Segundo a Sesa-ES, o paciente Lorenzzo Bom Costa, de nove anos, de Vila Valério (ES), recebeu através do SUS um tratamento inovador para leucemia no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), um estabelecimento particular e um dos mais caros do Brasil
Uma parceria que o Sistema Único de Saúde (SUS) promove, por meio de um dos seus princípios fundamentais, que é a universalidade, entre os centros de saúde de todo o País proporcionou que um morador de Vila Valério, no norte do Espírito Santo, pudesse receber um tratamento de terapia imunológica inovadora para a leucemia em São Paulo. A terapia conhecida como CAR T-Cell (Chimeric Antigen Receptor T-Cell) foi realizada em agosto deste ano, no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), no paciente Lorenzzo Bom Costa, de nove anos, que trata, desde 2019, a Leucemia Linfoide Aguda tipo B (LLA) no Hospital Estadual Infantil Nossa Senhora da Glória, em Vitória.
Lorenzzo foi a primeira criança no Hospital Albert Einstein a ter acesso à terapia CAR T-Cell, que tem mostrado resultados promissores, especialmente para pacientes com LLA. O tratamento acontece por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), que é uma parceria estratégica entre o Ministério da Saúde e hospitais filantrópicos de reconhecida excelência no país, e busca o fortalecimento do SUS.
Parceria
De acordo com o diretor-geral do HINSG, Clio Zanella Venturim, a parceria entre os hospitais visa reduzir as desigualdades no acesso a tratamentos de saúde, garantindo que tecnologias de ponta, como a terapia a qual o Lorenzzo recebeu, estejam disponíveis. “Além disso, revela o tamanho da importância da medicina integrada e da colaboração entre instituições de excelência, incentivando a troca de experiências, com estudos de casos, garantindo o melhor tratamento para pacientes do SUS com doenças complexas”, disse.
A terapia CAR-T Cell consiste em modificar geneticamente células T do próprio paciente para que reconheçam e destruam as células cancerígenas, tornando-se uma opção para pacientes com a doença recidivada ou refratária, como era o cenário do pequeno paciente que, aos nove anos, já havia passado pelo tratamento quimioterápico, no Núcleo de Trabalho em Onco-Hematologia (NT-OH) do HINSG e por um transplante de Medula Óssea (TMO), também no Albert Einstein, tendo a doença recidivada por duas vezes.
O pequeno Lorenzzo já está de volta ao Espírito Santo e tem realizado acompanhamento semanal no HINSG, onde é assistido por uma equipe multidisciplinar no Núcleo de Trabalho em Onco-Hematologia. Além disso, ele é acompanhado também pela equipe do Hospital Albert Einstein. “Ele segue algumas restrições e tem comparecido ao HINSG uma vez por semana, mas eu só tenho a agradecer, nossos corações se encheram de esperança. Agradecer também ao SUS, porque todo o tratamento foi realizado por meio dele”, celebrou Maureti Jones Bom, mãe do paciente.
Esforço de toda equipe
A ida de Lorenzzo Bom Costa para São Paulo, onde recebeu a terapia CAR T-Cell no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), foi resultado do esforço de toda a equipe do Núcleo de Trabalho em Onco-Hematologia (NT-OH), do Hospital Estadual Infantil Nossa Senhora da Glória. Para recebê-la, era preciso que o paciente contemplasse todos os protocolos necessários e, com apoio dos profissionais, que atuaram com agilidade e comprometimento para garantir que Lorenzzo estivesse em condições clínicas adequadas para realizar o procedimento, como conta a chefe do NT-OH/HINSG, Tânia Bitti.
De acordo com a profissional, foram necessários inúmeros esforços, como a estabilização do quadro clínico e a adequação do tratamento quimioterápico, de modo a permitir que o procedimento fosse realizado; o controle das infecções; o suporte nutricional; o acompanhamento social e psicológico, tudo para que o paciente chegasse ao tratamento em sua melhor condição possível.
“O comprometimento com a continuidade do tratamento, mesmo diante das adversidades, reforça a dedicação da equipe do Núcleo em proporcionar o melhor cuidado ao paciente, aproveitando todas as possibilidades terapêuticas disponíveis”, explicou Tânia Bitti.
Ela ressaltou ainda que o processo de tratamento com CAR T-Cell é considerado complexo e que exige que a família esteja bem informada sobre cada etapa, riscos e benefícios envolvidos. “E foi a integração do NT-OH/HINSG com o hospital em São Paulo que possibilitou que a família fosse para o procedimento orientada, segura e confiante quanto ao procedimento”, disse a chefe do NT-OH/HINSG.
Sobre a terapia Car T-Cell
A terapia CAR-T Cell utiliza células do sistema imunológico (conhecidas como linfócitos T) extraídas do paciente e geneticamente modificadas em laboratório para reconhecer e atacar as células tumorais. Trata-se de um procedimento médico de grande complexidade.
De acordo com a hematologista pediátrica Julia Lopes Garcia, que atua na equipe de Hematologia, Transplante e Terapia Celular do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), em São Paulo, o primeiro paciente a receber terapia CAR T-Cell de modo experimental foi nos Estados Unidos, em 2010 e, desde lá, o tratamento vem representando avanços importantes para a Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA).
No Brasil, o uso de CAR T-Cell está em fase de expansão. Em novembro de 2022, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) aprovou o primeiro tratamento com CAR-T-Cell no País, o Kymriah, para LLA B na faixa etária de 6 meses a 25 anos, aos pacientes com a doença recidivada ou refratária.
Tratamento complexo e de alto custo
Antes do Lorenzzo Bom Costa ser selecionado e passar a ser a primeira criança do Hospital Albert Einstein a receber o Car T-Cell, a hematologista pediátrica Julia Lopes Garcia, a terapia já havia sido iniciada com três pacientes adultos, por meio do projeto “Estudo Fase 1 – CARTHIAE”. A profissional ressaltou ainda que, embora seja um tratamento complexo e de alto custo, grandes centros têm se unido para mudar essa realidade. “Existe um movimento muito grande com a Fundação Oswaldo Cruz, a ANVISA e grandes centros, como o Albert Einstein, onde trabalho, entre outros, para que o tratamento se torne mais acessível”, disse.
Segundo a médica, a unidade possui uma linha de pesquisa ativa na produção local de CAR-T em laboratório, liderado pela pesquisadora Lucila Kerbauy. “É uma grande esperança nesses casos. Claro, nada é 100%, mas estamos muito felizes com os resultados. E Lorenzo continua, ainda, sob o nosso suporte e do HINSG, e a gente deseja e trabalha para que tudo corra bem”, contou Julia Lopes Garcia.