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ONU afirma que responsáveis por ataques no Brasil devem sofrer consequências


Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, revela ter ficado chocado com imagens das manifestações em Brasília; chefe da ONU diz confiar na democracia brasileira e nas instituições nacionais


O secretário-geral da ONU, António Guterres (centro), comenta o ataque às instituições democráticas do Brasil em entrevista coletiva no Palais de Nations, em Genebra | Foto: Daniel Johnson/ONU

O secretário-geral da ONU voltou a comentar sobre os ataques às sedes dos Três Poderes, em Brasília, capital do Brasil, atribuídos a apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Falando a jornalistas, em Genebra, António Guterres afirmou que os autores dos eventos do último domingo precisam enfrentar as consequências, de acordo com a lei.

O chefe da ONU disse estar “absolutamente convencido” que o Brasil irá lidar com a situação “com uma responsabilização adequada” e que o funcionamento democrático nacional irá seguir em frente. “Eu acho que a lei deve ser respeitada. Quando a lei é desrespeitada, acho que quem desrespeita a lei deve sofrer as respectivas consequências de acordo com a própria lei. O Brasil e muitos países democráticos são um Estado de direito. O que importa é que o Estado de Direito funcione e a democracia siga em frente.”

Ele disse ter ficado chocado com os eventos do domingo, mas destacou que confia no Brasil e nas suas instituições. Guterres adicionou que está totalmente confiante que os brasileiros darão uma resposta a questão. Em sua conta no Twitter, o chefe da ONU também condenou a agressão às instituições democráticas e afirmou que a vontade do povo brasileiro e o funcionamento da democracia devem ser respeitados.

Embaixador do Brasil na ONU, Ronaldo Costa Filho, fala na sede da entidade internacional, em Nova York, sobre os atos terroristas que ocorreram em Brasília neste último domingo (8) | Vídeo: Divulgação/ONU/YouTube

Mais reações

O chefe do Escritório de Direitos Humanos da ONU, Volker Turk, condenou “com veemência” o “atentado ao coração da democracia brasileira”. Ele afirmou que a violência do domingo foi o desdobramento final da distorção continuada dos fatos e da incitação à violência e ao ódio por parte de atores políticos, sociais e econômicos que têm fomentado uma atmosfera de desconfiança, divisão e destruição ao rejeitar o resultado de eleições democráticas

Turk lembrou que aceitar o resultado de eleições livres, justas e transparentes está no centro dos princípios democráticos fundamentais. O alto comissário adicionou que alegações infundadas de fraude eleitoral minam o direito à participação política.

O embaixador do Brasil na ONU, Ronaldo Costa Filho, declarou que o governo brasileiro repudia “com a maior veemência a violência cometida ontem contra os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário em Brasília”.

Ele agradeceu as mensagens de apoio e solidariedade recebidas, inclusive de o secretário-geral António Guterres. Ronaldo Costa Filho afirmou que está confiante de que a força das instituições brasileiras permitirá superar os violentos e lamentáveis incidentes de ontem e avançar com a força das instituições democráticas.

Agressão à jornalistas

Segundo o escritório de direitos humanos, pelo menos oito jornalistas foram agredidos ou tiveram seus equipamentos destruídos. Para Volker Turk, a violência deixou os profissionais impossibilitados de cumprir sua “função essencial de informar os brasileiros e o mundo sobre o que estava acontecendo”.

Ele destacou que os ataques confirmam uma tendência de aumento das agressões físicas contra jornalistas num contexto de elevados níveis de violência política. Assim, Turk pediu às autoridades para que conduzam investigações rápidas, imparciais, eficazes e transparentes sobre a violência de domingo e responsabilizem os envolvidos. O alto comissário afirmou que está pronto para apoiar o novo governo a tratar das questões de direitos humanos que o Brasil enfrenta.

Danos e detidos

Após os ataques ao Palácio do Planalto e às sedes do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional, os veículos nacionais afirmaram que pelo menos 204 pessoas teriam sido presas por envolvimento nos eventos. Segundo a imprensa brasileira, na manhã desta segunda-feira, o Ministério da Justiça teria detido 1,2 mil apoiadores do ex-presidente que seguiam em acampamentos na capital do país.

Ainda nesta segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu com chefes dos Poderes. Além do chefe de Estado, a ministra e presidente do STF, Rosa Weber, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira e o presidente em exercício do Senado, Veneziano Vital, assinaram uma nota conjunta condenando os atos.

O texto afirma que os poderes estão unidos para que as providências institucionais sejam tomadas, nos termos das leis brasileiras. Os representantes ainda pediram a sociedade que mantenham “a serenidade, em defesa da paz e da democracia em nossa pátria. A nota conclui que o “país precisa de normalidade, respeito e trabalho para o progresso e justiça social da nação”.