Os órgãos de fiscalização de contas públicas e da sociedade, ainda não promoveram uma investigação para saber o que está por trás do interesse em desalojar mais de mil famílias em Vila Velha (ES). O projeto é criar um luxuoso condomínio privado. Max Filho critica e o coronel Ramalho aponta “coincidências”
Em Vila Velha (ES), apenas por conta de elevados interesses econômicos de de perspectiva de alta lucratividade, está sendo promovido um quadro de injustiça social sem parâmetros na História do Espírito Santo. Está programado para esta terça-feira (8), caso não ocorra nenhum fato novo para evitar uma tragédia social, a destruição de moradias em Vila Esperança, nas proximidades de Jabaeté e da Grande Terra Vermelha, em Vila Velha (ES).
No local moram mais de mil famílias, que terão suas casas destruídas com uso de tratores e máquinas pesadas, semelhante ao que o Exército de Israel vem fazendo com as propriedades dos Palestinos, com o suporte da Polícia Militar do Espírito Santo. As comunidades ouvidas são unânimes em afirmar que o interesse de obter altos ganhos financeiros, despejando as famílias pobres para vir a transformar o local em um novo e luxuoso condomínio residencial privado.
Solução pacífica havia sido decidida, mas foi ignorada pelas autoridades atuais, diz ex-prefeito Max Filho
Diante da grave injustiça social que está sendo feita em Vila Velha, o ex-prefeito desse município da Região Metropolitana de Vitória (ES), Max Filho, se viu na obrigação de vir a pública, através de suas redes sociais, e contar havia solucionado a questão, mas que o atual prefeito, Arnaldo Borgo Filho, o Arnaldinho, que se desfiliou pelo partido que o elegeu no ano passado, o Podemos, decidiu cancelar tudo para entregar a área para os especuladores imobiliários construírem no local um condomínio de alto luxo.
“Consternados estamos assistindo ao descaso da Prefeitura, com centenas de famílias na regiçao chamada de Vila Esperança. A ocupação começou no Governo do (ex-prefeito) Rodney Miranda, numa área chamada de Vale da Conquista e nós apostamos no diálogo e na construção coletiva. Editamos um decreto, declarando a área de utilidade pública para fins sociais. Mas o acordo (com o proprietário) em torno do valor só finalizou no final do mandato.”, disse o ex-prefeito.
“Eu entendi, por prudência, não fazer a indenização e deixei o recurso na Prefeitura e o acordo construído. Infelizmente, a atual gestão deu as costas ao povo e abandonou as famílias, que agora estão correndo o risco de despejo imediato. Tá na hora da Prefeitura de Vila Velha ter um pouquinho de sensibilidade social e não ser colada a serviço de negociatas’, completou Max Filho.
Sócio do terreno cedeu apartamento para Arnaldinho morar, diz coronel
O coronel PM e ex-candidato a prefeito de Vila Velha pelo PL., coronel Ramalho, fez um vídeo contundente, onde mostra documentos, onde chama de “coincidências” as relações entre o empresário do ramo imobiliário Eduardo Martins Ballestrassi, dono da empresa PIX Negócios e Participações Ltda, e que é um dos sócios da dona da área reivindicada em Vila Esperança, através da “Fazenda Moendas Empreendimentos e Participações Imobiliárias Ltda” . De acordo com o coronel PM, há “coincidências” tanto a nível pessoal com Arnaldinho, através da cessão do apartamento de luxo onde mora na de frente para a Praia de Itaparica, quanto nas licitações da Prefeitura de Vila Velha.
Em vídeo que circula nas redes sociais, o coronel Ramalho diz: “Olha só quanta coincidência. Em 3 de dezembro de 2020, logo após as eleições municipais, foi aberta a empresa, PIX Negócios e Participações. Em 5 de março de 2021, dois meses após Arnaldo assumir a Prefeitura, essa mesma empresa alugou o apartamento onde ele mora.”
E prossegue: “Agora, o mais curioso. O proprietário da PIX Negócios e Participações, também é sócio de outra empresa, a Fazenda Moendas Empreendimentos e Participações Imobiliárias. E não pára por aí. A Fazenda Moendas, em seu quadro societário, possui outra empresa, que é a Sow Sports Produções e Eventos.”
