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Orgulho na Microbiologia: Rede global reúne pesquisadores LGBTQIAPN+


Plataforma Pride in Microbiology Network conecta microbiologistas nacionais e estrangeiros membros da comunidade


Orgulho na Microbiologia: Rede global reúne pesquisadores LGBTQIAPN+ | Imagens: divulgação e redes sociais

Com a proposta de ser um espaço para pesquisadores da área da Microbiologia em diferentes estágios de carreira compartilharem experiências e desafios enfrentados enquanto membros da comunidade LGBTQIAPN+, surgiu a iniciativa global Pride in Microbiology (PiM) Network. Cofundada pelo professor do Instituto Biomédico da Universidade Federal Fluminense (UFF), Bruno Francesco Rodrigues de Oliveira, além de constituir uma rede engajada em trazer visibilidade e criar sentimento de pertencimento entre pesquisadores queer de todas as áreas da Microbiologia, a PiM Network também destaca os trabalhos realizados por esses cientistas e fornece um espaço em que possam compartilhar as próprias trajetórias acadêmicas.

O docente, que atua como Society Champion — espécie de embaixador da Microbiology Society  —, revela que os esforços para construir a rede criada em 2023 surgiram três anos antes, quando a própria comunidade acadêmica da Microbiology Society reconheceu a falta de ações de inclusão e diversidade entre os seus membros afiliados e iniciou uma busca por real equidade no espaço científico.

“Eles começaram a fazer levantamentos sobre membros, principalmente mulheres, e os desafios que enfrentavam enquanto microbiologistas na academia, na indústria e em outros setores em que poderiam estar trabalhando. Naturalmente, isso se estendeu para a comunidade LGBTQIAPN+”, explica.

Pesquisa

Em 2020, houve uma pesquisa ampla para coletar dados dos membros da sociedade acadêmica para traçar seu perfil geral, seguida de outra especificamente para os pesquisadores e pesquisadoras afiliados à Microbiology Society pertencentes à comunidade LGBTQIAPN+. “Uma coisa que surpreendeu foi o resultado desse último levantamento. Tivemos um número baixíssimo de respostas, menos de 70, e a maioria era homens gays, brancos e majoritariamente do Reino Unido”, conta o professor.

Após uma entrevista em 2021 para a Microbiology Society no Dia do Orgulho LGBTQIAPN+ na área de Ciências, Tecnologia, Engenharias e Matemática (STEM), celebrado internacionalmente em 18 de novembro, de Oliveira foi convidado em conjunto com outros Champions para organizar um evento de networking entre microbiologistas integrantes da sociedade acadêmica em suas conferências anuais realizadas no Reino Unido. O primeiro evento aconteceu na Annual Conference em abril de 2022 e resultou no “Queer in Microbiology: A Conversation”, em novembro daquele mesmo ano.

Foi a partir desse evento que surgiu a PiM Network, fruto de uma colaboração entre Landon L. Getz, pesquisador de pós-doutorado da Universidade de Toronto, e Edel Pérez-López, professor associado da Université Laval. A proposta responde à ausência de menção da comunidade LGBTQIAPN+ dentre os grupos historicamente marginalizados e sub-representados:

Rede de aproximação dos cientistas

“A princípio, temos o objetivo principal de trazer juntos todos os microbiologistas que são da comunidade LGBTQIAPN+. A PiM Network é uma rede para aproximar esses cientistas, em que eles possam tanto colaborar, pensando em pesquisas científicas, quanto também compartilhar os principais desafios que encontram nos seus ambientes de trabalho, do preconceito até a falta de acesso a oportunidades de financiamentos”, apresenta o pesquisador.

Segundo de Oliveira, o projeto tem grande importância por questionar a pouca (ou ausente) diversidade de identidade de gênero e sexualidade na academia, ainda um ambiente muito elitista e conservador.

