Integrantes de iniciativas de difusão da ciência comentam importância desse feito para a sociedade
Por Thais Cardoso/Jornal da USP
A divulgação científica passou a ter um papel ainda mais relevante na sociedade com a pandemia da covid-19. Cientistas passaram a ocupar espaço em todos os tipos de mídia, até mesmo em bancadas de telejornais. No último ano, o tema também se destacou na pauta do USP Analisa e volta novamente a partir desta semana, em uma entrevista em duas partes, desta vez com a professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, Carolina Aires, o integrante do projeto de divulgação científica Ilha do Conhecimento, Robson Amaral, e o integrante do projeto de divulgação científica Vidya Academics, Wasim Syed.
Amaral destaca que atualmente a própria sociedade começa a se interessar pelo que os cientistas fazem, apesar de um distanciamento historicamente construído. “Ainda hoje, se você joga no Google ‘cientistas’, você vai ver aquela imagem muito caricata, que sempre vai ser um estereótipo de alguém de branco, que faz alusão ao jaleco, dentro de um laboratório. A pandemia foi uma brecha que a gente encontrou para melhorar essa conversa e mostrar para a sociedade o que realmente o cientista faz dentro do laboratório e, mais ainda, quem financia a pesquisa, que é a sociedade”, diz.
Fake news
Carolina explica que muitas iniciativas de divulgação científica durante a pandemia vieram do inconformismo dos cientistas em receber tantas fake news ao mesmo tempo. “Eles perceberam que, adaptando, usando analogias para explicar conceitos complexos, eles conseguem ser ouvidos e entendidos, que isso tem uma repercussão. Porque a gente está acostumada a falar. Fala o tempo inteiro. Mas o falar simples é que é difícil, o falar para alguém que não faz parte da sua bolha. E a pandemia meio que explodiu as bolhas”, afirma a professora.
Para Syed, embora grande parte das fake news sobre covid-19 já tenha sido esclarecida, o conteúdo ainda encontra dificuldades para chegar à população. Além de barreiras cognitivas, o contexto político e social também pode funcionar como bloqueio. “No momento em que você tem um governo que tem disseminado muitas fake news, fica difícil para a população saber o que é verdade ou o que é mentira. E quando você tem uma desestabilização das instituições que são os vetores da ciência, por exemplo, a Anvisa, ou outras instituições, como o Ministério da Educação, a gente perde totalmente a credibilidade para conversar com a população”, alerta ele.