“Agora, o mais intrigante. Um dos sócios desta empresa, é proprietário da Mais Eventos e Locações, que possui contrato com a Prefeitura e nos últimos três anos recebeu mais de R$ 30 milhões dos cofres públicos., locando tendas e estruturas metálicas. Será que todas essas ligações são meras coincidências?”, questiona o coronel Ramalho ao concluir o seu vídeo.
Sobrinho de secretário de Estado do Governo Casagrande
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o empresário que é sócio da área que será alvo de reintegração de posse e vai desalojar centenas de famílias em, Vila Esperança, e cuja empresa foi citada pelo coronel PM Ramalho, o empresário Eduardo Martins Ballestrassi se cadastrou como candidato a vereador em 2004 pelo PRTB. Em 5 de outubro de 2014 ele pediu votos pelo Facebook para o seu tio, Guerino Balestrassi, para deputado federal, então pelo PSDB.
Guerino Balestrassi foi prefeito de Colatina (ES) até o final do ano passado, quando não pode concorrer por já se encontrar no segundo mandato. Para acomodá-lo em um cargo público, o atual governador Renato Casagrande criou a Secretaria de Estado de Recuperação do Rio Doce, onde se encontra como secretário de Estado.
Moradores dizem que interesse do prefeito é ter condomínio de luxo no local
Para poder reverter a decisão de área de interesse social, originalmente uma fazenda em área rural, o atual prefeito alterou o zoneamento municipal e transformou a região onde se encontra a ocupação Vila Esperança de área rural para área urbana. O boom da expansão imobiliária, com condomínios de alto padrão e voltados para a elite econômica, já se aproxima da ocupação. Com isso, o sobrinho de Guerino Balestrassi comprou a então fazenda Vale da Conquista, vizinha à ocupação Vila Esperança.
Segundo os moradores, não será Eduardo Martins Ballestrassi quem vai construuir um condomínio de alto luxo nas duas áreas, Vila Esperança e Vale da Conquista, já que ele não tem “cacife” (dinheiro) para tanto, mas negociou com o grupo Alphaville a cessão da área, sob o compromisso de conseguir a desocupação completa das duas áreas. Moradores reclamam que tentaram sem sucesso conversar com o prefeito Arnaldinho, que se negou a recebê-los.
Segundo lideranças, representante do Governo do ES diz: “Vamos por vocês no meio da rua”
De acordo com entrevista concedida por uma das lideranças da ocupação, Adriana Paranhos, a Baiana, a desocupação com uso de maquinário pesado e com o apoio da Polícia Militar, não tem nenhuma preocupação social com as milhares de pessoas de Vila Esperança, nem com as crianças, com os idosos e muito menos com os enfermos. É algo com força bruta, nos mesmo moldes que o Exército israelense vem fazendo impunemente contra os palestinos.
Segundo Baiana, que participou de no início desta semana de uma reunião convocada por representante do Governo do Estado, através daa Polícia Militar, na pessoa do coronel PM Jefferson Carlos Morais, onde todos os participantes saíram aterrorizados da forma rude como o policial disse que pretende fazer o cumprimento da ordem da desembargadora. Não há nenhuma preocupação do Governo do Estado em oferecer um abrigo, mas de acordo com o que disse o militar aos ocupantes, ele simplesmente disse que irá cumprir a ordem, derrubando tudo e colocar os moradores “em alguma via pública e deixar ali.” “Eles não fizeram planos de deslocação, para colocar em algum lugar, não fizeram planos nenhum”, lamenta a Baiana.
Confiante em recurso apresentado ao Judiciário para barrar a reintegração de posse
A líder da ocupação disse estar confiante em recursos feitos ao Poder Judiciário, com o intuito de anular a decisão da desembargadora, que determinou que tratores e máquina pesadas destruam todo o conjunto residencial, construído há mais de 30 anos.
Baiana diz que nenhuma autoridade , quer seja municipal, estadual ou federal se preocupou efetivamente com a questão social diante da iminência do despejo de famílias que moram nessa região há mais de 30 anos. Ela diz que não existe escola e as crianças estão estudando em bairros vizinhos. Caso realmente concretize a desapropriação, não se sabe como e nem onde essas crianças poderão continuar os estudos.