“Para as pessoas que não são da comunidade, às vezes não fica claro o impacto que tem você compartilhar um pouco sobre a sua vida. Acaba que muitas pessoas, devido aos ambientes de trabalho, ‘colocam o assunto em uma caixinha’, por medo de preconceito, de retaliação, de não ser aceito ou de perder uma oportunidade profissional. Sabemos que isso acontece muito e já foi provado que existe uma tendência das pessoas LGBTQIAPN+ desistirem de seguir uma pós-graduação ou até mesmo uma carreira como pesquisadores por conta dos preconceitos vividos”, argumenta. O professor ainda destaca que esse ponto se torna mais grave entre grupos específicos da comunidade, particularmente  entre pessoas transexuais e travestis.

Outra questão levantada é a falta de reconhecimento da plataforma no cenário nacional, sendo muito mais divulgada, comentada e elogiada no exterior. Para o pesquisador, um dos motivos por trás dessa situação é o desinteresse da comunidade acadêmica no Brasil, que não possui o mesmo engajamento com questões relacionadas ao debate sobre gênero e sexualidade, especialmente nas ciências “duras”, como as áreas de Ciências Biológicas e Exatas.

“No Brasil, fica muito claro que as Ciências Sociais, em particular as Ciências Sociais Aplicadas, e as Artes, em geral, sempre foram espaços mais abertos para a comunidade e para todos os grupos considerados historicamente marginalizados. Mas temos as famosas ciências ‘duras’, em que isso não é discutido e justamente por esse motivo começamos a falar tanto sobre inclusão na Microbiology Society”.

O professor celebra que, no momento, participa das conversas iniciais para a criação de comissões voltadas para desenvolvimento de ações e políticas voltadas para a comunidade LGBTQIAPN+ na UFF, junto à Coordenação de Equidade e Inclusão da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PROAES-UFF). Ele ressalta que esse contato com a Coordenação de Equidade e Inclusão foi graças a uma mediação conduzida pela professora Letícia de Oliveira, do Departamento de Fisiologia e Farmacologia também do Instituto Biomédico da UFF, à frente da Comissão Permanente de Equidade de Gênero (CPEG) da universidade e atualmente presidente da Comissão de Equidade, Diversidade e Inclusão na Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). “Quando vemos o impacto, o feedback positivo que tem as iniciativas, ficamos muito felizes, apesar do cansaço pós-trabalho. Algo que compreendi com o tempo é que aos pouquinhos a mudança vai sendo feita e não podemos desistir”, defende de Oliveira.

Atualmente, a Pride in Microbiology Network reúne cerca de 100 pesquisadores. Um dos principais desafios, de acordo com o docente, é justamente encontrar pessoas engajadas o suficiente que queiram participar ativamente da rede. Para isso, além do site, a plataforma conta com um canal do Discord para a comunicação entre os pesquisadores membros, um perfil no Instagram (@prideinmicro) e um no X (@prideinmicro), antigo Twitter.

Quem é o professor Bruno Oliveira

Bruno Francesco Rodrigues de Oliveira é professor de Bacteriologia do Departamento de Microbiologia e Parasitologia (MIP) do Instituto Biomédico (CMB) da Universidade Federal Fluminense (UFF), onde fundou e coordena o Laboratório de Bacteriomas Marinhos (BacMar). Seu grupo de pesquisa se dedica a caracterização da diversidade, genômica e exploração do potencial biotecnológico de microbiomas procarióticos associados a holobiontes marinhos, com foco no hospedeiro macroalga. Atua como Society Champion, membro eleito da Divisão Procariótica (ProkD) e membro cooptado do Members Panel da Microbiology Society, além de ser membro da International Marine Biotechnology Association (IMBA) e da Applied Microbiology International (AMI). É um dos cofundadores e coordenadores da Pride in Microbiology Network, uma iniciativa global que procura estabelecer mentoria e construir uma rede engajada em trazer justiça e sentimento de pertencimento para os membros da comunidade LGBTQIA+ em todas as áreas da Microbiologia.

Texto: Assessoria de Imprensa da Universidade Federal Fluminense (UFF)