, da digitalização de diversos serviços e setores da economia, da transformação digital e da migração de informações para nuvens. Tudo isso está diretamente ligado aos cabos submarinos, data centers e telecomunicações.

A porta de entrada no Brasil para todo esse ecossistema da conectividade com o mundo é o Parque Tecnológico da Praia do Futuro, em Fortaleza/CE. O Hub de Fortaleza, que abriga não somente cabos submarinos, mas também importantes data centers, é importante não apenas  para o Brasil, mas para a América do Sul. Se olharmos o mapa internacional de cabos submarinos, a região de Fortaleza é estratégica para a América do Sul e África, pois, para as comunicações africanas chegarem até os Estados Unidos, o caminho mais curto é, hoje, via Brasil. A grande maioria do tráfego de dados está concentrado nos Estados Unidos, ou seja, indo para lá ou vindo de lá. Estes mesmos cabos também suportam conexão com Uruguai e Argentina, bem como países da América Central.

No entanto, mesmo com toda essa infraestrutura aportada na Praia do Futuro já há alguns anos, foi iniciado o projeto de licitação para a construção de uma usina de dessalinização de água do mar para atender uma parcela da população da cidade de Fortaleza. O que ocorre, é que o setor, há mais de um ano, vem demonstrando sua preocupação com a segurança dos cabos submarinos e data centers ali instalados e de sua convivência com uma planta industrial dessa natureza em suas áreas vizinhas. Nota-se que há uma insistência do governo estadual do Ceará em fazer a obra da usina dessalinização nessa região, mesmo tendo sido produzidos estudos prévios indicando a possibilidade de instalação em outras áreas do litoral.

Se o contrário fosse verdadeiro, ou seja, se já existisse há mais de 20 anos uma usina de dessanalização na Praia do Futuro, é certo que nenhuma empresa de telecomunicações escolheria o local para instalar cabos submarinos, porque é uma unidade industrial. Não se trata de querer exclusividade da região, que já convive com residências e comércio local, a questão é que não se pode colocar uma infraestrutura crítica em uma região industrial. Citando um exemplo dessa situação de risco, não existe ponto de ancoragem de cabos submarinos no Porto. Porque no Porto passam navios, há carga e descarga. São escolhidas regiões específicas justamente por conta desta sensibilidade.

A importância da usina de dessalinização

É importante destacar que a discussão sobre a construção da usina é legítima e a implementação de tal política pública é necessária. De forma alguma o setor de telecom está contra a resolução do problema de abastecimento de água que aflige a região, como se tem argumentado em algumas ocasiões. Não há oposição à construção de usina pelo setor. É legítima a preocupação do estado em levar água para qualquer região que necessite, mas sabe-se que existem locais mais adequados e seguros para sua instalação. A construção da usina junto ao Hub Tecnológico da Praia do Futuro é uma escolha infeliz, inoportuna e inapropriada.

Inicialmente estava sendo proposto, no projeto da usina, que os dutos de captação da água e emissão de resíduos ficassem muitospróximos de onde os cabos estão instalados. Porém, há uma distância mínima exigida pelas normas internacionais. E nada disso adianta se a usina estiver sendo construída no meio das lands stations. Isso quer dizer que vai haver cruzamento com a redes de telecomunicações terrestres, e não é uma simples rede de água e esgoto de distribuição para a população local, estamos falando de uma unidade industrial com vazão e dutos de proporções industriais.

Além disso, em virtude das instalações dos cabos, a região está se tornando um espaço para datacenters que têm sua exigência de certificação. Estão ali em função da latência e por ser uma região na qual o governo do Ceará designou como Parque Tecnológico. Por isso, há segurança jurídica para diversas empresas instalarem suas redes de telecomunicações e ancorarem seus cabos submarinos na região.

Daí o tamanho desconforto ao insistirem em fazer a usina neste local, poisse está colocando em risco a segurança das empresas instaladas na região e de outros pontos do país, descumprindo os acordos já selados.

O estado do Ceará tem cerca de 600 km de faixa litorânea. Portanto, existe muito espaço para colocar esta usina em outra região. Existem pontos ótimos e mais adequados para suaconstrução. Não estamos entrando nas considerações técnicas, mas este projeto não é apropriado se concebido desta forma. E é esta a preocupação das empresas de telecom. Nesta semana, fizemos um evento para esclarecimentos e mostrar a importância dos cabos submarinos em Fortaleza.

A importância do Hub Tecnológico da Praia do Futuro

Além da importância para as empresas de telecomunicações, as instalações tecnológicas em Fortaleza também beneficiam a região do Nordeste com a geração de empregos e toda a movimentação econômica proveniente de suas presenças na região. São mais de 40 mil empregos gerados por um Hub que provêm dos cabos submarinos e de empresas de tecnologia. Fortaleza, hoje, é destaque mundial nesta área em detrimento do Parque Tecnológico que existe no local.

Caso o projeto siga, haverá um êxodo das empresas da região, pois elas estão há cerca de 20 anos no local e precisam de modernização e,se a usina estiver lá, as empresas sairão aos poucos. Hoje, são cerca de 17 cabos instalados, mas há previsão de ampliação. Contudo, os projetos que estão em andamento podem ser revistos e as novas entrantes desistirem de investir no Estado. São centenas de milhões de dólares de investimento, estratégicos, com retorno girando em torno de 15 anos.

Caso um cabo deste seja rompido, as pessoas ficarão sem conexão de internet, que pode demorar semanas para corrigir. O impacto maior será a interrupção das comunicações não apenas no Brasil, como no tráfego com outros países. Colocaremos em risco um Hub de cabos.

Portanto, nossa reivindicação é legítima e bem fundamentada. Gostaríamos que o Estado do Ceará repensasse a execução deste projeto na Praia do Futuro para que ninguém saia perdendo nesta cadeia de conectividade.

Porta-voz: Luiz Henrique Barbosa da Silva, Presidente Executivo da TelComp