No encontro com o represente da Polícia Militar, quando esse integrante fardado das forças de seguranças do Governo do Estado implantou o terror, não havia a presença de assistentes sociais ou de psicológicos, “E como vai ser essas crianças, caso se confirme essa desocupação?, foi perguntado. “Então, a maior preocupação é essa. Eles não estão preocupados com isso. Eles estão criminalizados, tipo assim: vamos lá, vira traficante, vai para a rua. Aqui há pessoas que estão acamadas, há pessoas são idosos. Eles estão nem aí”
Quem são os donos das empresas citadas
De acordo com os dados públicos da Receita Federal, os sócios da Fazenda Moendas Empreendimentos e Participações Imobiliárias Ltda são as seguintes empresas, com seus respectivos sócios pessoas físicas:
.1 Eduardo Martins Ballestrassi e suas empresas onde é sócio/dono:
- PIX Negócios e Participações Ltda
.2) Dinamika Participações Ltda e seus sócios/administradores:
- Christianne Roncatti Bittencourt Moraes Rego – Administrador
- Miguel Orosco – Administrador
- Pepsico do Brasil LTDA – CNPJ: 31565104000177 – Sócio Representado por Valdemir Bertolo – Administrador
- Valdemir Bertolo – Sócio
.2) H. S. Participações e Investimentos S/A e seus sócio/administradores:
- Hilario Shunck – Presidente
- Renan Fassarella Shunck – Diretor
.3) Imobiliária Nossa Senhora das Graças Ltda e seus sócios/administradores:
- Edir Conceicao Santana – Sócio
- Andre Luiz Costa – Sócio-Administrador
- Joao Eduardo Santos Perpetuo – Sócio
- Erio da Rocha Matildes – Sócio
.4) Maria Madalena Soroldoni de Oliveira e as empresas onde é sócia:
- .a) Fazenda Moendas Empreendimentos e Participações Imobiliárias Ltda
- .b)) SPE Construção do Edifício Residencial e Comercial Grand Ville Ltda
.5) Praia Construtora e Investimentos Ltda e seus sócios/administradores:
- Sócio-Administrador Eduardo Martins BallestrassI
.6) Sow Sports Produções e Eventos Ltda e seus sócios/administradores:
- Bruna Souza Alvarenga
- Maria Aparecida dos Santos Souza Alvarenga
- Sergio Ricardo Alvarenga
- Thiago Souza Alvarenga
.7) TRF Participações Ltda e seus sócios/administradores:
- Andre Suaid Fachetti – Sócio-Administrador
- Antonio Tadeu Fachetti – Sócio-Administrador
- Priscilla Suaid Fachetti – Sócio
- Daniel Suaid Fachetti – Sócio-Administrador
- Raquel Suaid Fachetti – Sócio
.8) Uliana Empreendimentos Imobiliários Ltda
- Rita Uliana – Sócio-Administrador
O que dizem partidos e políticos de esquerda
Nesta semana, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) no Espírito Santo emitiu a seguinte nota em suas redes sociais sobre Vila Esperança: “O PSTU-ES se solidariza com as famílias da ocupação em Vila Esperança, em Vila Velha, que lutam pelo direito à moradia. Defendemos a regularização da ocupação e políticas que garantam moradia digna para todos. Reafirmamos nosso compromisso com essa luta e contra qualquer repressão aos que reivindicam seus direitos.”
A deputada Camila Valadão (PSOL) também usou suas redes sociais para expressar sua preocupação com as famílias da ocupação: “Apresentei à prefeitura de Vila Velha indicação de adesão ao Novo PAC para garantir moradia digna aos moradores da Ocupação Vila Esperança! A iniciativa busca assegurar o direito à habitação para mais de mil famílias que hoje vivem a iminência de uma reintegração de posse determinada pelo Tribunal de Justiça do Espírito Santo. Nosso mandato segue atento e junto na luta com o povo de Vila Esperança!”
Na Assembleia Legislativa do Espírito Santo, o deputado estadual João Coser (PT), fez a seguinte afirmação: ““O governo do Estado pode aportar recursos para fazer a desapropriação e acolher essas famílias e dar a elas vida digna. A maioria lá ganha muito pouco, mas pelo menos tem onde viver. Eles querem ficar ali, que é onde tem para morar.”
Já a deputada estadual Iriny Lopes (PT) fez a seguinte afirmação: “Nós temos experiência em ver essas ações de despejo depois de as pessoas estarem estabelecidas. Essa mudança de concepção, de ser uma área destinada à ocupação urbana para depois retirar essa prerrogativa daquela reserva de área, para ser qualquer outra coisa, inclusive venda para atividades comerciais, é um ato insensato. De não levar em consideração todas aquelas famílias que estão lá.”