Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que mais de 50% das infecções bacterianas fatais estão se tornando resistentes a tratamento; 20% dos casos de E.coli, comum em infecções do trato urinário, apresentaram resistência; chefe da OMS pede mais pesquisas e dados para uma resposta de saúde eficaz
Mais de 50% das infecções bacterianas que podem causar mortes estão se tornando resistentes a tratamento, revela um novo relatório da Organização Mundial da Saúde, OMS, publicado nesta sexta-feira. Segundo o estudo, os altos níveis de resistência a tratamento são observados em bactérias que causam infecções na corrente sanguínea no ambiente hospitalar. O levantamento levou em conta dados 87 países.
Cepas como Klebsiella pneumoniae e Acinetobacter spp são as mais recorrentes e as infecções requerem tratamento com carbapenêmicos, medicamentos utilizados como último recurso. No entanto, 8% das infecções causadas por Klebsiella pneumoniae apresentam resistência a este recurso, aumentando o risco de morte. O chefe da OMS, Tedros Ghebreyesus, afirma que a resistência antimicrobiana prejudica a medicina moderna e coloca milhões de vidas em risco.
Medicamentos ineficazes
O estudo alerta que outras infecções bacterianas também estão se tornando cada vez mais resistentes aos tratamentos, com mais de 60% das infecções por Neisseria gonorréia, uma doença sexualmente transmissível, mostrando resistência à ciprofloxacina, um dos antibacterianos orais mais amplamente utilizados.
Além disso, mais de 20% dos casos de E.coli, o patógeno mais comum em infecções do trato urinário, apresentaram resistência à ampicilina e ao cotrimoxazol, medicamentos de primeira linha, bem como tratamentos de segunda linha, conhecidos como fluoroquinolonas.
E.coli, salmonella e gonorréia
Embora a maioria das tendências de resistência antimicrobiana tenha permanecido estável nos últimos quatro anos, as infecções da corrente sanguínea devido a infecções por E.coli, Salmonella spp e gonorréia resistentes aumentaram pelo menos 15% em comparação com as taxas de 2017.
Segundo a OMS, mais pesquisas são necessárias para descobrir por que a resistência aumentou e até que ponto as infecções estão relacionadas a hospitalizações e tratamentos com antibióticos durante a pandemia de Covid-19. A crise de saúde também impediu que vários países reportassem os dados de 2020.
Testes de microbiologia
Tedros diz que para entender o tamanho da ameaça global e trabalhar em uma resposta de saúde pública eficaz, serão necessários mais testes de microbiologia e levantamento de dados com qualidade em todos os países, “não apenas nos mais ricos”.
Novas análises mostram que os países com menor cobertura de testes, principalmente países de baixa e média rendas têm mais chances de relatar taxas de resistência significativamente mais altas.
Uso de antibióticos
Isso pode ocorrer em parte porque apenas um número limitado de hospitais de referência em muitos países de baixa e média renda fornecem dados para o relatório. Estes centros geralmente cuidam dos pacientes mais doentes que podem ter recebido tratamento antibiótico anterior.
Enquanto isso, 65% dos 27 países relatores atingiram a meta da OMS de garantir que pelo menos 60% dos antibióticos utilizados sejam do grupo de medicamentos que são ao mesmo tempo eficazes em uma ampla gama de infecções comuns e com baixo risco de criar resistência.
No entanto, a cobertura insuficiente de testes e a fraca capacidade laboratorial, principalmente em países de baixa e média renda, dificultam a interpretação das taxas de resistência.